São perto das três da manhã e não prego olho. Daqui a umas horas, os alunos entram pela sala dentro e vai ser um pincel para dar uma aula em condições.

Numa fase da vida em que o futebol é já uma questão muito relativizada, estranho este desajuste, esta incompatibilidade tanto com o sono, como com a derrota. A verdade é que o Sporting perdeu com o líder Famalicão, mas pior que a derrota é compreender que, uma vez mais, a nossa foi a equipa mais fraca. Tecnicamente, taticamente, fisicamente.

É, de facto, a mediocridade que me aflige. Uma mediocridade militante, reiterada em decisões tão inverosímeis como a substituição do Vietto ou a entrevista do Salgado Zenha. Confirmada por um “líder” absolutamente incapaz. Inepto a toda a linha, como tão bem demonstrou na demissão a Keiser. É essa mediocridade que não tolero, que me mantém acordado e que me promete um dia de merda amanhã.

Porque ser Sporting é o oposto dessa mediocridade. Os dezoito anos de jejum foram duros, mas tivemos Silas, Douglas, Figo, Valckx, Luisinho, Balacov, Amunike, Cadete, Juskowiak e tantos, tantos outros jogadores que nos cativaram. Hoje, prevalece uma sensação de orfandade, uma assunção de perda, de irrelevância.

O Sporting, os sportinguistas têm de digerir mais de três décadas de fracasso. Assumi-las em todo o seu horrendo. No futebol, não somos grandes. Pelo menos, não somos grandes há muito tempo.

É um sabor amargo, bem sei. Um fel que incomoda e perturba. Mas assumir o fracasso do passado pode ter uma coisa boa. Pode ser que a fome do leão seja, novamente, despertada. Que ressurja para reclamar o seu lugar de rei, cientes da luta inclemente que nos aguarda.

Alguns passos devem ser dados. Primeiro, a direção reconhecer a sua mediocridade e a sua incapacidade para liderar os destinos do clube. Em segundo lugar, criar uma estrutura de transição que nos poupe a vergonhas semanais e que potencie o grupo de jogadores que ainda mantenho. Em terceiro, que crie condições para que o próximo ato eleitoral decorra dentro de um espírito verdadeiramente democrático. Isso implica uma revisão do peso dos votos de cada associado e, porque não, abrir caminho a uma reversão das medidas adotadas nas últimas assembleias gerais. Não advogo sebastianismos, mas defendo que é preciso a participação de todos os adeptos, sem atilhos, sem mordaças, sem hierarquias castradoras. Pois, precisamente, esses predicados nos conduziram a este pântano.

Quebremos a roda, o círculo vicioso em que nos deixámos enredar. Representemos, dignamente, a alma do leão.

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*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]