Tenho bastante clara a ideia que para este CD do Sporting, a próxima janela de mercado é a última oportunidade para mostrar alguma competência a nível da gestão desportiva no futebol profissional. A contenção de custos é muito bonita de defender, fica estupenda nos relatórios de contas, mas carece de um plano ou de uma visão mais alargada que a justifique, especialmente quando observamos uma quebra acentuada de resultados desportivos e consequente descida de parâmetros tão importantes como assistência no Estádio de Alvalade ou a fraca valorização de jogadores.

Dispensar ou vender jogadores sem impacto na competitividade da equipa é uma coisa, amputar o plantel das soluções mais valiosas a curto e médio prazo, é outra e, sinceramente, temo o que viria (por exemplo) em substituição da transferência (mais anunciada que previsível) de Bruno Fernandes. Num ano e poucos meses, a Direção de Varandas não conseguiu mais do que manter a equipa em “modo sobrevivência” e a tão propagada “melhoria” do conjunto está difícil de ser observável. Bem pelo contrário, piorámos dramaticamente as nossas aspirações a uma vaga na Champions League, caímos na 1ª eliminatória que disputámos da Taça de Portugal e só um milagre nos manterá na Taça da Liga.

Tenho-o escrito, fosse qual fosse a visão e a estratégia para composição do plantel de 20109/20 (o tal onde o CD sempre apontou como o verdadeiro teste à sua capacidade) a verdade é que falhou redondamente. Primeiro porque, ingenuamente, desenhou planos em cima de cenários e não em factos e, segundo, porque se comprovou não ter qualquer plano secundário que permitisse não ter incorrido na asneira de resgatar valores como Bolasie, Jesé ou Fernando, jogadores que pertencem aquele lote que só clubes desesperados e sem qualquer plano específico de mercado, vão dar espaço nas suas equipas.

Não me entendam mal, não acho Bolasie ou Jesé maus jogadores. Tal como nunca achei Markovic e Joe Campbell maus jogadores. Não são maus. São é jogadores “perdidos”, à procura de uma recuperação de identidade, de confiança, de uma base sólida e segura que lhes devolva o estatuto que perderam em sucessivas épocas de desvalorização. Estes eram precisamente o perfil que um clube na posição do Sporting mais deveria ter evitado. A equipa precisa de valores que lhe devolvam confiança e estabilidade e não jogadores a quem lhes falte precisamente isso.

As chegadas por empréstimos dos acima referidos não foram os únicos erros que Hugo Viana e Varandas cometeram. Houve mais, tantos quanto as exibições e os resultados podem comprovar. Pode-se invocar falta de recursos e “heranças pesadas”, mas a desculpa esfuma-se rapidamente quando comparamos a vivacidade e os resultados de outras equipas do nosso contexto, equipas com metade ou um terço do nosso orçamento. Não cola meus senhores. O problema do Sporting vai muito para além de “não ter dinheiro” e embate de frente com “não saber gastar o dinheiro que se tem”. A primeira dificuldade ao olhar os movimentos que o Sporting tem feito no mercado é identificar qual é mesmo o objetivo principal e sinceramente fica mais fácil de concluir um “desinvestimento feito a peso de ouro” do que um “investimento racional e objectivo”.

O caso de Bas Dost é toda uma enorme ilustração de erros de avaliação, de incapacidade de negociar, de inexistência de persuasão junto dos operadores que podem ajudar a criar bons plantéis. Desde o próprio jogador, que nunca conseguimos atrair para um ponto de encontro médio entre interesse de clube e atleta, até à completa ausência de estratégia de venda (começámos a pedir 3 vezes mais o valor com que acabámos por vender), passando pela incrível inabilidade em garantir a substituição do avançado de referência da equipa. Esta foi uma saga de falhas e equívocos, que não sendo uma novidade foi um preocupante sinal de que há muito mais desnorte do que rumo em quem está lá dentro.

Está mais que visto que todo este cenário que vos refiro não fez (até ao momento em que escrevo pelo menos) Varandas acreditar que era preciso mudar as peças, recriando uma nova estrutura responsável pela composição do plantel, as vendas e compras, em quem apostar e quem emprestar. E dessa forma, meus caros, ou a próxima janela de mercado mostra o que ainda não mostrou até agora ou a última vida deste “gato” findará aos pés dos jogadores que compuserem a equipa que irá disputar a 2ª volta da Liga e a fase a eliminar da Liga Europa.

Digo-vos antecipadamente, que acho um erro épico de Varandas continuar a depositar confiança em Hugo Viana ou Raul José (ou seja quem for que tenha contribuído), tanto como manifesto que nada me move contra esses nomes como pessoas, tenho até muita pena que tenham falhado. Porém, por muito boas pessoas que sejam, estão no Sporting para o tornar forte. Mas se avalizaram o que temos agora, acreditando que daria para mais do que lutar pelo 3º ou 4º lugar, só merecem terminar o seu percurso no Sporting, pois para qualquer adepto esse cenário passou a ser impossível ainda nos últimos dias de Agosto.

Era urgente mudar profissionais pagos para tomar decisões no futebol do Sporting que não conseguem ver que:
1/ Borja deve ser vendido quanto antes;
2/ Luis Neto pouco ou nada acrescentou até agora;
3/ Ilori é uma teimosia que nos sai tão cara quanto a falta de espaço para Domingos Duarte, Ivanildo ou Eduardo Quaresma;
4/ não temos um 6 capaz de dar solidez defensiva à equipa;
5/ somos a equipa do mundo com mais “8´s” que não sabem jogar a “8”;
6/ Wendel é um diamante que continua por polir (sobretudo a nível mental);
7/ Miguel Luis precisa de crescer numa ambiente menos intenso que o Sporting;
8/ D.Bragança a ser chamado, que venha para ser aposta e não aquilo que se fez a Podence ou Francisco Geraldes noutras épocas;
9/ Pedro Mendes pode ser uma solução para ir “entrando”, mas do que a equipa precisa mesmo é de um ponta de lança “a sério”;
10/ Bolasie até pode permanecer (não vai haver “tempo” para fazer tudo) mas seria urgente devolver Jesé e Fernando;
11/ Tem de ser dado mais tempo de jogo a Doumbia, Camacho e Rosier para aferir que tipo de investimento foi feito;
12/ Falta claramente um desígnio para Plata dentro da equipa;
13/ vender Coates, Bruno Fernandes ou Acuña é um erro inconcebível se não existirem substitutos claramente (sublinho a adjectivação) bons para os substituir;
14/ Eduardo precisa de reforçar os níveis de confiança e isso pode não ser obtido só com mais tempo de jogo (aliás parece estar mesmo a acontecer o contrário)
15/ A preparação física dos jogadores é deplorável;
16/ Jovane é um empréstimo só à espera de acontecer;
17/ A incluir Matheus Nunes na equipa, terá sempre de implicar a saída ou de Battaglia ou de Eduardo (o plantel não pode ter mais médios centro, sobretudo quando podemos passar a jogar apenas de semana a semana);
18/ Geraldes, Bruno Gaspar e Dala estão a perder mais um ano das suas carreiras;
19/ Bruno Tavares, Joelson e Eduardo Quaresma já estão prontos para outro patamar competitivo.
20/ Renan dará para safar enquanto existirem outras lacunas, mas urge decidir se Max será o “futuro” ou devemos encontrar o “dono da baliza” noutras paragens.

Todas estas conjecturas são mais ou menos óbvias e minimamente consensuais nos que seguem a atualidade do clube. O que é mais grave é que ninguém faz a mínima ideia quanto são partilhadas por quem toma decisões dentro do clube. Isso gera em mim e tantos outros uma natural desconfiança, que se agrava quando seria com base nestes mesmos 20 pontos que ocorreriam todas as grandes decisões que serão tomadas desde agora até ao final de Janeiro. Seguramente será difícil intervir em todos estes dados, mas em pelo menos metade é urgente uma clarificação e intervenção imediata. E é isso que cada vez vejo menos capacidade ou vontade – intervenção rápida e assertiva.

Os problemas arrastam-se, avolumam-se, as dúvidas alastram-se e o resultado global é uma asfixiante vontade de confrontar Varandas, Hugo Viana ou Raul José. De lhes perguntar “para onde vamos”, se “não estão a ver o que é a nossa equipa” ou mesmo se “têm alguma ideia de como vamos ajudar Silas a ter uma equipa melhor na 2ª volta”.

Como referi no início do texto, as próximas decisões deste CD no que diz respeito à equipa de futebol principal, serão as últimas sem uma consequência fatal. Não vai haver comunicação, spins ou desculpas plantadas em jornais que consigam mais disfarçar os erros e a conclusão final de que não sabendo “conduzir o carro” podem continuar a ser os “condutores designados”. O não recrutamento de um novo Director Desportivo e de um novo staff para gerir mercado ou scouting empurra toda uma Direção para dentro das quatro linhas, absurdamente dependente da evolução da equipa dentro das mesmas.

Para os atuais Orgãos Sociais não deixará de ser uma surpresa o quão rápido irá a “central” deixar de acreditar na margem deste CD e tenho mesmo a certeza que os deixará siderados a pressão que irão sentir para que sejam os próprios a decidir o seu fim, mas não tenho dúvidas que será uma inevitabilidade, assim que as decisões da 3ª janela de transferências destes dirigentes tenha o seu primeiro sinal de impacto negativo.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca