Para os que estão para se lembrar destas coisas, eu fui acérrimo defensor, após período inicial de desconfiança, de BdC e da vitalidade que ele conseguiu imprimir no Clube, da transparência na sua gestão e do impulso competitivo ímpar desde os tempos de João Rocha na mais variadas facetas do Clube, partindo do zero ou do abaixo do zero.

Foi meritório, foi grandioso e foi empolgante. Os “índices de sportinguismo”, se existisse tal coisa, nunca terão estado tão elevados nas últimas décadas como nos 5 anos da sua presidência.

Isto é um facto, como factuais foram certas opções de confrontação que se revelaram desproporcionadas às forças contra as quais ele se degladiava, resultando na tempestade perfeita do final da época passada (e não vou repisar nos detalhes…).

Napoleão foi militar e general exímio, elevando-se à posição de imperador no seu tempo, e isso não evitou a existência de Waterloo com a consequente queda em desgraça e exílio, com nada de particularmente bom a acontecer à França depois disso.

E assim chegámos ao início desta época, com as peripécias de gestões provisórias e tensões diversas intra-muros, presididos por Varandas, figura pouco empolgante, cinzenta e sem qualquer dote de comunicação. Com um plantel vítima da hemorragia do final da época anterior, remendado na medida do que terá sido possível, com troca de treinador pelo meio por um também pouco empolgante holandês.

Os tais “índices de sportinguismo” ressentiram-se, muitos afastaram-se, deixaram de pagar quotas e gameboxes, desinteressaram-se pelo dia-a-dia do Clube, vítimas de um desgosto de amor pelos factos do passado recente. E pouco foi (bem) feito para tentar a ingrata tarefa de remediar esse sentimento. Não se colocou uma pedra na perseguição ao anterior Presidente e (logo) aos seus mais acérrimos e fieis apoiantes de sempre (e que são apoiantes DO SPORTING!), acicatou-se até algumas vezes esse fogo com gasolina, e assim não se pacificou a relação entre os sócios e adeptos. Valha em boa verdade que a tarefa nunca seria fácil, mas convinha pelo menos que o caminho tivesse sido encetado.

E quando a época chega ao fim, é então hora dos primeiros balanços. Como era previsível, ficámos em 3º lugar. É financeiramente catastrófico, mas exigir competir com 2 clubes estáveis do ponto em que partimos era desde logo lírico. Teria sido fabuloso fazer melhor, mas não aconteceu. E ganharam-se 2 competições, a taça da carica e a Taça de Portugal (debruçando-me unicamente no Futebol 11 sénior masculino). E isso quer dizer algumas coisas. Em primeiro lugar, deixa-nos a pensar o que teriam sido as últimas épocas sem a teimosia de competição em várias frentes, tarefa para a qual nos revelámos incapazes (é só ver esta época a partir do momento em que passámos a jogar uma vez por semana). Deixa-nos a certeza que tendo-se perdido muito, não se perdeu tudo: o guarda-redes é no mínimo satisfatório para os pergaminhos do Clube, a dupla de centrais que sobrou, ainda que envelhecida, é de longe a melhor desde a pré-idade média no sector (conhecida como a desgraçada Era polguiana), há muito valor em certos elementos (BF, Acuña, Dost, Raphinha) e houve até algumas promessas por tempos melhores a despontar (Doumbia, LPhellyppe, Jovane).
E finalmente, deixa-nos ainda uma óbvia constatação a, em boa Justiça, ser feita: teve que haver trabalho e competência, algures entre a Direcção e a equipa de Treinadores, para que se conseguisse jogar com a intensidade necessária contra equipas de valor superior, de forma indiscutivelmente unida e dedicada, como pudemos ver por exemplo nas duas finais deste ano. Não ver isso é desonesto. Éramos inferiores, e quisemos mais, batemo-nos como nunca, e ao contrário do que reza adágio, fomos até recompensados com um NÃO “perdemos como sempre”.

Ou seja, à entrada no defeso, e tendo esta malta justamente adquirido o benefício da dúvida, espera-se competência para se fazerem as aquisições cirúrgicas que o plantel precisa para competir para o mínimo aceitável para a nossa sobrevivência ao mais alto nível em Portugal: o segundo lugar no campeonato. Espera-se lucidez para evitar uma sangria dos melhores (BF só por muitos milhões, e sem mendilhões à mistura; começou-se bem nesta área com Mathieu). Espera-se um esforço maior (admitindo-se que tenha havido algum esforço que seja) na pacificação do Clube e ne (re)União entre sócios e adeptos (isso é um ponto fundamental! Acabe-se de uma vez por todas com a merda dos processos contra os sócios que constituíam a anterior Direcção! Vamos virar a puta dessa página e andar para a frente!). Aguarda-se uma melhor comunicação (princípio básico: não pode passar por este Presidente, que é simplesmente incapaz de o fazer, e terá por isso que se resguardar para as outras coisas, delegando essa competência para outra alta figura que manifeste um mínimo de talento para a coisa). Aguarda-se mais transparência (com os sócios) nas relações com empresários e nas transacções financeiras de jogadores.

Isto tudo para que o Sporting volte a ser um Clube vibrante, e sentido por todos os sportinguistas, e não uma espécie de sabor de pastilha elástica que vai variando segundo a preferência deste ou daquele grupo de adeptos. Porque os sportinguistas, TODOS, merecem-no! E porque o primeiro a sofrer com o divórcio não é o Clube: é o adepto!

E eu que o diga….

comentário de Placebo

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Esta equipa do Sporting está longe de ser um primor e tem, de facto, vários elementos que têm de ir diversas vezes a jogo, que não preenchem os requisitos mínimos para um clube como o nosso. No entanto deu já, por mais de uma ocasião, exemplos inequívocos de superação e de união entre os seus elementos que lhe permitiram superar adversários mais fortes em contextos adversos.

A equipa de Lage que todos elogiam só foi derrotada a nível interno pelo Sporting, por exemplo. O Porto perdeu duas finais contra este grupo. O Braga, a jogar em casa, também foi eliminado.

Em suma, têm sido bastantes vezes para se dizer que se trata de apenas uma coincidência pois o que transparece é que há uma comunhão de objectivos que torna o todo mais forte que a mera soma das partes e ver o compromisso de Mathieu diz muito dele, mas também do contexto que o rodeia e da vontade de vencer juntamente com os seus colegas e treinadores.

Antes de Keiser tivemos muito melhores plantéis, uma equipa técnica infinitamente mais cara, mas não vimos na hora H esta vontade de vencer e a disponibilidade para sofrer que agora vemos.
Este é o ponto que mais agrado me tem causado e que me faz acreditar que com tempo e com planeamento atempado Keiser pode fazer melhor pois poderá corrigir as lacunas no plantel que hoje saltam à vista de todos.

Conquistou o direito a essa oportunidade e sempre com uma elevação no discurso que – e aí desculpem quem não concorda- dá gosto ver pois faz jus ao nosso historial como clube exemplar no panorama desportivo nacional.

Aqueles homens foram ao Jamor resgatar aquilo que injustamente lhes foi tirado há um ano. Agora num contexto bem mais difícil e quase contra todas as probabilidades, mas fizeram-no e isso foi lindo e tornou esta taça mais especial do que todas as outras, daí que perceba perfeitamente a emoção que tomou conta do Frederico Varandas pois foram inúmeros os exemplos que fui lendo pela net de sportinguistas profundamente comovidos com a vitória.

Os meus filhos ficaram em êxtase com a minha alegria e loucura a saltar e gritar quem nem um louco em frente à TV da sala e isso, meus amigos, é o Sporting no seu estado mais genuíno e puro. Sem políticas, sem merdas…só um coração verde e branco a explodir no peito de um homem. Obrigado Sporting!

comentário de Leão de Sta Engrácia

*«eu ouvi o teu comentário» é servido sempre que o homem do balcão consiga distinguir uma boa posta por entre o barulho dos pratos