A Assembleia Geral do passado Sábado era obrigatória, pois é dado o direito aos sócios com punições disciplinares graves de recorrerem à mesma para confirmar ou levantar as suspensões/expulsões decididas pelo órgãos disciplinares do clube. Confesso que nem a leigo chego em matérias processuais e a minha leitura do estatutos é meramente aritmética e superficial. Mas é sempre bom, quando se é julgado pelos pares e não por corpos que podem não ser totalmente representativos do espectro de vontades dos associados.

Os sócios foram chamados a decidir e decidiram. Apesar de longe de unanimidades, ficou clara uma maioria que confirmou todas as suspensões e as expulsões de Elsa Judas e Trindade Barros. A partir do momento em que o voto foi livre, em que não existiram indícios de desvirtuação na contagem dos votos, não há outra solução que não seja o respeito total pela vontade da maioria. É preciso que ninguém se esqueça que o Sporting Clube de Portugal é regido por duas entidades: Um clube e uma SAD. Se o clube controla a SAD, então podemos (ainda) afirmar que o poder no Sporting está fundado e dependente do associativismo, ou seja, do coletivo dos sócios.

Repito, para que todos entendam bem: coletivo. Isto quer dizer que, uma opinião dissonante ou várias, desde que não preencham uma maioria, são apenas isso – uma opinião divergente, não materializam a capacidade de concretizar mudanças ou decisões, mas podem contribuir doutra forma continuando a ser válidas, desde que respeitem o que a maioria decidiu. Chama-se a isto democracia. Devo dizer-vos que acho perigoso e altamente prejudicial a constituição de oposições activas e manifestamente constituídas com o firme propósito de danificar a imagem das direcções vigentes.

Fui contra esse expediente quando as “casas de pasto” atacavam à surdina a legitimidade da direcção de BdC, sou igualmente contra os que agora repetem exactamente o mesmo padrão de comportamento e acção em relação a Varandas. Não votei no candidato vencedor das eleições, por muitas razões que manifestei na altura devida, mas aceitei o resultado das eleições e como sempre farei, decidi deixar de promover facções e interpretar o papel de sócio atento, crítico, mas não oposicionista. Por mais que sinta que foram cometidas algumas injustiças nos últimos meses, elas foram sempre falhas na hora da verdadeira decisão. Quer pelos tribunais, quer pelo voto maioritário dos sócios, a verdade é que a minha opinião mesmo sendo contrária a essa expressão majoritária, não acolheu representatividade nos meus pares.

Respeito a opinião de cada sócio. Entendo quem não é capaz de ultrapassar o facto de todas estas suspensões e expulsões terem sido decididas por um órgão concretizado por Jaime Marta Soares, um órgão composto por sócios que à partida estariam impossibilitados de exercerem um julgamento despido de preconceito e motivação. Entendo que não é factual nenhuma das provas apresentadas que sustentaram as notas de culpa e entendo também que está demasiado encoberta de precipitação e legitimidade dúbia, uma suspensão que não deu direito de defesa aos visados.

Tanto quanto respeito o argumento da gravidade de contornar os estatutos, criando órgãos ad-hoc para fazer bypass ao poder (contestável e errante) da MAG. Muito poucos sócios do Sporting conseguirão ter opinião sustentada e clara sobre a irregularidade deste procedimento e a mim parece-me que existem linhas válidas de razão de ambas as partes. Os tribunais decidiram-se por uma delas e isso desempatou uma guerra que tinha de ser desempatada. A meu ver, a gravidade do gesto de criação de Comissões esgotou-se na sua perda de legitimidade, tal como seria semelhante se a decisão do mesmo Juiz tivesse sido inversa.

AG15

Ninguém foi capaz de realizar esta leitura e mais do que a estabilidade do Sporting, foi procurada a extinção de um ex-poder. Um erro do qual provaremos o sabor várias vezes até que o bom senso restitua a capacidade de alguns em procurar a “justiça” no futuro e não na perseguição de vendettas mal direccionadas.

Os que tanto clamaram de revolta contra os ditos “comportamentos de intolerância ditatorial” de Bruno de Carvalho, tomaram o poder e chacinaram com a violência que puderam quer a imagem quer o futuro de todo o antigo status quo do clube. Sinceramente acho que acabaram por prestar um péssimo contributo à tal “união” e “democracia” pelo qual se afirmaram defensores, um contributo que não nos deixará tão cedo predispostos a olhar para o dia de amanhã sem arrastar fantasmas e assombrações dos piores dias que o Sporting viveu na sua história.

Mas regresso ao princípio do texto. A minha opinião não foi a da maioria. O respeito deve-se à democracia e ao que todos decidimos no final. Posso e devo manter a minha opinião. Posso e devo expressá-la. Posso e devo mantê-la até que algo me prove o contrário da mesma. Mas não posso, nem devo achar que esta opinião se deve sobrepôr aos que não partilham da mesma.

Aliás preocupo-me com a escalada de gravidade que disputar o poder no Sporting está atingir. Ninguém aceita derrotas e a vitória só parece satisfatória quando acompanhada de total esvaziamento da condição de Sportinguista. Não isento Godinho Lopes dos vários factos que ficaram comprovados como actos que lesaram intencionalmente o clube, tanto quanto darei o mesmo julgamento a BdC se ficar provado comportamento semelhante. Mas urge definitivamente um maior respeito pelo Sporting e pelo que significar ser Sportinguista. A insegurança não pode justificar “limpezas étnicas” e esse é infelizmente o caminho que estamos a tomar.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca