O ritmo das mudanças que se estão a passar no voleibol masculino é tão elevado que basta uma semana para (quase) já não dar para fazer um balanço da época como pretendia. Para tornar a escrita mais organizada, vou seguir o post de hoje por 4 tópicos que farão um balanço da época e lançarão a próxima temporada desportiva.

PROJECTO
Numa decisão que me deixou muito contente, o voleibol regressou ao Sporting 22 anos depois. Adicionado a este facto tínhamos na nossa equipa o selecionador nacional, um dos melhores treinadores portugueses, o eterno Miguel Maia e um pavilhão João Rocha pronto a receber a modalidade. O cenário ficou perfeito com a épica conquista do campeonato, num disputadíssimo jogo, onde todos exultámos, mesmo quem não aprecia o voleibol.

O projecto era percetível e simples:
(1) Contratar a figura nacional do voleibol e nosso ex-jogador Miguel Maia;
(2) Ir contratar uma parte da estrutura montada e vencedora a Espinho;
(3) Apostar em jogadores com experiência, tendo inclusive uma referência do voleibol internacional;
(4) Facilitar a logística da equipa, dado que são praticamente todos do Norte, fazendo de Fiães o centro de treinos;

E com estas armas contrariar o favoritismo do benfica baseado no seu historial de campeão e do orçamento superior. No primeiro ano, e sejamos sinceros, contra todas as expectativas, fomos campeões. No segundo ano não fomos.

No que respeita ao projecto, o que me incomoda mesmo é a forma como está a ser gerido. Acho que é um mal em Portugal, justificar o que não é preciso, e não comunicar o que é verdadeiramente importante. Espero, sinceramente, que esteja a ser montada uma estratégia e que seja apresentada aos sócios e adeptos para percebermos o futuro desta secção. Dois anos é muito pouco tempo para se começar a “tremer” com o futuro. Os jogadores serão fáceis de contratar e um treinador ainda mais fácil, agora “contratar” um plano estruturado e sustentável para o voleibol é que não é tão fácil. Caso não consigam, mostro já a minha disponibilidade com o Cherba2020 ou Bancada2020, para pertencer às vossas listas a candidatos.

ÉPOCA 2018/2019
Esta época começou e eu fiquei bastante contente com as aquisições. Claro que nunca se está à espera que corra mal, dado o currículo dos atletas. Bichos búlgaros da seleção, um ex-internacional brasileiro, um ex-internacional espanhol cheio de vitórias, um craque do nosso campeonato e um dos maiores de sempre da modalidade perspetivavam uma boa época.

Perder a supertaça e depois em casa com o benfica, condicionou muito a motivação dos adeptos. Verdade é que a época depois seguiu com normalidade. Vencemos todos os jogos excepto com o benfica, mas sempre jogos disputados. Nas competições europeias fomos fazer o impensável, ganhando em Itália. Precisamente nessa altura lesionou-se o Wallace que era uma das chaves do sucesso deste ano. O Dennis é bom, claro, mas é curto. Depois do Wallace outros foram-se lesionando e chegámos às finais todos partidos.

O planeamento da época criado pelo treinador Hugo Silva previa uma gestão de esforço (houve muita rotatividade da equipa) para chegar no topo de forma à fase decisiva. Com a falta de atletas disponíveis, a rotatividade não foi possível e chegámos muito cansados às finais. Para completar, estranhamente o distribuidor Hérnan desapareceu, jogando o Miguel Maia. O Miguel Maia é muito bom no side out (quando recebemos o serviço do adversário), no entanto, como é normal, já não tem índices altos no bloco nem na defesa. Como é normal. Pensava eu que o Hérnan ia assumir a posição e guiar-nos para o sucesso, o que esteve bem longe de acontecer.

Falando dos jogadores, as aquisições não foram todas como esperado. O Nikolov e Alexsiev vieram-nos ao engano e o Hérnan também aquém apesar da lista de títulos que tem no currículo. O Roberto, Marshall, Wallace, Brown e Hélio foram mais valias durante toda a época. Em janeiro chegaram o Bojic e o Richards que são bons jogadores. No caso do segundo, como vinha de uma lesão prolongada, ainda demorou a entrar na equipa. Quanto a quem ficou do ano passado para este ano foram a coluna vertebral da equipa. Os líberos, Ribeiro e Fidalgo, sempre muito bem. O João Simões esteve no nosso pico de forma da época. O Miguel Maia ainda é um atestado de qualidade no voleibol pela qualidade do seu passe.

Por muito que gostasse de pensar o contrário, a época acabou por ficar aquém. Por muito duro que possa ser, os dados dão-nos essa conclusão. Em Portugal todos os troféus são disputados por dois clubes (a AJ Fonte Bastardo não está neste patamar) e perdemos todos. Nas competições europeias foi uma campanha interessante que atenua a falta de títulos.

PREOCUPAÇÃO
Claro que, quando não se ganha e não se tem uma visão estratégica, “treme-se das pernas”. E é isso que está a acontecer no voleibol masculino. O(s) que manda(m), que não sei quem são, começaram a tomar decisões. Ao contrário do que se viu durante a época (pouco esforço na divulgação dos jogos), o Sporting está a fazer de tudo para colocar os holofotes sobre si. Se no futebol estou habituado, nas modalidades nem tanto. Admito até que estamos mais “nas bocas dos sportinguistas” agora que quando vencemos o jogo em Itália contra o Monza.

Depois deste pequeno desabafo, admito que estou preocupado com a equipa masculina. Um dos primeiros sinais que levam à minha apreensão é que continuamos (nós adeptos anónimos) com mais informação nos fóruns e jornais desportivos do que oficialmente. Dou-vos uma pequena lista de exemplos.

Não Oficial:
– Saída do Hugo Silva (02/05/2019);
– Renovações do Dennis e do Hélio Sanches (01/05/2019);
– Ida para Lisboa, deixando Fiães;
– Redução do orçamento;

Oficial:
– Saída do Hugo Silva (03/05/2019)
– Renovações do Dennis e do Hélio Sanches (03/05/2019);

Como se este tipo de gestão já não fosse suficiente, leio, ontem, as palavras do treinador Hugo Silva a dizer que “claro que o clube ganha em ter todas as modalidades no mesmo espaço, mas isso foi-nos comunicado enquanto estávamos na decisão pelo título, no play-off.”

FUTURO
Apesar de tudo, claro que vamos ter uma equipa competitiva que lutará pelo título. Com menos “trocos no bolso”, teremos de ser mais assertivos nas contratações. E não faltam bons jogadores disponíveis para jogar no Sporting. Tenho pena que a forma de atuação tenha sido esta, mas nada posso fazer para alterar a ida do Sporting para Lisboa. Vejo muito potencial na descentralização de uma modalidade, no entanto requer uma argumentação que tentarei trazer noutro post durante a paragem da época.

No que respeita ao futuro tenho ainda duas situações que me deixam bastante expectante para o ano que vem:
(1) Primeiro que tudo, a motivação em ir buscar o que é nosso. Espero que a equipa tome essa missão como séria, queira cerrar os dentes e voltar a colocar o escudo na nossa camisola.
(2) O segundo ponto está relacionado com as contas do voleibol masculino. Eu gosto de conhecer os dados e poder argumentar sobre eles. A forma da divulgação do relatório de auditoria de gestão foi terrível, mas agradou-me estudar alguns números. Ainda não tinha ido ver os dados do voleibol, mas com “tanto barulho” esta semana, como não ir?

E há, claro, dois números que saltam à vista. O 80 e o 248. Nenhum deles está relacionado com os vencimentos dos jogadores. Como não tenho dados comparativos de outras equipas, é impossível ter uma opinião justa sobre esse tema dos ordenados.

O número 80 está relacionado com a rubrica “Prestações de Serviços”. Estas “incluem essencialmente receitas de bilheteira (Bilhetes, Gameboxes e Business Seats Pavilhão João Rocha) e de sponsors (cerca de 28% do total das Prestações de Serviços).” Portanto, nós captamos em publicidade 22,4k€. Basicamente, segundo relatório, em Jun/18 o mercado valorizou uma equipa profissional do Sporting, num pavilhão novo, um clube com adeptos por todo país, com milhares de adeptos a viverem próximos de Lisboa, numa modalidade com 44 000 federados… Na minha opinião, há todo um mundo por explorar aqui. Acredito que este ano esteja a ser preparado de forma a conseguir mais retorno. É evidentemente fácil conseguir.

O número 248 está relacionado com uma rubrica de despesa. “Os Fornecimentos e Serviços Externos incluem principalmente Deslocações e Estadas dos atletas e respetiva equipa técnica no âmbito da participação no campeonato nacional em cerca de 109k€. Os restantes gastos estão relacionados com Rendas de Instalações desportivas e não desportivas, bem como o renting de viaturas).”
Portanto, posso deduzir que os custos de estar em Fiães é de 139k€ (248 deduzido dos 109). Então quis perceber uma possível redução dos gastos, então fui ver a mesma rubrica, noutras modalidades. As contas que fiz para as outras modalidades indicaria um custo maior que os 139k€ agora em Lisboa, associadas a instalações desportivas, por isso eu devo estar errado.

Temos agora tempo de preparar a nova época e alimentar o sonho de voltarmos a ser campeões. Já mostrámos que somos capazes, por isso vamos a isso!

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*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol)