De um jogo que parecia fácil ao ligar do complicómetro, numa partida com arbitragem à moda antiga e com uma mão cheia de fantasmas a ensombrar o espírito dos adeptos leoninos. É a crónica do Sporting – Moreirense (2-1)

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My ghosts are not gone
They give the black core of my heart
Making words making sounds making songs

Lisa-Kaindé e Naomi Díaz são gémeas, são filhas do famoso percussionista cubano Miguel Anga Díaz, membro do incrível Buena Vista Social Club, e uniram vozes para nos oferecer enormes nuvens de algodão doce que se colam à alma como o açúcar te empeganha os dedos. Não faço ideia se alguma delas gosta de futebol, muito menos se alguma delas ouviu falar do Sporting Clube de Portugal, mas sei que, a caminho de casa, depois de um dia com um toque especial do qual mais tarde vos falarei, tive a certeza que seria delas a banda sonora perfeita para o que se passou ontem, em Alvalade.

Tinham passado dois minutos sobre um dos O Mundo Sabe Que mais na cadência de sempre, quando Nani abriu o activo. Canto batido por Acuña e o capitão a saltar sozinho na pequena área e a deixar o redes sem capacidade de reagir a tempo. Haveria melhor tónico? Não, com toda a certeza não, e os 30 mil e qualquer coisa presentes nas bancadas sorriram face à perspectiva de um regresso a casa com goleada.

Logo a seguir, Diaby desperdiçou o segundo de cabeça, com um gesto técnico miserável, mas pese a elevada posse de bola, só 20 minutos depois, aos 24, o Sporting voltou a acercar-se a sério da baliza: cruzamento de Acuña para o segundo pau, onde Dost não chega a tempo e Diaby aparece a voar, em peixinho, para grande defesa de Jonathan para a barra. A bola fica dentro, o redes berra a dizer aos colegas que Bruno Fernandes não a deixou ir para canto, Acuña manda lá para cima novamente, alguém corta, Ristovsky aparece em fúria a mandar uma bomba de primeira, o redes volta a defender e, na recarga, Bruno Fernandes não perdoa e faz o 2-0.

Estavam decorridos 26 minutos e na cabeça deste que vos escreve passava a imagem de um terceiro golo ainda antes do intervalo, permitindo que Francisco Geraldes e Luiz Phellipe tivessem a possibilidade de jogar toda a segunda parte. Esse terceiro golo não apareceu porque Bas Dost, ainda afectado pelo bruxedo que Veríssimo lhe lançou ao anular-lhe aquele golo limpo em Santa Maria da Feira, conseguiu mandar para fora o golo que Ristovsky correu meio campo para lhe oferecer. E, quem sabe, porque o mesmo Bas Dost foi carregado à entrada da área, quando se isolava a passe de Diaby (diz que também Acuña havia carregado um adversário dentro da área. Não vi no estádio, não encontrei imagens no resumo).

A bola continuou a roda, os jogadores do Sporting comportaram-se como uns infantis e não pararam o jogo para que o árbitro fosse obrigado a ir imediatamente ao VAR, e enquanto Alvalade assobiava a um só sopro o Moreirense apanhou toda a gente a dormir (demasiado patética a forma como Gudelj não interveio no lance) e reduziu para 2-1. O que se seguiu, foram dez penosos minutos por parte do Sporting, envolto num nervosismo inesperado e permitindo ao Moreirense acreditar que seria capaz de fazer algo que nunca mostrou ter capacidade para efectivamente fazer. Ah, e começando a colocar Mathieu como homem do jogo, tocando as sinetas a quem de direito para lhes lembrar que todo o dinheiro que se pense investir num Neto desta vida deve ser canalizado para garantir a continuidade do francês.

Rui Costa, um dos piores árbitros cá do burgo, terminava a primeira parte em grande e ao longo de todo o segundo tempo faria questão de nos recordar que esta era uma jornada perfeita para um rapaz do apito vir a Alvalade fazer um serviço digno de condecoração, pois um mau resultado leonino não só o distanciava de todos os da frente como aumentava a pressão para a final four da Taça da Liga.

E o ponto alto do que vos digo aconteceu aos 80 minutos, altura em que voltou a acontecer algo digno de registo: Raphinha é lançado em profundidade, corre meio-campo, finta o guarda-redes e marca. O que é que o fiscal de linha faz? Acompanha toda a jogada, fica a ver o 21 contornar o redes e só quando a bola entra é que assinala o fora de jogo que ninguém consegue garantir que existe! Se estava fora de jogo, porque não foi marcado assim que Raphinha arrancou, pouco depois da linha de meio-campo?

Conforme já perceberam, o jogo piorou, mas piorou a valer, com esse fantasma do apito a dar o mote para tantos outros. Como aquele em que a equipa baixa as linhas de pressão e ficas com a sensação que, mesmo fazendo pouco ou nada por isso, o adversário vai marcar um golo de merda que te estraga a noite. Ou como o outro, em que não percebes porque jogadores não são convocados e te dizem que se deve a problemas com empresários. Há, ainda, o fantasma da gestão, aquele em que parece que jogam sempre os mesmos, mesmo quando se perspectiva quatro ou cinco semanas em que vais jogar de três em três dias e notas claramente que há ali quem precise de descansar. Depois, apareceu um fantasma do Carvalho na bancada central, dando um salto à bancada presidencial, local onde vai aparecendo mais pessoal com os convites que vão faltando aos fantasmas de uma despida curva sul, mostrando que, de gravata ou de boné, não há quem não goste de uma boa mama.

E com tanto fantasma um gajo acabou a partida aliviado e arrepiado, desejando que, mesmo com os aguardados padres do demo em campo, sejamos capazes de avançar para um complicado exorcismo onde a única forma de afastar fantasmas se chama “ganhar”.

I want to write a new beginning
Let go of the ghosts
Let dreams and hopes lay
And give our love another try