«Continuar o trabalho da teia do poder que temos conseguido com instituições, clubes e imprensa para que se possam somar pequenas vitórias em todos os campos: empréstimos de jogadores, relações com as federações, conselhos de arbitragens e afins’.»

O FC Porto foi “parcialmente condenado” no caso dos emails do Benfica e obrigado a pagar uma indemnização de cerca de dois milhões de euros. O tribunal considerou parcialmente procedente o pedido dos encarnados, que exigiam uma indemnização de cerca de 17 milhões de euros por prejuízos causados pela divulgação, no Porto Canal, de emails que envolvem altos dirigentes do Benfica, num alegado esquema de corrupção desportiva. O FC Porto já anunciou que vai recorrer da decisão, enquanto o Benfica aplaude a “exemplar” condenação.

No resumo da sentença, curiosamente lido no dia em que era votado o orçamento da época 19/20 do benfica, o juiz presidente do Tribunal Judicial da Comarca do Porto, José António Rodrigues da Cunha, fez-nos saber que a FC Porto SAD, a FC Porto Média e o diretor de comunicação Francisco J. Marques terão que pagar um total de 523 mil euros por danos patrimoniais emergentes e 1,4 milhões de euros por danos emergentes da divulgação da correspondência, ou seja, pelas consequências que essa divulgação trouxe ao Benfica, que se viu obrigado a contratar mais funcionários e a reforçar o sistema informático.

Além do pagamento de uma indemnização, o FC Porto terá também de entregar toda a correspondência que tem em sua posse e está proibido de divulgar publicamente o seu conteúdo. Já Pinto da Costa, presidente do FC Porto, os administradores Fernando Gomes e Adelino Caldeira e o Porto Canal foram absolvidos do processo.

Em causa está a divulgação de correspondência eletrónica do Benfica por parte de Francisco J.Marques, no Porto Canal, denunciando uma tentativa do Benfica de influenciar a rede de contactos entre árbitros. A SAD do Benfica responsabiliza o FC Porto por “danos de imagem” causados pela divulgação dos e-mails, alegando que a divulgação dos e-mails afetou a credibilidade do clube, prejudicando os seus interesses comerciais e chegando a provocar a queda de cotação das ações da SAD na bolsa.

Ora, não deixa de ser curioso que, no dia seguinte a esta decisão judicial, A Bola tenha a distinta de colocar na capa Tiago Pinto, atual diretor-geral do futebol do benfica, o mesmo que, a 14 de março de 2017, altura em que era o homem-forte das modalidades, escreveu num email: «Continuar o trabalho da teia do poder que temos conseguido com instituições, clubes e imprensa para que se possam somar pequenas vitórias em todos os campos: empréstimos de jogadores, relações com as federações, conselhos de arbitragens e afins’.»

E esse Tiago Pinto, a coberto da impunidade, deixa uma frase fantástica: «Emails? Transformámos um problema numa oportunidade!». É uma frase quase tão boa como a de Luis Filipe Vieira, quando afirmou que é mais importante meter as pessoas certas na Liga do que contratar jogadores.

Mas o que se torna mais incrível no meio de tudo isto, onde apenas se salva o não cair do ridículo de separar JMarques da Sad portistas como se fez com Paulo Gonçalves em relação à Sad encarnada (o próprio Ministério Público diz que Paulo Gonçalves atuou com conhecimento de Vieira), é que foi dada como provada a “genuinidade” dos e-mails do benfica divulgados no Porto Canal. Relatórios internos da FPF, informação sobre jogadores do fcp, manipulação de notas de árbitros, relatórios de gestão do Sporting. Tudo nas mãos do benfica. Tudo a apontar para concorrência desleal e para tráfico de influências. Mas isso não importa, certo?