Desde a última rubrica jogámos por quatro vezes. Duas vitórias e duas derrotas, estando tudo repartido entre masculino e feminino. O que também foi repartido foi a desilusão das duas derrotas. A equipa masculina perdeu com o Calcit Kamnik por 3-1 (18-25; 15-25; 25-23; 20-25) e depois foi vencer, brilhantemente, o Sporting Clube de Espinho por 3-1 (25-18; 17-25; 25-16; 25-18). A equipa feminina venceu o SC Braga por 3-0 (25-15; 25-22; 25-18) e foi atropelada pelo AVC Famalicão por 3-0 (25-12; 25-15; 25-13). Até ao final do ano, trarei um balanço desta metade de época.
Podia continuar por aqui, mas por vezes começo a pensar e divago por onde não seria suposto. Esta semana dei por mim a pensar na nossa responsável de comunicação – Cláudia Lopes.
Gosto da Cláudia Lopes pelo que nos mostrou na TVI e vi com muita satisfação a vinda para o nosso Sporting Clube de Portugal. Profissionalmente, foi um desafio que resolveu aceitar, sabendo da dificuldade que seria pegar num projeto destes.
Porque é que me lembrei da Cláudia Lopes?
O Sporting está a passar por dificuldades e uma das maiores é, na minha opinião, a forma como estamos a tratar o segmento feminino. Nós, como portugueses sportinguistas, devíamos estar mais preocupados com este tema do que com a performance desportiva do Borja. Não que tenha pouca importância o Borja, mas porque a questão desportiva é uma situação de gestão e a questão do desporto feminino é de personalidade e carácter.
Sendo um pouco arrogante, admito que reparar nesta lacuna grave que falo é uma questão de inteligência e sensibilidade. Uns têm, outros não. Será mais fácil perceber para quem tem uma filha a praticar desporto de alta competição, ou uma irmã que trabalha 12 horas por dia para se fazer notar numa rádio, ou para quem tem uma mãe que ajudou Portugal a ser livre.
É aqui que entra a Cláudia Lopes. A Cláudia é jornalista desportiva, com um nome criado através do futebol. Ora, juntar jornalismo + futebol é o mesmo a dizer que a vida dela pode não ter sido nada fácil. Aliás, não foi! Estes dois mundos são tomados pelos homens, especialmente o futebol, em Portugal. Uma referência da televisão, Maria Elisa, dizia no podcast “Beleza das Pequenas Coisas” (recomendo!) que “claro que fui assediada. Mais de 90% das mulheres da TV e vida artística responderão que sim, se forem honestas”. A dificuldade das mulheres é uma evidência mundial, de outra forma não seriam necessários Planos de Igualdade e outras coisas do género.
(Lamento, mas não aceito argumentos de que os “homens também são assediados” e também são alvos de bullying. Porquê? Para cada homem que isto acontece, há 100 000 mulheres na mesma situação. Não é, de todo, uma comparação justa.)
Quero com isto dizer que a Cláudia Lopes já deve ter passado dias bem difíceis para conseguir chegar e atingir este reconhecimento profissional. Tanto é que, na sua apresentação, não se coibiu de afirmar que “para as mulheres, o futebol e o desporto, genericamente, não são muito favoráveis. Ter um convite destes, enquanto mulher, também pesou. Dentro do futebol, a carreira das mulheres é sempre um bocadinho a pulso”.
Então, porque é que a Cláudia deixa isto estar a acontecer?
O “isto” é (1) na agenda anunciada referente aos jogos no PJR, as modalidades femininas são esquecidas; (2) nesta última visita das equipas das modalidades à Academia e respetivo jantar de Natal, apenas aconteceu para as equipas masculinas; (3) a Gala Honoris onde as únicas referências femininas são no prémio “Equipa Feminina do Ano”, aqui também é o óbvio; (4) o Sporting Summit de março com zero referências diretas a equipas femininas e apenas uma palestrante mulher; (5) o editorial do Jornal do Sporting (6) a objetificação da mulher na apresentação dos equipamentos ou na última mensagem de Natal. Concretamente, e puxando ao voleibol, certamente haverá alguém apaixonado pela Matilde na equipa de comunicação; (7) o horário dos jogos no PJR, dando o exemplo do último derby de hóquei em patins feminino, marcado o jogo para as 22h00; (8) certamente que se vão lembrar de mais relacionadas com o Futebol Feminino; (9) a associação do patrocínio do “Espaço Casa” para as equipas femininas, (10) ou o constante atraso na informação dos resultados. Parece-me que deu para passar um bom ponto de vista.
Em nenhum momento falei das diferenças de orçamento, apesar de eu achar que podia ser diferente. Neste aspecto, não é suposto haver igualdade porque, simplesmente, se trata de gestão desportiva. Um exemplo prático próximo da minha opinião é a opção feita pela AJ Moreira/FC Porto ou Leixões. No caso da primeira equipa referida, o seu presidente referia, numa entrevista, que tinham uma equipa masculina e feminina. Como não havia dinheiro para tudo (o que não é o caso do Sporting) tiveram de tomar opções. Esta foi por uma equipa feminina pronta a ser campeã nacional.
Também muitos têm a opinião de que as equipas femininas não são atrativas desportivamente. Bastando “ver o número de adeptos que vão ao PJR assistir aos jogos”. Quando o mundo desportivo está a dar cada vez mais destaque ao segmento feminino (pelo retorno financeiro e mediático), nós achamos que a nossa amostra é fidedigna? Lamento, não é. Falta trabalho.
É evidente que estamos perante uma situação muito grave que nos devia preocupar, não só como sportinguistas, mas principalmente como pessoas. Isto influência a competitividade das equipas, a atratividade a jovens meninas a serem nossas adeptas ou ao reforço de uma imagem de um clube eclético. Gostava que a Cláudia Lopes tomasse uma posição interna séria sobre este assunto tão importante, que aqui foi apenas mostrada a ponta do novelo de lã. Tornou-se claro que o responsável pelas modalidades, Miguel Albuquerque, atingiu o seu Princípio de Peter. Notoriamente, tem ideias boas para o “seu” futsal masculino, mas terríveis para os restantes departamentos à sua responsabilidade. Felizmente, as suas ideias são tão transparentes quanto más.
Adoro voleibol. Adoro o Sporting. Hoje escrevendo mais sobre o feminino, admito um fraquinho, desde da primeira época, pela nossa equipa feminina. Elas foram as únicas com a capacidade de me fazer tocar no Sporting Clube de Portugal. Tocar mesmo. Deram-me a oportunidade de olhar para a minha paixão de uma vida, não como um amor platónico e “lá longe”, mas algo que está mesmo aqui ao lado. O gigante Sporting, por momentos, já teve o meu tamanho. Este ano até ganhei uma nova paixão. Claro que a Fernanda tem o meu coração, mas a Ana Couto é a minha nova paixão de Verão (suspiro duplo).
Vou concluir. Acho, sinceramente, que a Cláudia Lopes pode e deve ser a sustentação deste respeito que as mulheres merecem no Sporting. Isto não lhe pode ser indiferente. Nem a dificuldade da conjuntura pode impedir que tente. Pelo menos tente. O Sporting Clube de Portugal não é um jogo do tanto faz.
*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol)
17 Dezembro, 2019 at 23:16
“O que também foi repartido foi a desilusão das duas derrotas. A equipa masculina perdeu com o Calcit Kamnik por 3-1 (…)”
Hoje conseguiram a reviravolta, vencendo o OK Kamnik por 3-0 e garantindo a passagem aos oitavos-de-final da CEV Challenge Cup com o triunfo no ‘golden set’.
17 Dezembro, 2019 at 23:56
Muito boa refeição!
Eu sou adepto do desporto feminino. Consigo perceber as diferenças e acho que as pessoas, incluindo as jogadoras, têm de ser também capazes de as perceber. Acho ridículo compararem o que ganham os jogadores de futebol com o que as jogadoras ganham e ficarem a chorarem por ganharem menos. É evidente que os ordenados que se pagam estão indexados, melhor ou pior mas estão sempre, ao que as respectivas modalidades velem em termos de dinheiro que geram. E isto é valido para todas as modalidades, em ambos os géneros. Por alguma razão os jogadores masculinos de andebol também ganham muito menos que os futebolistas… E não os vejo a chorarem por isso…
Sobre o que acontece no Sporting, e a pouca, ou nula, divulgação dos jogos femininos, é uma evidência desde há algum tempo. Não tenho a certeza que seja a Cláudia a responsável por isso mas espero que ajude a resolver este problema.
A equipa feminina de voleibol tem estado abaixo do que eu esperava mas talvez o problema seja eu ter expectativas irrealistas e não o desempenho da equipa. 🙂
Boa vitória da equipa masculina hoje, revertendo um mau resultado e passando a eliminatória com categoria!
17 Dezembro, 2019 at 23:57
Não era suposto ser uma resposta a ti, Grilo! 😉
18 Dezembro, 2019 at 11:47
Eu percebi. 😉
18 Dezembro, 2019 at 0:15
As modalidades femininas estão a ser ostracizadas de forma vergonhosa.
Já nem me lembrava que a Cláudia Lopes ainda andava cá, pensei que o favor estivesse pago e fosse à vida dela, mas reforço a ideia de que o impacto dela será o mesmo da Irene palma
18 Dezembro, 2019 at 8:04
Tem o Adrien toda a razão…
Devia dar-se mais atenção ( e apoio) também ao Desporto “no feminino” …
E é claro…toda a gente deve ser respeitada e as mulheres, claro…porque não deverão se-lo…?
18 Dezembro, 2019 at 9:04
Tb tinha algumas expectativas na Claudia Lopes, pelo que tem sido uma desilução. Mais uma! São tantos os casos de pessoas que chegam ao Sporting e parecem perder o seu profissionalismo … estranho! Só consigo explicar por um grave problema de liderança interno! São décadas (desde o saudoso João Rocha) de más lideranças (umas por apatia, outras por arrogância, outras por incapacidade, muitas por interesses próprios, etc, etc) a contribuírem para uma cultura interna de falta de responsibilização e espírito de conquista.
Apesar de não gostar, por princípio, de andar sempre em eleições, estou absolutamente convencido que enquanto não conseguirmos eleger um CD digno da história do Sporting, iremos continuar a navegar neste pântano de desilusões e equívocos.
18 Dezembro, 2019 at 11:33
Na mouche, uma vez mais, RV!
18 Dezembro, 2019 at 14:06
Bom comentário.
18 Dezembro, 2019 at 14:10
Excelente análise.
18 Dezembro, 2019 at 9:39
Parece-me que infelizmente a Cláudia Lopes não estará virada para fins tão nobres. Veio para o Sporting por dinheiro (não esquecer que somos um clube de malucos) e para mediar a propaganda do regime. Deveria ter vindo noutros tempos, quando havia um regime que merecia ser defendido contra a lama que lhe era atirada diariamente pelas “Claudias Lopes” da vida.
18 Dezembro, 2019 at 9:43
Tudo o que esta direcção contrata é, na melhor da hipóteses, medíocre….
Tirando honrosas excepções nas modalidades e que tenho poucas duvidas…lá para o final do mandato…já deixaram de o ser…
18 Dezembro, 2019 at 10:09
Então e as insides do bacalhau à braz?
Será o preço do sucesso?
Queres ver que os homens também não se vendem para subir na vida e ganhar uns tachitos?
18 Dezembro, 2019 at 11:35
pois é…
there’s never ever free lunches!
as cartas tão já quase todas em cima da mesa… só vê, quem literalmente não quer!
18 Dezembro, 2019 at 11:45
*errata – só não vê
18 Dezembro, 2019 at 11:41
Se a grande maioria dos adeptos só dá importância ao futebol (às restantes modalidades, é apenas quando jogamos com o Benfica e com o Porto), é “infelizmente” natural que as modalidades na vertente feminina sejam ignoradas…
18 Dezembro, 2019 at 11:44
Bela posta A, com de costume, hj a pôr o dedo numa evidência que só passa despercebida aos mais distraídos.
Voltando ao Volleyball, que jogaço fizemos ontem (parabéns ao ambiente no PJR).
mental note – pq fazer a Gala SCP no mesmo dia e hora do jogo… QUANDO é q este gente q nos dirige vai deixar de ser INCOMPETENTE?
18 Dezembro, 2019 at 11:50
Caro Adrien S.
Subscrevo INTEIRAMENTE o que escreveste.
Um dos modelos para os meus filhotes foi campeã nacional, vice-campeã europeia, vencedora de taça de Portugal… Tudo isto e muito mais.
Alimentou-lhes o gosto por um desporto (que agora não praticam), e que os fez apoiar a equipa onde jogaram e onde jogavam os amigos contra o Sporting (vê lá tu isto…).
Esta atleta e outras mais, que os acarinhavam, tiravam fotos com eles, entravam em campo… tudo isto num clube pequeno, mas grande no que era importante, o Os Lobinhos, de Vale de Lobos, Sintra.
Esta atleta hoje é a nossa treinadora do hóquei em patins, Andreia Barata.
E temos em casa um stick assinado por ela, aquando a caminhada para o cameonato nacional.
Sinto isso, e também nas nossas leoas ovais. Temos garra, atitude, entrega esforço… tudo o que um atleta deve dar ao clube e equipa.
Mas nas nossas atletas temos uma luta constante contra o preconceito, contra a indiferença e quase o abandono a que são votadas.
Jogarem um derby com mais jogadoras em campo que assistentes…
Ou uma taça de Portugal, em mesmas condições, são antes de mais uma vergonha. Sei que os atçetas têm que puxar pelos adeptos…. e os adeptos?
Não têm que apoiar?
Recordo a emoção que os putos do rugby me transmitiram uns anos atrás.
Fomos ao dia das modalidades no Estádio, e antes de entrarmos fomos à tasquinha do DUXXI.
Fizeram um a festa do caraças aos putos, e prometeram fazer barulho quando eles entraram…
E assim foi, eles entraram e ficaram perto das claques, e foi uma festa… ainda há semanas um nossos jogador, que está convocado para estágio da seleção me disse que foi das maiores emoções que sentiu.
Não retirem a estas nossas atletas e às nossas formações das nossas modalidades o Sal que os emociona.
Acarinhem-nos, e a elas também, façam-as sentirem importantes.
Vaidosas de serem o Sporting Clube de Portugal.
Porque senão nunca o seremos, colectivamente.
Talvez o Sporting Footballers Lisbon.
Nunca o SCP.
Abraço.
18 Dezembro, 2019 at 12:02
mt bom Escondidinho… clap clap clap 🙂
18 Dezembro, 2019 at 12:07
Obrigado!!!
18 Dezembro, 2019 at 13:21
Bom comentário, aqui em cima.
18 Dezembro, 2019 at 12:56
Mais uma vez … Excelente POST!
Quanto ao assunto da Cláudia Lopes … Só tenho uma pergunta a acrescentar ao que escreveste e bem! …
‘A Cláudia Lopes ainda trabalha no Sporting Clube de Portugal???’
Atenção que ‘trabalhar no SCP’ é muito diferente de ‘trabalhar para o SCP’ … É quase como o “servir o SCP” vs “servir-se do SCP” …
18 Dezembro, 2019 at 13:15
E eu acho que a Cláudia . . . Apenas se está a “servir” do SCP …
Não destoa nem nada dos que a ‘convidaram’ …
18 Dezembro, 2019 at 13:25
Mais um belo texto do Adrien S. .
Não se compreende o que esta direcção está a fazer com as modalidades femininas. Em vez de acompanhar a evolução incrível do resto da Europa, nomeadamente no futfem, a regressão é por demais evidente.
18 Dezembro, 2019 at 18:05
Se recuarmos 2-3 anos no tempo, recoradamos a curiosidade primeiro e as imensas alegrias que nos proporcionaram as novéis equipas femininas depois: campeãs crónicas em todos os escalões do rugby, quase que o mesmo em futebol, boas equipas no futsal, transmissões directas, jogos em Alvalade e records de assistência a nível europeu!!!
O nosso sucesso no feminino e não só era de tal ordem que arrancou dos gonzos a P18 e o Chapo nacional, que como todo o Capo que se preze não é parvo, logo se apercebeu do perigo que constituíam as nossas vitórias e o que isso representava em termos de mobilização das mulheres; Imediatamente decretou a importação urgente de uns camiões de brazucas, treinadores e indispensáveis pastores, para quebrarem a nossa hegemonia nascente. Até aqui, tudo normal.
O anormal aparece quando a um fulano como o Miguel Albuquerque, responsável-mor, dizem, pelo excelente projecto e construção duma equipa de futsal super-ganhadora, é-lhe conferida a directoria de todas as modalidades com o propósito de tornar a matriz futsal em modelo para as restantes e entretanto um ano depois, no que concerne às equipas femininas, o resultado é exactamente o posto: assistências diminutas, TV “em greve” e as nossas equipas a arrastarem-se pelos pavilhões/armazéns deste país, batidas por quaisquer Quintas de Alguidares de Baixo e Arredores!
Que pena me dá o ver uma craque como a Catya Morgado queimar o seu enorme talento numa equipa “quelconque”, equipada com as gloriosas listadas do Sporting Clube de Portugal mas sem ambição, talento ou futuro.