Quase em jeito de brincadeira, nasceu uma nova rubrica na Tasca. Assim como quem não quer a coisa, o Sonhador começou a entrevistar outros tasqueiros e, por entre o barulho da sala, surge uma forma de conhecermos um pouco mais uns sobre os outros. Dois já responderam, os próximos continuarão a ser escolha do responsável pelas oito perguntas que se irão manter todas as semanas (pelo menos nas próximas).
Atentemos, então, na primeira conversa, que teve como protagonista Bobby Robson.
1 – Como nasceu o teu Sportinguismo quais os momentos do Sporting com que mais vibraste, sir? Descreve um deles.
Foi herança de família: de avô para pai e de pai para filho. Lá em casa o avô tem (tinha…) um mini-museu Sporting onde muitos meninos e meninas aprenderam a ser do Sporting. Jornais e revistas muitos deles de grande valor histórico e que acabaram por ser doados ao Sporting.
2 – Como tens visto o Sporting desde que te lembras de ser Sportinguista, ou seja, qual a tua opinião sobre o passado e o presente do clube?
Conheço o Sporting muito bem. Primeiro pela voz do meu avô, que me contou histórias deslumbrantes dos cinco violinos, principalmente da história de Jesus Correia que marcou 6 golos na inauguração do estádio metropolitano, do Atlético de Madrid. (Na altura o meu avô era emigrante lá, só depois foi para Gasteiz no país basco. Lá o meu pai casou com a minha mãe). Dizia eu, 6 golos, os espanhóis ficaram loucos com o posicionamento do Peyroteu, fora da área, que permitiu a Jesus Correia fazer um jogo épico.
Mais, em homenagem a Jesus Correia existe uma placa comemorativa desse feito no actual Metropolitano, como aliás houve nos dois estádios anteriores. E as botas que ele utilizou nesse dia mágico podem ser vistas, ou podiam, já não sei, no Museu Sporting.
3- Qual a tua perspectiva de futuro do clube? Como gostarias que fosse?
O Sporting que eu sonho nunca vai existir. Não numa sociedade profundamente ferida de valores, corrupta na sua génese, que aliás não é de agora, onde reina a artimanha e Chico espertice, essa coisa tão nossa. Eu que sou emigrante quando digo que sou português percebo logo no olhar aquela coisa estranha que nos acompanha. Aliás, os italianos tem uma expressão que nos caracteriza como povo, “Fare il portoghese.” Que serve para referir-se aquelas pessoas que entram sem pagar em espectáculos, autocarros etc. (E que até tem uma origem bastante diferente da actual, mas pronto) mas divago…
Gostaria que o clube fosse um clube de honra, de superação e de valores como fairplay. Por isso é que o baixar a cabeça a quem rescindiu com o Sporting me fez ver, mais uma vez, que neste futebol nada disso interessa. Eu, como muitos, admitimos não ganhar, isso pode ou não acontecer, mas não admitimos batota, não admitimos falta de respeito e não admitimos traidores. E neste momento há uma linha que atravessa de cima à baixo composta, essencialmente por traidores e aproveitadores, que sempre rondaram o clube.
4 – Se fosses candidato quais as principais medidas que aplicavas (Financeiras-Projecto Desportivo -Futebol e Modalidades)? O que achas do sistema eleitoral ? Quais seriam as tuas bandeiras como candidato?
Sou sócio desde que nasci, há 44 anos. Para ser um presidente como o Varandas não era preciso muito, bastava esperar pelo e-mail com as ordens do chefe. As medidas financeiras e desportivas tem de estar lado a lado e caminhar juntas com um propósito. Em janeiro/fevereiro de 2016 fiz aqui fortes críticas a Bruno de Carvalho, e fui tratado de lampião para baixo, pelos mesmos de sempre. Até pelo dono da Tasca. Até num circuito mais restrito. Como disse, o ganhar é importante, claro, mas haver uma linha orientadora é fundamental. Essa linha tem de passar pelo aproveitamento do talento das camadas jovens, mesclado com jogadores de real mais valia, estrangeiros e portugueses. Mais, acho que o clube deve ter 100% da SAD. E sabemos todos que isto um dia vai terminar como os Belenenses.
Sporting é modalidades, eu adoro atletismo, p. ex., E nunca devemos perder essa matriz. Por isso estou agradecido a que Bruno de Carvalho tenha construído esse templo, que é o JR. Muitos prometeram, mas só um fez. Senti nojo, quando Varandas disse que não queria modalidades à Benfica – mosquinha morta nojeeeenta… Sinto nojo de Varandas que agirá cavalga no êxito das modalidades. Sinto nojo de Varandas quando cavalgou a onda das vitórias iniciais do K0, mas agora esconde-se, como um qualquer cobarde.
Agora fala-se muito de um sócio um voto. Eu não discordo, nas terá de haver condicionantes, como por exemplo, 3 anos seguidos de sócio. Poderia-se contrapor com outras vantagens para esses sócios, como descontos e etc. Mas tudo merece uma profunda reflexão. A verdade é que o clube está nas mãos dos sócios mais antigos que, muitas das vezes, estão muito desfazados da realidade e das dinâmicas da sociedade actual.
As minhas bandeiras como candidato… Hummmm vamos ver como será o futuro. Surpresas acontecem. Mas na verdade o que já disse acaba por responder por si.
5 – O que achas dos denominados notáveis ou ilustres e o que farias em relação às claques?
A minha opinião sobre os ilustres e notáveis, que eu conheço bem alguns deles, até de eventos que a minha entidade patronal é convidada, não é boa. Para eles, quase todos eles, o Sporting é uma coutada. Por isso as vitórias de Bruno de Carvalho foram sempre uma espinha na garganta destes tipos. Eu ouvi muitas vezes dizer que ele “tem de cair, está a arruinar a imagem do Sporting, que é um clube diferente, superior”. Eles pensam mesmo que são superiores a ti ou a mim, que foram abençoados e que por isso tem direitos. Depois temos os parasitas, como o Rogério e tantos outros que me metem nojo só em pensar, o Barbosa, o jornalista do avental, e muitas, muitas personagens menores, algumas delas pululam aqui, sempre prontas e servia a apanhar as migalhas.
As claques tem o peso que tem devido ao sistema eleitoral – mas facilmente se resolve, ver o que disse atrás sobre um sócio um voto…
6 – Que medidas aplicarias em relação à melhoria do futebol nacional em todas as suas áreas (arbitragem -ligas -campeonato – mais ou menos clubes, no fundo organização do futebol nacional)?
O futebol português nunca vai mudar. Esqueçam isso. Vai ser sempre a roubar a roubar. Porquê? Porque pode. Não há vontade política para mudar e a própria sociedade é profundamente estúpida para defender o desporto em detrimento dos clubes.
Mas vá lá: a arbitragem deveria ser um organismo independente, como em Espanha.
A Liga deveria ser profissional. A 100%. Como em Inglaterra em que um recurso demora horas a ser resolvido e aqui demora meses.
Gostava de ver um campeonato com 14 clubes e uma fase final. Aumentaria a probabilidade de existirem campeões diferentes em quase todos os campeonatos (é assim que fazem na Bélgica, não é?)
Deveria de haver uma promoção do futebol amador, nas nossas terrinhas mesmo. Exemplo, os jogos da taça serem jogados nos próprios locais da equipa amadora.
7 – Qual o teu jogo mais marcante como Sportinguista? E qual o teu onze ideal, incluindo um técnico?
O meu jogo mais marcante foi a final da taça de Portugal 94/95. Fui jogador das camadas jovens do Sporting e sei muito bem aquilo que passávamos porque os títulos nos fugiam. Vou confessar que na altura era grande amigo do Sá Pinto (e ainda somos, apesar da distância) e nessa noite festejamos como loucos. Foi especial porque foi o último jogo do Figo (de quem nunca fui amigo…) E de Balakov, na altura já considerado um igual entre a minha família. Foi uma noite memorável e o Iordanov que nunca mais chega e levou um gozo enooooorme! Para mim foi a última grande equipa que tivemos, era mesmo uma equipa de nível mundial.
Um 11?? Poderia fazer uns 6 ou 7… Vou fazer os que vi jogar…
Peter Schmeichel
Carlos Xavier, Naybet, Stan Valckx, Vujacic
Luís Figo, Oceano, Duscher, Amunike
Balakov e Iordanov
O treinador o Marinho Peres, de quem guardo boas recordações. E mais tarde nos encontramos casualmente e em trabalho em Guimarães. Mas poderia ter escolhido o Sir Bobby Robson, porque de facto era o melhor.
8 – Sir, supõe que estás a falar às massas Sportinguistas num momento importante. Qual seria a tua mensagem?
Todos os dias falo as massas Sportinguistas. Já perdi a esperança no discurso politicamente correcto, assertivo e abrangente. Não resulta. Por isso uso muitas vezes o termo “bananinhas”. Esse termo é aplicado aquela malta que quer poucas chatices no emprego e no círculo de amigos, são os conformados, para quem é melhor não ganhar mas também não ter chatices, do que lutar para ganhar/perder e com isso ter de lidar com muitos anormais. Sim porque o sucesso muitas vezes também implica fazer finca pé e defender os nossos valores.
Em janeiro de 2018, já adivinhando o que se estava a passar, principalmente na vida de BdC, eu disse “… Nós merecemos mesmo os croquettes que rondam o Sporting como se fossem abutres. Merecemos mesmo que tomem conta do clube, que o suguem, mas que o suguem ao ponto de deixar de ser apelativo aos parasitas e eles saltarem para outro hospedeiro…”. Como se comprova, estava coberto de razão.
*às sextas, o Sonhador convida um tasqueiro para a mesa do canto e coloca-lhe uma mão cheia e meia de perguntas às quais não vale dizer talvez
6 Maio, 2019 at 22:15
Sonhador? Recebeu a minha entrevista?