Tendo este fim de semana sido mais um vazio competitivo em que apenas se disputou um jogo da 2ª Fase do Campeonato Nacional da 2ª Divisão (precisamente o empate a 0 cedido em casa, no EUL, pelo Sporting B face ao Condeixa), julgo ter toda a justificação voltarmos a falar dos caminhos do desenvolvimento para o futebol feminino português.

Em primeiro lugar, porque a ausência de competições nos deixa sem assunto “do dia” e convém não quebrar os padrões de exigência e qualidade da Tasca; depois, porque essa ausência reflecte bem o marasmo em que, apesar de alguns sopetões provocados pela iniciativa de alguns clubes, navega o futebol feminino português.

Só para terem uma ideia:
– entre a 4ª Fª, dia 17 e o Domingo de Páscoa, realizaram-se 6 jogos da FA WSL, a Liga Profisssional Inglesa ( Everton1/Birmingham3;Yeovil Town 0 /Reading5; Reading1/Brighton &Hove Albion0; Arsenal2/Everton1; Liverpool5/Bristol City2; West Ham1/Birmngham City2). A Liga Profissional tem 11 Clubes (menos 1 que a nossa Liga BPI) só com jogadoras profissionais e os clubes devidamente licenciados pela FA, a Federação Inglesa),
– a D1F 1ª Divisão Feminina de França também tem uma pausa pascal mas retoma já na quarta feira, com uma jornada completa de 6 jogos (pois é a 2ª Liga Europeia no ranking UEFA também só tem 12 equipas)
– Na La Liga feminina, na vizinha Espanha, disputa-se a 28ª de 30 jornadas entre a 4ª Fª, dia 17 e a 2ª Fª, dia 22. É disputada por 16 Clubes. Alguns clubes só têm jogadoras profissionais outros tê jogadoras profissionais, semi-profissionais e amadoras, tal como na D1F francesa
– Na Frauen-Bundesliga, jogou-se neste fim de semana a 19 de 22 jornadas. O Campeonato disputa-se a 12 equipas todas elas profissionais ou em profissionalização.
– Na Itália, a Juventus Femina não quis ficar atrás da equipa masculina e imitou a squadra bianconera de Cristiano Ronaldo e sagrou-se campeã de Itália, na última jornada da Liga (também disputada a 12 equipas)

Isto diz-nos como Portugal está a anos-luz do que se faz nas 4 melhores Ligas europeias. Apesar de termos muito menos praticantes do que qualquer dos 5 países atrás citados e de praticarmos globalmente um Futebol de menor qualidade, a nossa Liga BI tem 12 equipas, mais uma que a melhor Liga europeia, igual à 2ª, 3ª e 5ª Ligas do ranking UEFA e apenas com menos equipas (4) que a 4ª Liga Europeia, a Liga Espanhola. Além disso apenas temos 2 equipas profissionais (para o ano 3) e 2 equipas semi-profissionais.

Dá para vermos a distância que nos separa das melhores, mas será que estamos em tendência de aproximação?

Honesta e claramente a resposta só pode ser: NÃO! Estamos a perder o comboio da profissionalização e, com isso, a afastarmo-nos de poder competir com as melhores, ou mesmo com as que se seguem às melhores. Claro, que podemos afirmar em nossa defesa, que partimos para esta corrida bem mais atrasados. Que nos outros países já se joga mais futebol feminino há mais tempo. Que nesses países as bases já estavam lançadas há mais de 10 anos.
Mas pode tudo isso servir de desculpa, ou, pelo contrário deveria servir para perceber que temo de aplicar ritmos mais acelerados e forças mais eficazes ao desenvolvimento do nosso Futebol Feminino. Porque o objectivo deverá ser esbater diferenças.

Por isso volto a salientar aquilo que entendo deve ser feito. Por nós, Sporting Clube de Portugal, que também internamente não devemos ficar à espera que nada nos caia ao colo.

Em primeiro lugar reforçar, e bem, a equipa de Futebol Profissional, por forma a elevar o patamar de exigência competitiva da nossa Liga. (Lembrem-se do nosso papel, por exemplo,no Futsal e como isso elevou a fasquia competitiva, com resultados óbvios nas nossas selecções e nos nossos rankngs internacionais). Tendo visto os vencimentos das nossas atletas e equipa técnica (estavam escarrapachados no Relatório de Auditoria de Gestão da BakerTilly) concluo que tinha razão quando afirmava que o Sporting gastava cerca de 500.000 euros/ano com o seu futebol feminino, incluindo formação (na realidade não fiz mais que confiar na palavra de Samuel Almeida no programa Pressão Alta, na Sporting TV). É necessário triplicar esse valor já na próxima época.

Mas é necessário também implementar medidas de gestão que ajudem a sustentar esse aumento: criar a Gamebox Futebol Feminino (para os jogos em casa, das seniores A e B); realizar no Estádio José Alvalade os Jogos contra Benfica, Braga e Futebol Benfica e cobrar ingressos de 5, 4 e 3 euros; realizar todos os outros jogos no Aurélio Pereira, com ingressos a 3 e 2€; criar condições de experiência de adepto que fidelizem um público cada vez mais jovem e a vivencia de famílias. Gerar produtos de merchandising do Futebol Feminino e usar as atletas para os promover. Criar uma plataforma streaming OTT para a transmissão dos nossos jogos em casa e regime de payperview. Criar uma agenda de promoção das atletas nas redes sociais, conectando-as com adeptos e/ou associando-as a causas sociais. Garantir patrocinador para a equipa; Garantir patrocinadores para a plataforma streaming; garantir patrocinadora para as páginas oficiais de Redes Sociais. Garantir publicidade estática específica para os jogos FF quer no José Alvalade, quer no Aurélio Pereira; realizar mais valias com vendas de direitos desportivos de jogadoras integrando-as no recém criado mercado internacional de transferências.

capaleoas

Paralelamente deverá o Clube iniciar uma “cruzada” junto da FPF, da LPFP, das ADFs, dos Clubes da 1ª Liga, da APAF, da ANTF, do Sindicatode Jogadores, no sentido de implementar medidas de urgência para:
– garantir a profissionalização acelerada, generalizada e regulada da 1ª Liga (todos os Clubes Licenciados e certificados até 2022/23);
– diminuir o quadro competitivo da 1ª Liga para 10 equipas em 2020/21;
– garantir 2 competições internacionais intermédias de Clubes, a exemplo da Algarve cUP para Selecções nas paragens de Natal (no Norte) e de Páscoa (em Lisboa)
– aumentar a sponsorização da 1ª Liga;
– garantir, através de uma negociação centralizada da venda de direitos televisivos e de media, uma distribuição aos Clubes, efectuada no final de cada época e m função da sua classificação (os 2 Clubes que subissem teriam uma quantia igual à dos 2 que desciam; as outras subiriam posto a post da classificação obtida;
– regulamentar um número máximo de estrangeiras a inscrever (9) e a jogar em simultâneo (6) por clube;
– regulamentar um número máximo de empréstimos de jogadoras (2) que cada Clube da 1ª liga pod emprestar a outro Clube da mesma Liga;
– regulamentar o uso de jogadoras emprestadas, aplicando o que está actualmente em vigor na Liga Masculina;
implementar o VAR até 2020/21 e incluir no seu protocolo a disponibilização on-line das suas intervenções Video e Audio (a Federação adiantará o investimento necessário aos Clubes que não tenham capacidade imediata, estipulando um prazo de ressarcimento);
– garantir a completa profissionalização de todo o quadro de árbitros/as na 1ª Liga (até 2021/22)
– implementar regras de mercado de transferências internas;
– criar moratória para a organização de campeonatos distritais de escalões de formação (sub13 e sub15) até 2020/21 (AFLisboa; AFSetúbal; AFSantarém; AF Coimbra; AFAveiro; AFPorto; todas abrindo as inscrições a equipas de AFs do Interior a elas adjacentes); até 2022/23 (AF Faro; AF Ponta Delgada; AF Angra do Heroísmo, AFHorta e AFFunchal); até 2024726 (todas as restantes Afs);
– a FPF protocolar de imediato com o Ministério da Educação e as Secretarias Regionais da Educação dos Governos Regionais da Madeira e dos Açores um vasto Programa de Base de Futebol Feminino Escolar, com o apoio técnico da Federação, a iniciar já (como promoção e programa piloto) no próximo ano lectivo, e envolvendo atletas dos principais clubes e da Selecção Nacional, ajudando também a promover atletas-modelo e estrelas;
– usar os media de grande alcance, para campanhas promocionais do Futebol Feminino, Das suas Selecções, da sua competição maior e das suas Atletas modelo.

Se não profissionalizarmos o quadro competitivo, por mais que profissionalizemos 2 ou 3 equipas, estaremos apenas a tapar o sol com a peneira, e a limitar o potencial do investimento feito por aqueles que profissionalizaram (porque passarão a maior parte do ano a competir com equipas muito inferiores, não elevando os seu padrões de exigência competitiva). A profissionalização é também uma cada vez maior exigência face à profissionalização que já está em velocidade de cruzeiro nas 5 principais Ligas Europeias: se nós não profissionalizarmos, essas Ligas viram buscar no nosso mercado as melhores jogadoras por preços tentadores para todos … menos para os Clubes portugueses.

Além disso, nos países que estão mais adiantados na profissionalização (e o envolvimento nela dos principais Clubes históricos do masculino), tem-se verificado um enorme aumento na sponsorização das competições, nos patrocínios aos clubes, nos contractos de direitos de televisvos e estão a nascer como coelhos contractos os clubes com marcas de tecnologia, com o digital, com unidades de alta performance, com marcas de bebida e produtos energéticos, com firmas de saúde e com as marcas de referência para literalmente alimentar os seus Estádio (CocaCola, Pepsi, Lucozade, Budweiser, Heineken, McDonnalds, Burger King, KFC e muitas outras).

Trata-se, portanto, e sobretudo, de uma questão de oportunidade. Que devemos saber aproveitar planejando bem, efectuando as melhores análises e tomando as melhores decisões no tempo mais certo … ou quase … que o tempo mais certo era ontem!

* às segundas, o Álvaro Antunes faz-se ao Atlântico e prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino