Na temporada de 2016/17 a equipa sub19 do Sporting Clube de Portugal sagrou-se campeã nacional com apenas duas derrotas em 36 partidas e uma impressionante marca de 100 golos marcados contra apenas 26 sofridos. Na altura, era unanime entre todas as hostes leoninas que estávamos perante uma incrível geração de atletas, com opções de qualidade em praticamente todas as posições e que era secundada por uma equipa de Juvenis igualmente entusiasmante.

Pediu-se, e com toda a legitimidade, tempo aqueles miúdos para que a entrada no futebol profissional não fosse de repente. Eram meninos, alguns com apenas 17 anos, que precisavam de continuar a sua formação como futebolistas para que pudessem dar frutos mais tarde na equipa principal. No entretanto… aconteceu o Sporting.

Sabemos por experiência que muitas destas equipas “sensação” resultam apenas em quatro ou cinco jogadores que acabam por se impor no onze da primeira equipa. Sabemos que a aposta na formação é muitas vezes (em Portugal) mais fruto do mau planeamento do mercado do que uma aposta sustentada. Sabemos que pelo meio acontece a vida, as lesões, os contratos, os agentes e os treinadores que não abdicam de certas teimosias. Mas também conhecemos o nosso ADN.

Hoje, a equipa que nos enchia de esperança no futuro e a geração de ouro que ai vinha (friso novamente que existia uma equipa de Juvenis bicampeã também metida nestas contas) não foi mais do que uma das muitas ilusões que se esfumaram rapidamente com a gelada chapada que tem sido a nossa estrutura de futebol profissional.

Thierry Correia (Valência), Abdu Conté (Moreirense), Demiral (Juventus) e Tiago Djaló (Lille) já não fazem nem farão parte dos quadros profissionais do clube. Luís Maximiano, que se assumiu esta temporada como segundo guarda-redes da equipa principal, vai oscilando entre convocatórias e alguns minutos nos sub23. No meio-campo, que teve como destaques maiores Bruno Paz, Pedro Ferreira, Miguel Luís e Daniel Bragança, nenhum teve ainda uma sequência de jogos pela equipa A. Pedro Ferreira é agora jogador do Varzim, Bruno Paz recupera de uma lesão complicada, Daniel Bragança seguiu para mais um empréstimo absurdo que em nada vai valorizar o jogador e Miguel Luís aguarda pacientemente que o Sporting faça consigo o que já conseguiu com Chico Geraldes. Na frente, Pedro Marques está na segunda divisão holandesa, Elves na segunda portuguesa e Rafael Leão foi o que todos sabemos e que nem vale a pena recordar.

E, num instante, entre negócios surreais, ingratidão pura, falta de contratos e falta de planeamento, um conjunto de jogadores que poderia transformar o Sporting num clube mais competitivo, oferecer mais opções aos sucessivos treinadores e manter a identidade do clube intacta, foi desfeito. Nenhum (convém mesmo frisar o nenhum) foi aposta verdadeira na equipa principal, nem mesmo Jovane e Miguel Luís que parecem destinados a um banco sem fim.

Adorava dizer que tudo isto foi apenas fruto da instabilidade que se sentiu no clube desde há ano e meio para cá e que a paciência será a chave para recuperar de uma geração desperdiçada. Mas, a triste realidade, é que alguns jogadores continuam sem renovar os seus contratos (Felix Correia foi outro que nos abandonou no Verão) e que a aposta na equipa principal não passa de um chavão que dirigentes do Sporting atiram para o ar para continuar a justificar os despedimentos de treinadores, que são mais vítimas da incompetência dos seus patrões do que da sua.

Um clube que quer dar um rumo diferente à sua equipa e pretende recuperar o ADN perdido, não deixaria nunca Pedro Mendes fora das contas para a Liga (fosse quem fosse o treinador). Um clube que quer continuar a ser a maior marca da formação em Portugal não permite que jogadores de classe inegável se passeiem por campos pastosos da segunda divisão, onde não vão aprender absolutamente mais nada sobre o que é lutar por títulos e jogar num clube da nossa dimensão. O Sporting transformou-se de tal forma na maneira como olha para os seus jovens que hoje, com uma equipa sub23 incrível e a somar apenas vitórias, ninguém acredita que isso resulte em mais do que jogadores cedidos e desilusão após desilusão a cada pré-temporada.

Mitrovski, Matheus Nunes, Bruno Tavares, Joelson, Pedro Mendes, Tomás Silva, Eduardo Quaresma, Nuno Mendes, Rodrigo Fernandes, e muitos outros. Todos eles a iniciar a temporada a um grande nível e a provar que podem ter uma a palavra a dizer nas contas de mais uma época que se adivinha longa. Até ver, o mais certo é que daqui a ano e meio eu escreva este texto outra vez, mudando apenas os nomes.

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*quando a mostarda lhe chega ao nariz, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa