Com meia equipa de fora, o Sporting manteve o hábito de jogar e ganhar, oferecendo aos seus adeptos uma vitória sem espinhas, com momentos de puro entretenimento e com o extra de acabar com seis jogadores da formação em campo

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A equipa vai sofrer alterações, mas tenho a certeza de que todos vão dar o máximo para jogar da forma que temos feito nos últimos desafios, com muita energia. É isso que quero voltar a ver amanhã”. E foi isso que se viu. As palavras, coisa tantas vezes menorizada por quem acha que quem vai lá para dentro tem mais é que jogar como se fosse um robot e que a parte emocional é uma piada para o Mário Crespo fazer na tv, passaram a actos e o Sporting entrou com vontade de engolir os ucranianos do Vorskla.

Surpresos, que isto de levar com uma equipa que ainda há dois meses andou 90 minutos a fazer figura de corpo presente e agora parecia ter tomado a poção do Asterix, os homens de leste foram encostados lá atrás e de lá de trás só saíram quando Montero os fez encaixar o primeiro golo. Estavam decorridos 17 minutos e o carrossel levava-nos numa deliciosa voltinha onde coube um calcanhar do Fernandes, um cruzamento à maneira do Acuña e uma emenda à matador de Fredy, rapazinho que de tão feliz por poder entrar neste playground verde e branco até parece o Lou Diamond Phillips, no La Bamba.

Mas para para bailar la bamba, já o dizia a canção, se necesita una poca de gracia. Ora, vai daí, o Fredy, gajo com a 10 nas costas, resolve fazer uma recepção candidata a recepção do ano, daquelas em que o peito parece uma almofada e a bola desliza, sonolentoperfeitinha para o pé, antes de passar para o pé do Mané, que arranca pelo meio, lança o Fernandes pela direita e este cruza a régua e esquadro para o centro da área, onde aparece o Miguel Luís a fazer o 2-0 antes que o Coates o fizesse.

Sim, leram bem: o Coates. Lá ia o patrão Sebastião por ali fora, feliz e contente, maior que quase toda a gente, envolvido nesta coisa de jogar à bola de pé para pé, a um dois toques, em que quem não se mexe é um ovo podre e era o que faltava um calmeirão daqueles deixar os “caga tacos” chamarem-lhe uma coisa dessas. Sorrisos, muitos, depois de 10 minutos em que o Sporting abrandou a pressão alta e os ucranianos puderam passar do meio campo e ensaiaram dois ou três remates de longa e meia distância e permitiram às estações televisivas filmar o seu avançado, o Careca.

Mas como cantava o Bryan Adams, e não querendo fazer qualquer trocadilho capilar, For a couple of bucks you get a weird haircut, And waste your life away, Around the world or around the block, Everywhere I go the kids wanna rock!. E o Jovane quase marcou, antes do Montero obrigar um tal de Dallku (não vale piadas) a marcar na própria baliza. “Assim não queremos brincar mais!”, terão dito os poltavenses ao seu treinador, ao intervalo, e o gajo não foi de modas: “mandem um abaixo!”

Calhou a fava ao Montero, que o Deus para quem ele aponta quando marca, o livre e guarde de ter uma lesão demasiado grave, e saiu o brinde ao Pedro Marques, que despediu o fato de treino mais depressa do que o Petrovic olha para o lado, levou um calduço do sorridente Keizer e foi lá para dentro jogar que nem gente grande. Depois veio o Thierry Correia e depois o Bruno Paz e, caramba, de repente está o Thierry, o Miguel Luís, o Bruno Paz, o Mané, o Pedro Marques e o Jovane a divertirem-se à grande durante quase 20 minutos que deixam qualquer formação lover com um demorado sorriso no rosto e com a mente a vergastar todos aqueles que se esquecem de olhar para dentro antes de gastar dinheiro mal gasto lá fora.

Não houve mais golos, é verdade, embora Mané, Marques, Thierry e Jovane tenham estado lá perto, mas houve houve uma roleta do Fernandes que parecia o Zidane e mais 90 minutos de bom futebol com o Keizer a voltar a dizer-nos que isto é simples. I’ve seen it all from the bottom to the top, Everywhere I go the kids wanna rock ou, em português, “prefiro ganhar 3-2 do que 1-0”. Ah, holandês de uma figa, que se pensas que vens para cá armado em Toranja Mecânica hás-de engolir essas palavras com perspicácia dos misters lusitanos! Ou, então, não.

Kick down the barricades
Listen what the kids say
From time to time people change their minds
But the music is here to stay

Ficha de jogo
Sporting-Vorskla Poltava, 3-0

6.ª jornada da fase de grupos da Liga Europa
Estádio de Alvalade, em Lisboa
Árbitro: Manuel Schuettengruber (Áustria)

Sporting: Salin, Ristovski (Thierry Correia, 64′), Coates, André Pinto, Acuña, Petrovic, Miguel Luís, Bruno Fernandes (Bruno Paz, 73′), Mané, Montero (Pedro Marques, 59′), Jovane
Suplentes não utilizados: Renan, Jefferson, Diaby, Abdu Conté
Treinador: Marcel Keizer

Vorskla Poltava: Oleksandr Tkachenko, Igor Perduta, Ardin Dallku (Kolomoets, 45′), Olexandr Chyzhov, Taras Sakiv, Pavlo Rebenok, Oleksandr Skliar, Volodymyr Chesnakov, Artur (Kane, 77′), Artem Habelok, Nicolas Careca (Mykhailo Sergyichuk, 67′)
Suplentes não utilizados: Bohdan Shust, Marian Mysyk, Vadym Sapai, Yevhenii Martynenko
Treinador: Vasyl Sachko

Golos: Montero (17′), Miguel Luís (35′), Dallku (ag, 44′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Petrovic (25′)