Foi frio como a noite e tão complicado como saboroso. Deixando a nota artística toda para o golo de Miguel Luís, o Sporting ganhou ao Belenenses porque, mais em força do que em jeito, nunca deixou de acreditar que poderia ganhar e agarrar novamente o segundo lugar

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O que é que o João Paulo Seara Cardoso tem a ver com o Sporting? Nada. Ou tudo. O João é uma espécie de Jim Henson à portuguesa. Criou, ali antes do meio da década de 80, uma série animação com marionetas intitulada A Árvore dos Patafúrdios e sou gajo para apostar que existirão milhares de outros Sportinguistas que, vezes sem conta, utilizam a célebre música do genérico para banda sonora do dia a dia leonino.

Por incrível que pareça, por incrível que pareça, não há nada, não há nada, que não nos aconteça… ó sorte, malvada, que vida desgraçada ai ai ai ai… ai ai ai aiiiiiiiiiiiii

E agora que já vos fiz recuar no tempo e ficarem a cantarolar esta “malha” dos bichos esquisitos que vivem numa árvore, avançamos dois ou três aninhos para a outra série de animação com marionetas que celebrizaram o João. Chamava-se Os Amigos do Gaspar e trocava os bicharocos estranhos por “pessoas”. Há o Gaspar, claro, sempre acompanhado pelo Manjerico, e há os seus vários amigos, pré-adolescentes, divididos entre as brincadeiras e as questões mais adultas e partilhando cenário com o incrível guarda Serôdio com um bigode capaz de impor respeito ao do Ferenc Mészáros.

Ora, ontem, o Sporting foi um episódio de Os Amigos do Gaspar: fraquinho, com uma banda sonora e um genérico incrivelmente mau, mas que, ainda assim, nos prende a atenção e nos deixa com um sorriso no rosto.

No tempo de A Árvore dos Patafúrdios, o Sporting teria perdido o jogo de ontem. Provavelmente, teria sofrido um golo cedo, numa daquelas duas investidas iniciais do Belenenses SAD, muito provavelmente na segunda, só para levarmos um golo daquele gajo chamado Licá (e estes inícios caseiros com o adversário a mandar começam a preocupar). Depois, além de ter visto o redes que se diz poder vir para Alvalade fazer uma das defesas do ano que ainda agora começou, teria emperrado completamente naquela táctica adversária que puxava um trinco para terceiro central e mesmo assim ficava com dois trincos e mais outro médio e que depois lançava a bola para as correrias do velocistas. E, garantidamente, numa dessas correrias, aquele passe suicida do Acuña teria terminado com a bola dentro da nossa baliza e não a bater no poste, como bateu, a seguir, o remate do Nani, num daqueles lances que num daqueles jogos num daqueles tempos teria servido para nos agarrarmos aos desígnios da sorte e do azar quando, apesar dos 60 e muitos por cento de posse de bola, não tínhamos uma ideia para abrir a caixa de pastéis.

Fomos para o intervalo de barriga vazia, pois está claro, e no recomeço conseguimos ter a bola sem deixar o adversário criar perigo. Vai daí, dez minutos depois de se ter voltado a jogar, o Acuña recupera a bola, mete no Nani, este no Wendel, este no Gudelj, este no Mathieu, volta pró Nani, e pró Acuña, e pró Gudelj, olha o Wendel outra vez, o Coates entra no carrossel, dá para o Gaspar, este para o Wendel, este pró Gudelj, toca pró Nani que vê o Diaby e este espera pela entrada embalada do Gaspar que remata mal comamerda, tipo, com o tornozelo, mas pelo caminho aparece um manjerico vestido de azul que leva com a bola na tola e acabamos todos aos abraços! Que maravilha!

Keizer, com mais cara de Senhor Pires do que de Guarda Serôdio, estava pra lá de lixado com o pouco futebol jogado, mas apelava ao espírito de luta da rapaziada. O Nani reparava que tinha o símbolo ao contrário e pedia para sair e poder ir pedir explicações ao Paulinho, lá para dentro andava já o Raphinha, o Petrovic e depois viria o Jovane para sentir nas canelas o que sentiam os enervados jogadores da SAD do Restelo. E no meio deste quadro empastelado, um tal de Miguel Luís resolveu explicar a toda a gente que um dos grandes problemas da noite de ontem foi a ausência daquele gajo com ar de boneco chamado Bruno, que não só joga pra caralhinho como ainda remata e marca golos. Como? Apanhou-se à entrada da área e mandou uma buja lá para dentro que até fez o Silas repensar a sua teoria de que este Sporting é uma evolução do que se passava com o José Patafúrdio, esse monstruoso erro tauromáquico que, ontem, jamais nos teria permitido terminar o jogo em segundo lugar e a cantarolar um É tão bom uma amizade assim… Ai, faz tão bem saber com quem contar… Eu quero ir ver quem me quer assim… É bom pra mim e é bom pra quem tão bem me quer!