Entre os festejos de uma grande noite de andebol e o preparar do anúncio da expulsão de Bruno de Carvalho, foi lançado, meio como não quer a coisa, o Relatório e Contas referente ao primeiro semestre do ano (é clicar aqui)

E se existem vários pormenores que pouco ou nada surpreendem e até eram esperados, outros provocam-nos uma espécie de repulsa.

Entre eles, obviamente, o facto de apenas termos recebido 2/3 do valor do negócio de Rui Patrício e ainda nos darmos ao desplante de, com as contas na merda, entregarmos 2 milhões ao Wolverhampton para nos abrir as portas da China!!! Ora, depois de terem colocado a descoberto um estranho negócio da direcção anterior com um clube chamado Batuque, o que é que Varandas e Zenha fazem? Isso mesmo, enviam 2 milhões para a China, vá lá saber-se para quê.

Entre várias outras coisas, ficamos também a saber que o Sporting pagou 1,6 milhões de euros para trazer Bruno Fernandes de volta ao clube, depois de este ter rescindido na sequência do ataque à Academia, em maio do ano passado. No documento, enviado à CMVM, é dito que estes encargos “estão relacionados com os gastos incorridos com a reposição do ativo ao serviço da Sporting SAD.” De resto, é revelado ainda um valor de 200 mil euros pagos à Sampdoria respeitantes à “materialização de um condicional de performance do jogador.”

Nota ainda para uma “comissão de intermediação de 1 milhão de euros que se materializou na corrente época desportiva” relativamente à contratação de Jérémy Mathieu, um jogador que se encontrava livre quando foi contratado. E de milhão em milhão, ficamos a saber, por exemplo, que Viviano custou 2 milhões e que Diaby custou 5.6 milhões…

O Relatório e Contas revela, ainda, que a dívida é de 54 milhões de euros, mais 10 que em março do ano passado, e que a grande parte desse valor está em falta para com clubes que venderam jogadores ao Sporting. Por exemplo, parece que os 4 milhões da aquisição de Raphinha estão por liquidar. A Sampdoria aguarda o pagamento de 4,2 milhões de euros referentes à transferência de Bruno Fernandes, o Clubb Brugge espera por 3 milhões de euros pela venda de Abdoulay Diaby, a Fiorentina ainda tem a receber 2 milhões de euros pela venda do passe de Bruno Gaspar e, pasmemo-nos, até o Real Madrid ainda está a aguardar a entrada de 1 milhão pelo negócio Coentrão ou o Bétis mais do que isso pela compra de Piccini… Andámos a brincar nestes últimos anos?!?

Ainda segundo o relatório semestral da Sporting SAD, no período entre junho e dezembro de 2018 as comissões a pagar a empresas de intermediação subiram quase sete milhões de euros (de 17,373 para 24,307), com a Positionumber, Lda e a Stellar Group Limited a serem os principais credores.

Entretanto, o nosso responsável financeiro, Zenha, garantiu que, neste momento, o Sporting não tem necessidade de se desfazer de qualquer um dos seus activos e sublinhou o facto da SAD do Sporting apresentar um resultado positivo de 6,4 milhões de euros (ME) nas contas do primeiro semestre de 2018/19, tendo, neste periodo, atingido um volume de negócios de 89,2 ME.

No relatório e contas enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), os leões referem que “os resultados foram positivos em 6.447 milhares de euros” e que, apesar de “um decréscimo face ao período homólogo”, em que registaram 10,1 ME de lucro, deve-se assinalar o resultado “pela positiva”.

Quanto ao admitir das necessidades de tesouraria até ao final da época de futebol de 2018/19 numa comunicação à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a direção diz que se trata apenas de uma formalidade. “Nós podíamos não ter feito a admissão à negociação. Se esta direção quisesse, estes números não tinham aparecido. Quer maior prova de transparência? A admissão à negociação não foi feita durante cinco anos e nós resolvemos fazê-la agora, porque nós não falamos, fazemos. A anterior direção teve quatro anos para o fazer e ninguém mexeu nisto”, afirmou o vice-presidente do Sporting Francisco Salgado Zenha, em entrevista à agência Lusa.

No prospeto de admissão à negociação de 28 milhões de ações, decorrentes do aumento de capital realizado em novembro de 2014, a SAD “leonina” assumiu que as necessidades de tesouraria são de “cerca de 65 milhões de euros, dos quais 41 milhões de euros até 30 de junho de 2019”, reconhecendo que “a insuficiência de recursos se manifeste no final de abril de 2019”.

“Não houve nenhuma emissão nova de ações, foram as ações emitidas em 2014, de oito milhões para o Sporting Clube de Portugal e 20 milhões para a Holdimo. O que foi feito foi tornar essas ações negociáveis e transacionáveis, coisa que na altura não foi feita, e é uma obrigação perante o regulador. Devia ter sido feito e não foi”, explicou Zenha, acrescentando que a CMVM já multou o Sporting por este atraso.

O vice-presidente leonino recordou que os riscos apresentados no prospeto divulgado pela CMVM já tinham sido apresentados pelo clube. “Esta direção tem sido completamente transparente, a todos os níveis, com o mercado e com os sportinguistas, e vamos continuar a ser. A informação que vem no prospeto não é diferente do que já tínhamos transmitido, com a ênfase de fatores de risco e das alternativas, mas é tal e qual o que defendemos”, recuperou.

Salgado Zenha assegurou que estes “passos” concretizam o programa eleitoral apresentado por Frederico Varandas, para as eleições 08 de setembro de 2018, que “começou com o empréstimo obrigacionista, a renegociação do acordo com os bancos e outras soluções de financiamentos necessários para colmatar necessidades de tesouraria”. “Não é do desconhecimento de ninguém, eu próprio disse, há uma semana, que as necessidades de tesouraria para este ano eram mais de 40 milhões de euros. Era metade do valor contabilístico do plantel do Sporting para um ano (…). Na minha opinião, o Sporting é completamente sustentável financeiramente, tem um nome, ativos e ferramentas que lhe permitem isso, mas tem necessidades de tesouraria”, sublinhou.

O dirigente leonino assegurou ter “as soluções” para fazer face a esta “necessidade de tesouraria brutal”: “Estou completamente confortável com elas [as soluções], enquanto estamos a falar, estão a acontecer”.

Apesar de Salgado Zenha não ter especificado, a SAD deu conta, no prospeto, da intenção de, em março, concluir a titularização de créditos do contrato de direitos televisivos com a NOS, com o objetivo de “suprir as necessidades de fundo de maneio dos próximos 12 meses”. Salgado Zenha encara com normalidade este tipo de operações financeira, acrescentando que “todos os clubes fazem antecipação de receitas, que não é mais do que um financiamento com garantia”. “Há muitas soluções e não apenas uma”, reforçou, mostrando-se ainda convicto da possibilidade de “aumentar o volume de receitas decorrente de patrocínios”.

O dirigente enalteceu o potencial do clube, recordado que o recente empréstimo obrigacionista, que permitiu o encaixe de 26,2 ME para fazer face ao reembolso da operação anterior (30 ME), foi feito quando “o Sporting estava destruído do ponto de vista anímico, desportivo, com um ex-presidente a ser constituído arguido na véspera”. “A prova de que não é só conversa é que muitas das coisas que estão no nosso programa já foram feitas, uma delas o empréstimo obrigacionista”, concluiu.