A recente presença de William Carvalho nos camarotes do Estádio de Alvalade e o aparente encontro breve que teve com o Presidente do Sporting causaram alguma polémica em alguns quadrantes de adeptos do Sporting.

Devo dizer, antes de mais, que me preocupa bem mais não ter existido reação oficial à arbitragem desse mesmo encontro. O Sporting Vs Moreirense foi recheado de erros quer do árbitro, quer do VAR, quer dos fiscais de linha e embora os 3 pontos tivessem ficado do lado certo, o público nas bancadas e a equipa no terreno sentiram que houve uma força que nos tentou empurrar para dentro de uma espiral de desconfiança.

“Quem não se sente, não é filho de boa gente” diz o ditado e a meu ver, o Sporting não deve pautar-se por silêncios quando as arbitragens gritam alto e bom som que farão e decidirão tudo para nos colocar o mais longe possível das vitórias. Calamos hoje, sofremos amanhã. Se há aprendizagem que devíamos ter feito ao longo dos anos, esta é a principal. Mas voltando ao tema com que abri o post, é necessário ao Sporting e à sua direção decidir de uma vez por todas qual é a posição oficial do Sporting quanto aos jogadores que rescindiram contrato e não regressaram. São bem-vindos? Não são? Em que ponto estamos agora? Para onde evoluiremos no futuro?

Essa para mim é a verdadeira questão que o nosso Presidente Varandas e restantes corpos sociais têm de responder, ou no mínimo esclarecer.

Quero acreditar que o tal encontro nunca foi imaginado como um acto social do clube, ou seja, Varandas foi ao encontro de William (sendo que o ex-jogador tem todo o direito de estar em Alvalade como adepto ou sócio) como faria com qualquer amigo, à revelia de uma postura institucional. Mas o que é certo é que as câmaras da SportTv chamaram a esse acto um verdadeiro happening, criando e fazendo evoluir uma questão que tarda em obter resposta de forma assertiva.

William é personna grata para a instituição Sporting Clube de Portugal? Termos recebido uma compensação financeira pelo seu passe anulou o acto de rescisão hostil de um dos seus capitães? Rui Patrício está na mesma situação? Gelson, por quem estamos a negociar há quase 6 meses estará mais ou menos próximo de um perdão?

São perguntas que devem ser respondidas por quem de direito, mas que levantam questões muito importantes. Até que ponto o dinheiro apaga o acto? Até que ponto vendemos a nossa auto-estima? Até que ponto cedemos aos interesses dos empresários e somos forçados, repetidamente, a engolir o nosso orgulho e a meter mais um prego ferrugento na nossa história? Há que distinguir astúcia de lirismos, mas é importante que nem tudo o que é emocional seja enrolado como empecilhos ao pragmatismo. Devemos ao nosso clube mínimos de respeito pela sua honra, palavra e imagem.

william-alvalade

William, Rui Patrício e todos os “exilados” escolheram virar costas ao clube, abandoná-lo na hora em que eram mais necessários. Isso deverá ser esquecido e ultrapassado porque estavam fartos do Presidente? Deverá ser perdoado porque ajudaram a passar-nos um cheque em troca do que fizeram? Deverá ser relevado porque são “grandes sportinguistas” e compraram obrigações da SAD?

Pela minha parte, sou-vos sincero, William, Rui Patrício, Ruben Ribeiro, Podence, Rafael Leão e Gelson Martins serão sempre símbolos de abandono, de egoísmo e oportunismo. Sei que o que passaram não é fácil, provavelmente alguns ficaram mesmo marcados por tudo o que aconteceu no final da época passada, dou-lhes o atenuante dessa experiência, mas nunca lhes darei a devolução do estatuto que tiveram no meu sentir de adepto. São fantasmas.

Dost, Battaglia, Acuña e Bruno Fernandes, por piores que sejam as razões que levaram ao seu regresso… regressaram e estão a ajudar a que o Sporting seja mais forte com eles. Tenho a certeza que nunca poderão ser os heróis sem mácula que teriam sido, mas ainda assim em plano completamente diferente do primeiro grupo. Esta é a minha posição de adepto. Será a mesma no futuro, enquanto eu existir ou existir Sporting.

Aplico a mesma regra a DIer, Ilori, Bruma e a qualquer jogador que troque dinheiro por espezinhar a nossa camisola e a mostrar que tem zero orgulho em envergar o nosso símbolo. Nem todas as situações são iguais, nem sempre os interesses dos atletas coincidem com o do clube, nem sempre quem gere o Sporting está isento de culpa, mas para isso temos cérebro e somos dotados de critério para apreciar cada caso.

O que se torna necessário porém, não é entender o critério dos adeptos, mas sim o da Direção do Sporting e esperar que sejam coincidentes, podendo não o ser e isso ser racionalmente defendido. Para já, urge esclarecer, algo que os actuais dirigentes depreciam e pode ser um erro extraordinariamente prejudicial para quem parece ter tão poucos trunfos na manga.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca