Para avaliar o Projecto do Futebol das Meninas, Raparigas e Senhoras do Sporting, devemos começar por tentar compreender as linhas mestras que sustentam o seu paradigma, os processos que o têm desenvolvido e os resultados desses processos.

Este projecto foi pensado tendo como pilares instrumentais a jogadora portuguesa e a sua Formação e como pilares ideológicos a absorção e a promoção dos Valores e dos Padrões da Cultura Sporting. Os Valores são Esforço, Devoção e Dedicação consolidados por um forte sentido de Compromisso com o Clube; os Padrões são os de máxima exigência individual e colectiva, da permanente auto superação e de encarar cada desafio com o foco único na vitória. A meta que consubstancia essa exigência é a de colocar o Futebol Feminino Profissional do Sporting entre as 8 melhores equipas da Europa (objectivo a 8/10 anos).

Concretização do Projecto:
No 1º ANO formámos 3 equipas de competição: A equipa sénior, recrutou em outros clubes em Portugal e no estrangeiro, EXCLUSIVAMENTE, atletas portuguesas; a média etária era de 22/23 anos. A equipa sub19 (de Futebol de 9), recrutou a outros clubes, para participar no Campeonato Nacional do escalão e na Taça de Portugal; média etária 17 anos. A equipa sub17 (de Futebol de 7), recrutando a outros clubes, para participar no Campeonato Distrital e na Taça Nacional do Escalão; média etária 17 anos. Recrutámos em “concurso aberto” meninas entre os 8 e os 12 anos para a nossa Escola de Infantis no Pólo EUL, não havendo competição feminina para as suas idades, o Clube organizava, nos fins-de-semana, mini Torneios de Futebol de 7 entre elas e/ou com equipas mistas de clubes que convidava.

No 2º ANO, fizémos ajustes, no Projecto e formámos 4 equipas de competição: A equipa sénior, manteve a base de atletas portuguesas do ano anterior, mas recrutando 2 jogadoras americanas e uma costa-riquenha; a média etária era de 23/24 anos. A equipa sub19 (de Futebol de 9), manteve a base do ano anterior com saídas para as seniores do SCP ou de outros clubes e entradas vindas das sub17: média etária 17 anos. A equipa sub17 (de Futebol de 7) forneceu atletas à ssub-19 e absorveu outras das infantis ; média etária 15 anos. Formámos Equipa Feminina de Infantis (10 a 12 anos) para competir no Campeonato Distrital sub13 Masculino de Futebol de 7.

No 3º ANO, voltámos a fazer ajustes no Projecto e formámos 5 equipas de competição: A equipa sénior A, ficou com a base de atletas do ano anterior, mantendo as 2 jogadoras americanas, saindo a costa-riquenha e entrando 1 sérvia e 1 sueca: a média etária é de 24/25 anos. A equipa B compete no Campeonato Nacional da 2ª Divisão Senior, e a sua base são 2 jogadoras de 20 anos que não integram o plantel senior (treinam com as juniores), e jogadoras do plantel junior a que se juntam conjunturalmente algumas jogadoras do plantel A que, por menor utilização, precisem de recuperar ritmo competitivo. A equipa sub19 (de Futebol de 9), com entradas e saídas por mudança de escalão manteve a média etária 17 anos. A equipa sub17 (de Futebol de 7), com entradas e saídas por mudança de escalão manteve a média etária 15 anos. A Equipa Feminina de Infantis (10 a 13 anos) voltou a competir no Campeonato Distrital sub13 Masculino de Futebol de 7 (de momento, ocupa a 5ª posição em 12 inscritos).

Que resultados se otiveram neste processo?
O objectivo de reforço qualitativo da Formação como Instrumento central do Projecto tem sido plenamente alcançado. A colocação das atletas da Formação em contextos competitivos que obrigam a uma permanente exigência, a um foco e concentração elevados e à valorização dos processos colectivos tem sido uma realidade anualmente reforçada e aperfeiçoada.

O objectivo de aposta na atleta portuguesa como sustentáculo do projecto tem sido mantido (em cerca de 80 atletas apenas 4 são estrangeiras).

Os objectivos competitivos fizeram, nos 2 primeiros anos já completos, o pleno para os 3 escalões de competição: 12 títulos conquistados em 12 competições disputadas nacionalmente. Neste item, todavia, o 3º ano será bem mais parco em sucesso competitivo absoluto, uma vez que já sabemos que, nas Seniores A, não revalidaremos as conquistas das 2 Taças que disputámos e dificilmente seremos tri-campeãs.

Mas, feita a análise em termos absolutos, teremos também de a contextualizar em termos relativos ou comparativos. E o único elemento de comparação, do ponto de vista competitivo, é o Braga.

Ora o Paradigma do Projecto do Braga era bastante diferente daquele do Sporting: logo no primeiro ano, o Braga concentrou toda a sua aposta, única e exclusivamente na constituição de uma equipa senior para conquistar Campeonato e Taça de Portugal. Para isso investiu e bem: formou um plantel de 27 jogadoras, das quais 5 brasileiras, 4 espanholas e 5 portuguesas contratadas em clubes estrangeiros. Tinha e tem ainda a vantagem concorrencial de desfrutar gratuitamente das instalações municipais do Centro de Treinos e do Estádio 1º de Maio (a sua SAD ainda possui idêntica vantagem no Masculino relativamente ao uso das instalações do Estádio e Complexo da Pedreira). No segundo ano, formou uma equipa sub19 e passou de 9 para 5 estrangeiras no plantel senior. No terceiro ano reforçou radicalmente esse plantel A, passando a ter 10 atletas estrangeiras e apenas 1 transitada da época anterior. Em 3 anos o Braga já contratou 18 jogadoras estrangeiras; o Sporting, nos mesmo 3 anos, contratou 6. Em 3 anos, o plantel senior do Braga terá investido quase o dobro do investimento do plantel senior do Sporting e irá conquistar 3 (eventualmente 2, na pior das hipóteses 1 título), enquanto as seniores do Sporting arrecadaram 5 títulos (ou, numa remota hipótese, 6). Numa avaliação comparativa custo/benefício ficámos claramente a ganhar: o nosso projecto tem-se demonstrado mais assertivo e melhor executado; acrescem ainda os resultados da Formação.

Mas, até aqui, fizémos essa análise comparativa em termos muito globais. Talvez seja bom segmentarmos a análise. Então, no que se refere aos resultados da equipa A, poderemos, resumidamente, afirmar que: investimos menos que o Braga no 1º ano e ganhámos tudo; aumentámos um pouco o investimento, mas continuámos a investir menos que o Braga no 2º ano e voltámos a ganhar tudo; voltámos a aumentar um pouco o investimento no 3º ano, mas vimos aumentar a desfasagem de investimento para o Braga no 3º ano e, muito provavelmente não conquistaremos nada e o Braga conquistará os 3 Troféus nacionais em disputa.

Esta quebra no rendimento da equipa A, deverá impor uma reavaliação do Projecto?
Em minha opinião, claramente que NÃO! Mas deverá impor uma reavaliação dos ajustes anuais de que o Projecto necessita para não perder de vista a competitividade da equipa A face ao Braga, mas também face ao Benfica, que para o ano também disputará a 1ª Liga (e já neste ano, na 2ª divisão, investiu em 11 brasileiras, 1 espanhola e 1 caboverdiana e algumas portuguesas recrutadas ao Braga e outros clubes).

Defendo que, mais uma vez, o ajuste deve ser progressivo,embora com um reforço maior da equipa A que os verificados nas épocas anteriores. Entendo que devemos manter a mesma base desta época, apenas saindo (de preferência por empréstimo às equipas de Futebol Benfica, Estoril, Valadares e Albergaria) a central Mariana Azevedo, as americanas Carlwin Baldwin e Sharon Wojcik, a Nadine Cordeiro, a Bárbara Marques e a Constança Silva e adquirindo: a) 2 centrais altas, de bom porte atlético, com “poder de choque”; b) 1 trinco alta, rápida a varrer a zona à frente das centrais, com boa leitura de jogo e qualidade de passe curto e médio; c) passar a Nevena Damjanovic para a posição 8 box-to-box, que acho ser a que melhor pode maximizar a sua qualidade; d) subir a seniores as atletas Marta Ferreira, Beatriz Conduto e Nicole Araújo (alocando-as à Equipa B, mas treinado com o plantel A)

alvalade

Esses ajustes não implicarão um reforço de investimento que ficará desfasado da realidade do mercado?
Sou de opinião de que não deveremos replicar na equipe feminina os mesmos vícios de gestão que têm inquinado o nosso futebol profissional masculino. O investimento deve ser ajustado à realidade do mercado. Mas há, no mínimo 3 formas de abordar esse ajustamento: a minimalista que é a de só investir o que tiver retorno “garantido” no mercado pre-existente; a prospectiva, que é a de investir calculando o crescimento do mercado (e até para induzir esse crescimento); a proactiva, que é a de aumentar a capacidade de gerar receitas próprias como forma de “capitalizar” o investimento em activos mexendo, também assim, com a capacidade de retorno do mercado.

Pessoalmente acho que devemos trabalhar um misto destas duas últimas abordagens, da seguite forma: 1) aumentar o orçamento, para investir em activos que garantam maior competitividade e melhores espectáculos, partindo de uma base de 1M€/1,5M€ já para o próximo ano [abordagem prospectiva]; 2) passar a cobrar bilhética (e criar Gamebox) para os jogos em casa [abordagem proacticva]; 3) garantir que os jogos com Braga, Benfica e eventualmente Estoril e Futebol Benfica se realizem no Estádio de Alvalade, precedendo-os de uma promoção agressiva [abordagem proacticva]; 4) produzir merchandising próprio do futebol feminino, colocá-lo à venda nas Lojas Verdes e na Loja Virtual e fazer marketing agressivo desses produtos (postos móveis de venda em dias de jogo; eventos promocionais semanais com a presença de atletas) [abordagem proacticva]; 5) procurar garantir sponsoring e patrocínios substancialmente maiores que os actuais [abordagem proacticva]; 6) aumentar anualmente o orçamento em função do rendimento desportivo e do aumento de receitas próprias (variáveis competitividade e mercado) ou manter esse investimento, caso haja quebra nessas variáveis [abordagem reactiva];7) Realizar torneios internacionais de pré-época (seniores) convidando equipas de renome espanholas e nacionais (El Pozo, Atletico Madrid, CFF Madrid, Barcelona, e Braga, Benfica e Futebol Benfica ou, mais tarde, Guimarães) e de Páscoa (sub17 e Infantis) convindando equipas do mesmo escalão de clubes estrangeiros de referência (Lyon, Chelsea, Slavia de Praga, Barcelona, e Benfica, Futebol Benfica e Ouriense) [abordagem prospectiva].

E necessitará a “indústria” de uma maior e/ou melhor regulação para induzir maiores visibilidade, credibilidade, atractividade e crescimento do mercado?
Em minha opinião, existe a necessidade de garantir que o contexto competitivo se faça sem grandes distorções dos limites concorrenciais, com regras que atenuem desníveis de capacidade de investimento, com regras e ferramentas que garantam uma maior verdade desportiva e com regras e ferramentas que possibilitem uma maior visibilidade, credibilidade e crescimento da Modalidade.

Nesse sentido, o Sporting deveria liderar um movimento de transformação positiva do Futebol Feminino, apresentando um caderno de propostas credíveis e de reivindicações equilibradas, capazes de atrair aos nossos Valores os clubes de segunda e terceira linha. Com propostas como:
a) as equipas profissionais femininas, integradas em SAD, deveriam apresentar à CMVM exactamente a mesma informação a que estão obrigadas as equipas profissionais masculinas;
b) os Clubes que utilizam instalações de terceiros deveriam ser obrigados a comunicar os custos anuais dessa utilização;
c) deveria haver uma limitação da inscrição (7) e utilização por jogo (5) de jogadoras estrangeiras;
d) deveria haver uma limitação dos empréstimos efectuados a outros clubes nas mesmas competições (2 a cada Clube);
e) deveria ser regulamentado que jogadoras emprestadas a equipas a competir nas mesmas competições da cedente não poderiam jogar contra esta;
f) deveria ser dada uma moratória (3-5 anos) para a completa profissionalização da 1ª Liga Feminina;
g) deveria ser dada uma moratória de 3 anos para a completa profissionalização do quadro de árbitros(as) da 1ª Liga;
h) deveria ser dada uma moratória (3 anos) para implementação do recurso a VAR na 1ª Liga;
i) no protocolo do VAR, deveria ser instituida a regra de disponibilização publica in-loco das comunicações audio e video entre VAR e Árbitro Principal, sempre que este consulta o VAR;
j) deveria ser obrigatória a divulgação dos relatórios dos Árbitros bem como das classificações e relatórios dos seus avaliadores;
k) deveria ser negociado, de forma centralizada, um pacote de Direitos de Transmissão Televisiva dos jogos da Liga, com a distribuição a ser feita no final de cada época, em função da classificação;
l) no final da moratória de Profissionalização total, a organização da competição principal deveria transitar para a L.P.F.P., bem como o seu Regulamento, ficando a Disciplina e a Arbitragem a cargo de Conselho e Comissão próprios sob responsabilidade da Federação (tal como nos Maculinos, mas com órgãos separados);
m) a entidade organizadora da Liga Profissional deveria criar, complementarmente às transmissões televisivas, a sua própria plataforma de serviço streaming OTT (over-the-top) para difusão de conteúdos que ajudem a credibilizar e a melhorar a imagem do Futebol Feminino e a contribuir para que a sua implantação nacional e o seu crescimento sejam mais rápidos e consistentes, nomeadamente com transmissões em free streaming de jogos de escalões de Formação e transmissões streamming pay-per-view dos jogos da Liga Profissional (ou gratuito, se transmitido em diferido);
n) deveria ser aplicado um mecanismo de compensação de formação, com efeitos retroactivos a 2016, a pagar aos clubes formadores portugueses que tenham transferido internamente seus activos de formação aos Clubes profissiionais;
o) a FPF deverá passar a informar com clareza os Clubes, do destinos das verbas UEFA, Federativas e Associativas destinadas à promoção da Modalidade (supostamente já existiam verbas próprias da Federação e das Associações, a que se acresciam as verbas UEFA entregues às Federções para esse efeito; agora essas verbas foram reforçadas em mais 150.000€ ano; no entanto, ninguém consegue perceber em que aspectos concrectos da promoção da Modalidade foram essas verbas consumidas);
p) a FPF deverá, em conjunto com as AF Lisboa, Porto, Coimbra, Setúbal e Aveiro implementar já a partir de 2019/20 Canpeonatos Distritais Femininos de Sub15 e sub 13 em Futebol de 7, que preferencialmente sejam abertos à inscrição de equipas de Associações geográficamente próximas (a partir de 2022/23 deveria ser generalizada a todas as Associações “Distritais” de Continente e Ilhas a organização de campeonatos sub15 Futebol de 7 e a partir de 2024/25 de campeonatos de sub13 Futebol de 7);
q) a FPF deverá criar em conjunto com os Clubes, as Associações, a SEJD, o Ministério da Educação, as Autarquias e as Escolas (de 1º, 2º e 3º ciclos de escolaridade) um Programa Nacional de Promoção e Formação do Futebol Feminino Escolar.

Sou de opinião que um Caderno de Propostas para o Desenvolvimento da Modalidade (independentemente de serem estas ou outras as propostas sugeridas e defendidas pelo Clube) deveria ser um desiderato prioritário do Sporting e que a sua discussão pública deveria ser por nós promovida junto de todos os Clubes e entidades (a exemplo do que a anterior Direcção fez em 2013/14 com o Futebol Masculino) e devidamente divulgado, quer internamente junto dos Associados e Núcleos, quer externamente através da Comunicação Social.

p.s.: resultados relevantes desta semana:
Apur. p/ Fase Fin. Camp. Europa sub17: Portugal 6 – 0 Irlanda do Norte. Titulares do Sporting: Andreia Jacinto, Alicia Correia e Marta Ferreira; Bárbara Lopes na 2ª parte. Marta Ferreira 1 golo + 2 assist.;

Estágio seleção sub-14 de Lisboa: Cristiana Martins, Catarina Potra, Andreia Bravo, Lara Pinto, Inês Fonseca, Francisca Martins e Marta Melão

Camp. Distr. Femin. Sub17 Futebol de 7 – Fase Apur.Campeão: Sporting 5 – 1 Futebol Benfica. Golos de Inês Nogueira, Marta Melão, Francisca Martins, Andreia Bravo e Maria Ferreira.

Camp. Distr. AFLisboa Mascul. Sub13 Futebol de 7: UDR Santa Maria 2 – 2 Sporting

Encontro Particular de Solidariedade com Moçambique: Sporting 1- 0 Misto Benfica/Brasil. Golo de Joana Marchão

marchãovsbenfica

* às segundas, o Álvaro Antunes faz-se ao Atlântico e prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino