Uma temporada absolutamente extraordinária de Champions League, que nos trouxe muitas surpresas, muitos jogadores revelação, grandes golos e a certeza que nem apenas de gigantes se faz o melhor do futebol europeu. Seja quem for o vencedor da final de 1 de Junho, teremos uma enorme surpresa para os adeptos mais habituados ao poleiro dos gigantes espanhóis, acompanhados de emblemas como Juventus ou Bayern de Munique.

Para os adeptos do futebol mais purista, admirador da irreverência da juventude, a queda do surpreendente Ajax foi uma facada naquela que tinha tudo para ser uma das histórias mais bonitas do futebol actual. Para os adeptos do futebol de vertigem e desportivismo, a presença de Klopp é motivo suficiente para sorrir. E para todos os que, como eu, batem palmas a um clube que abdica de contratar para poder focar-se no desenvolvimento futuro, a ida do Tottenham a esta final (a primeira da sua história) é a prova de que é possível fazer muito com armas bem diferentes da concorrência e que, muitas vezes, o projecto a longo prazo de um clube colhe frutos bem saborosos.

E tudo isto traz-nos ao título do meu texto e aquela que é cada vez uma realidade maior no futebol actual: perder não é sempre a mesma coisa. Porque quando perdemos mas somos fiéis a uma filosofia, quando os adeptos vislumbram algo que se assemelha a um projecto, quando o preço do bilhete vale mesmo a pena só para passar uma tarde de grande futebol, a derrota chega com a naturalidade de quem participa num jogo.

No futebol, todos os clubes do mundo perderam muito mais vezes do que aquelas que ganharam, mesmo os maiores colossos. E é esse limiar tão ténue entre o céu e o inferno (que tanto se sentiu nestas meias da Champions) que apaixona tantos milhões de adeptos pelo mundo inteiro. É essa fronteira fina entre o ser feliz e a derrota total que faz com que quase todos os que seguem futebol se continuem a apaixonar ano após ano.

A Champions League deste ano terá apenas um vencedor (e a minha clara antipatia pelos Spurs leva-me a torcer pelo Liverpool) mas pelo meio tivemos um refrescante Ajax, uma noite de Super Cristiano, o inesgotável Liverpool, o trambolhão do tricampeão, o VAR também conhecido como Tottenham e um punhado de jogos inesquecíveis que ficarão para sempre na memória dos adeptos de cada emblema (até mesmo dos do Man. United que foram a Paris arrancar a vitória das suas vidas).

Futebol é paixão e espectáculo. É a junção dos dois factores que o torna não especial. E se algo nos ensina esta temporada do futebol europeu é que projectos melhores vencem os jogadores melhores. Que treinadores que não têm medo são eventualmente (por muitas vezes que caiam) recompensados com a vitória. E que o futebol tem apenas uma opção: regressar para junto de quem o adora ou transformar-se em algo que deixa de parte a emoção e se auto glorifica.

Perder dói sempre e qualquer adepto saberá o que é estar perto de conseguir algo e falhar. Mas o que eu não daria para pagar todas as semanas para ver o Sporting perder como perdeu o Ajax. O que não daria para poder reclamar nas redes sociais de que o projecto a longo prazo está a demorar demasiado tempo. O que eu gostaria de que um treinador implementasse uma filosofia, um modo de jogar à Sporting, e fosse bem sucedido. Foram estes os emblemas que verdadeiramente ganharam nesta Champions League e são estas as lições mais positivas a retirar.

Porque perder porque fomos incríveis, mas o futebol foi ingrato, vale sempre muito mais a pena do que perder porque o futebol foi justo.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa