Bas Dost! Quem nunca cantarolou isto, que atire a primeira pedra. Se ainda existirem pedras, depois da verdadeira chuva delas que se abateu sobre o holandês, diabolizado por uma franja de adeptos com patrocínio de uma verdadeira campanha para colocar o goleador longe de Alvalade. Capas e capas, todas tão parecidas, todas tão bem orquestradas, no fundo seguindo a linha do que aconteceu com Nani e com Montero, outros que tinham que ser empandeirados porque ganhavam demasiado.

E parece que o objectivo foi alcançado. Durante a semana que amanhã começa, Dost regressará à Alemanha, mais precisamente ao Eintracht Frankfurt que precisa reforçar o ataque depois das vendas de Luka Jovic e Sébastien Haller. Fala-se num negócio a rondar os dez milhões, resta saber em quantas prestações, mas por cá a mensagem é clara na capa dos desportivos: o Sporting vai poupar outros dez milhões em salários. E está completo o filme: o abominável Dost das neves, esse maldito que rescindiu e aceitou regressar aumentando o vencimento e que a partir daí deixou de correr e passou a ser um problema para a equipa, está despachado!

Ora, enquanto os gajos que lhe deram com o cinto na cabeça, há quase ano e meio, ainda não foram expulsos de sócio do Sporting, há quem bata muitas palminhas e solte um “até que enfim!” perante a saída do gigante que chegou a Alvalade com a missão de fazer esquecer Slimani e que, na primeira época, apontou 36 golos e viu Messi roubar-lhe a Bota de Ouro.

Mas, mesmo com esses números numa época em que a equipa pouco ou nada jogava (a segunda de JJ), havia quem dissesse que Dost tinha que correr e pressionar mais (aposto que alguns teriam saudades de ver o Purovic, sob a batuta do Paulo Sérgio, baixar ao meio campo, fazer de pivot de, depois, largar numa patética e infrutífera correria em direcção à grande área). O camisola 28 manteve-se impávido e sereno, continuou a correr o que as suas características lhe permitem correr e… toma lá mais 34 golos com direito a um dos melhores cânticos alguma vez criados para um jogador.

80 golos em duas época, uma cintada na cabeça durante o ataque à Academia, a maldita final da Taça frente ao Aves, a rescisão, o regresso. Aqui, e por muito que Bruno Fernandes tenda a contrariar-me dentro de campo, é o momento em que eu dou o braço a torcer, pois acho que quem rescindiu deveria ter interrompido aí a sua ligação ao Sporting. Mas Dost voltou, apanhou com Peseiro e depois com Keizer, lesionou-se durante semanas, perdeu peso na equipa, foi olhado mais de lado pelos adeptos. Ainda assim, em 22 jogos para o campeonato, o holandês apontou 15 golos, a que juntou sete para as Taças internas e um para a Liga Europa, redimindo-se no Jamor, na final ganha ao fcp.

Mais de 90 golos em três épocas de Leão ao peito e uma média de um golo por cada 90 minutos jogados. E o que importa, na hora da despedida, é que ganhava demasiado. Uma vergonha patrocinada por quem está à frente do clube e engolida, de nariz tapado, por centenas de adeptos capazes de esquecer o quão nocivo para Bas Dost é o futebol que o Sporting vem praticando há oito meses. Por centenas de adeptos que, no barulho das luzes, se esquecem que Dost sai porque o Sporting é treinado por alguém que não sabe o que fazer com um dos maiores goleadores da história leonina (tal como parece não saber o que fazer com um dos mais caros jogadores da nossa história, Vietto) e que ainda recentemente, no jogo de apresentação, mostrou, com um golaço, que só precisa que as bolas lhe cheguem em condições.

A menos de quinze dias do fecho do mercado, o plantel fica reduzido a um avançado, Luiz Phellype (ainda não se percebeu se Dala conta e Pedro Mendes foi esquecido nos sub-23). E para quem está tremendamente convencido de que fizemos um grande negócio e que libertámos 20 milhões, é bom que se lembre que parte do dinheiro da venda vai para abate de dívida e que um ponta de lança que faça a diferença… não é barato e não vem ganhar pouco dinheiro. A não ser que o scouting puxe dos galões e nos surpreenda a todos com dois reforços meio desconhecidos de qualidade inequívoca (até porque jogar a cartada regresso do Slimani será tudo menos trabalho de scouting).

Para Bas Dost, o meu muito obrigado. Pelos golos, pelo cântico, pelo apelido que a minha filha adoptou como nome de guerra, pela identificação com o clube, por aqueles gritos medonhos nas celebrações dos golos, transformados em sorrisos rasgados e em abraços tão grandes que pareciam também envolve-nos na molhada. Para mim, há coisas que continuam a valer bem mais do que libertar uma célula no excell dos vencimentos.

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