– Como é que se consegue contratar um Treinador por 10 milhões de euros, se estamos a vender “tudo” para termos uma folga de tesouraria?
– Como é que se consegue encher os cofres de um rival directo?
– Como é que se consegue fazer este negócio, foi a “estrutura” que a idealizou ou foi o “inteligente” do presidente sózinho que o pensou durante o sono e depois de “uma polução nocturna”, estremunhado e mal acordado
resolveu e já está, já está e toca a assinar?
– Como é que consegue não perceber que é um tiro no escuro ou melhor autêntica “roleta russa”?
Estou atónito, incrédulo mesmo como isto está a acontecer ao meu SPORTING!!
Mas como as coisas estavam a correr, a serem feitas sem qualquer critério, sem qualquer nexo com a realidade do Clube e sem qualquer inteligência, era de esperar mais “burrices” mas esta ultrapassa tudo o que pior se pudesse imaginar!!
Quero ressalvar no entanto que desejo ao Amorim tudo de bom, que empregue todo o seu saber na construção, na preparação e na orientação da equipa e ….. muita sorte; e como dizia o Silas na despedida “que tenha a juda de todos”!!!!
1– Como é que se consegue contratar um Treinador por 10 milhões de euros, se estamos a vender “tudo” para termos uma folga de tesouraria?
Isso é algo que Varandas não explicou. A treta dos “€ 70M de orçamento para a próxima época mantém-se, € 10M é que mudam de alocação” é isso mesmo, uma treta.
Pois, como o Caro Gomez diz, isso nada tem a ver com a questão da tesouraria (isto é, pagar €10M a curto prazo em vez de diluídos – juntamente com o resto – numa época completa)
Estarmos a gastar €10M com a cláusula do Ruben Amorim só pode significar o dinheiro da venda do BF. Ou isso ou os € 10M do WBA pelo Matheus Pereira já vieram… e foram (ou vão rápido).
2– Como é que se consegue encher os cofres de um rival directo?
Provavelmente a Direcção acha que o Braga não é nosso “rival directo”.
O que é um erro, como se pode ver olhando para a tabela do campeonato e para os jogos que faltam realizar.
Mas, também, de um Clube que empresta Palhinha ao Braga – fincando sem nenhum MD de jeito – já de tudo se espera…
3- Como é que se consegue fazer este negócio, foi a “estrutura” que a idealizou ou foi o “inteligente” do presidente sózinho que o pensou durante o sono e depois de “uma polução nocturna”, estremunhado e mal acordado
resolveu e já está, já está e toca a assinar?
Muito provavelmente, “loucura” do momento. O Ruben Amorim pegou bem no Braga, ganhou a milhafres e andrades e, repentinamente, passa a “the next Big Thing”.
“Fuga para a frente” da Direcção, que terá sentido ter que fazer alguma coisa “grande” para tentar empatar a contestação.
4– Como é que consegue não perceber que é um tiro no escuro ou melhor autêntica “roleta russa”?
A questão do “tiro no escuro” acontece sempre que se contrata um treinador sem créditos firmados, suponho (Paulo Bento, Sá Pinto, Silas, bla, bla, bla). Nada de novo aqui.
Trata-se é de um “tiro no escuro” CARÍSSIMO!
Parece tão óbvio que doi…. mas há pessoal que quer continuar a acreditar no pai natal. O fivelas é apenas azarado, é apenas incompetente, é apenas um pobre coitado….. com duas casas de luxo.
Não sou um homem das letras. Mas ainda sei apreciá-las.
E sempre que leio este rapaz sinto duas coisas:
– Admiração por uma criatura com estes dotes se dignar (ainda!) a perder o seu tempo com uma causa perdida como o Sporting.
– Uma pontinha de inveja porque, convenhamos, é preciso saber muito da poda para escrever desta maneira.
Pronto, é verdade que já não temos clube.
Mas, pelo menos, ainda temos pessoas que estavam afectivamente ligadas ao mesmo e que o pensam de uma forma intelectualmente estimulante.
Deliciem-se…
Sporting: Quatro projectos e um funeral
Na noite de segunda-feira foi possível ver, por breves minutos, um homem muito velho, muito triste e muito cansado na televisão. Se a televisão tivesse o volume no mínimo e o telespectador tivesse a falta de contexto no máximo, o homem poderia parecer um dano colateral do séc. XXI, vítima de uma das desgraças locais que compõem a ecologia noticiosa: veterano de uma atrocidade distante, refugiado de um exótico apocalipse. Com os seus olhos encovados, ombros desmoronados e rosto sulcado por canais profundos, podia estar a falar de genocídio numa aldeia dos Balcãs ou do naufrágio de uma lancha no Mediterrâneo. Podia estar a relatar a sua fuga noturna de um regime totalitário ou a confessar ter visto raios C a cintilar nas trevas junto aos Portões de Tannhäuser*.
Não estava. As palavras que se ouviram foram “aproveito para informar que este é o meu último jogo à frente do Sporting” e o homem muito velho, muito triste e muito cansado era apenas um adulto saudável e funcional de 43 anos chamado Silas, a quem o Sporting aconteceu. O Sporting aconteceu a muitas pessoas nas últimas quatro décadas, e nem todas envelheceram dez anos em seis meses, nem sofreram esgotamentos (públicos ou secretos), nem viram a sua alma derretida em lume brando pelas chamas combinadas de mil circunstâncias inacreditáveis. Nem todas: apenas a maioria.
Porque o Sporting não acontece sempre da mesma maneira, nem apenas a uma pessoa de cada vez, podendo, em situações pontuais, acontecer de maneiras inovadoras a vários milhares de pessoas ao mesmo tempo, Silas aproveitou também para anunciar oficiosamente o novo treinador, Rúben Amorim.
“Será um grande treinador, mas vai precisar de muita ajuda”, informou. “Vai precisar da ajuda de todos”, acrescentou. “Desejo-lhe sorte e digo-lhe já que vai precisar de muita ajuda”, esclareceu. “Vai precisar mesmo de muita ajuda”, concluiu. A reiteração pode ter parecido curiosa aos olhos dos turistas, mas todos aqueles a quem o Sporting costuma acontecer reconheceram imediatamente o vocabulário operacional usado pelas pessoas a quem o Sporting já aconteceu quando falam com pessoas a quem o Sporting ainda está para acontecer.
A pessoa a quem, mais tarde ou mais cedo, o Sporting vai acontecer foi apresentada três dias depois pela pessoa que tem presidido, no último ano e meio, a alguns episódicos acontecimentos de Sporting. A apresentação correu da maneira que se poderia esperar, uma vez que Frederico Varandas foi obrigado a pronunciar sequências de palavras em voz alta, processo que, historicamente, não costuma correr bem.
Varandas fala sempre em público com a frustração abrasiva e contagiante de quem raramente consegue explicar aquilo que tenciona explicar, e como se estivesse, com muito esforço, a contar a história mais comovente da sua vida – como se estivesse, aliás, a fornecer uma resposta muito extensa e pormenorizada à pergunta que nunca ocorreu a ninguém fazer-lhe: “Quais são as causas do seu sofrimento?” Cada palavra é involuntariamente transformada numa débil proparoxítona por uma espécie de antitalento para inalar e exalar: cada frase chega ao fim não porque queria ter chegado ao fim, mas porque tem de reagir às exigências de uma emergência respiratória.
Ainda assim, fez o melhor que pode e sabe, tendo começado por recuperar a saudosa palavra “projecto”. Amplamente familiar para todos os adeptos de longa data, “projecto” é um tropo importantíssimo do Sporting Cinematic Universe, um esoterismo tão célebre como “a Conversão dos VMOC” ou o “Redesenhar o Organograma da SAD”: resquícios comoventes da praxis de uma antiga elite clerical que tomou em mãos a nobre tarefa de domesticar um reino de magia, superstições e estados febris com jargão empresarial. “Rúben Amorim é o homem do projecto”, deste projecto em particular, que é diferente de todos os outros projectos, que mais não seja porque este projecto começou com o pagamento de dez milhões de euros ao Braga, transformando Rúben Amorim no segundo treinador mais caro da história do futebol e na segunda contratação mais cara da história do clube.
A decisão inaugural do novo projecto foi depois explicada, mas a grelha causal de explicações está agora reduzida ao habitual catálogo de rancores, ressentimentos e impulsos defensivos (o “ruído” acumulado do que se diz, a “herança”, etc.), temperado com a tensão irreconciliável entre querer convencer milhares de adeptos da incandescente sapiência das suas decisões ao mesmo tempo que tenta convencê-los de que nenhumas outras decisões eram possíveis.
Um julgamento positivo sobre a competência desta direcção parece uma batalha perdida, portanto é natural que a matriz decisória se tenha adaptado, passando a contemplar estratégias esotéricas para apaziguar as várias entidades sobrenaturais que assombram a instituição. Paga-se dez milhões de euros ao Braga por Rúben Amorim porque estamos em 2020, e, portanto, sacrificar dez milhões de virgens na cratera de um vulcão não é uma alternativa viável nestes tempos politicamente correctos.
Frederico Varandas vai no sexto treinador em 18 meses: o treinador que não escolheu e não servia; os dois treinadores que tiveram de servir até escolher um que servisse; os dois treinadores que serviram até deixarem de servir; e o treinador pelo qual pagou dez milhões de euros ao Braga.
Pagar dez milhões de euros por um treinador com 13 jogos, e que há um mês e meio teria custado zero milhões de euros, não é, evidentemente, uma “decisão” de quem se acha competente para executar um “projecto”, mas o gesto de quem já percebeu que não vai convencer o mundo da sua competência e a quem só resta convencer o mundo do seu génio. Vasculhando o repositório de instintos que repousam em câmara-ardente no interior da sua cabeça, encontrou aquilo que achou mais semelhante a um golpe de asa: pagar dez milhões de euros ao Braga por Rúben Amorim.
Pagar dez milhões de euros ao Braga por Rúben Amorim nunca poderá ser visto como uma decisão “competente” ou “incompetente”, nem sequer em retrospectiva. Esses termos de avaliação foram excluídos pela coisa em si. Não há critérios racionais para a avaliar, portanto restam duas opções futuras: ou será uma tremenda e histórica estupidez, ou será um golpe de génio sem precedentes, que mais ninguém no mundo viu, e do qual mais ninguém seria capaz. São estas as condições do “projecto”, e a pessoa que as determinou é incapaz de imaginar que mesmo a estatisticamente improvável segunda opção nunca estará relacionada com qualquer atributo seu que não o desespero.
Rúben Amorim falou depois de Varandas, e teve a vantagem automática conferida a qualquer pessoa que fale depois de Varandas: soar automaticamente como uma mistura de Guardiola, Bismarck e Martin Luther King. “Nunca esperei que alguém pagasse este valor por mim”, admitiu, “mas depois aconteceu isto”. O “isto” que aconteceu já foi Sporting, mas o Sporting ainda não lhe aconteceu: só lhe vai acontecer daqui para a frente. As coisas ou vão correr muito bem, por mérito exclusivo dele, e por uma conjugação adicional de milagres; ou vão correr muito mal, por motivos que terão pouco que ver com ele; ou vão correr mais ou menos, de maneiras inevitavelmente originais. O que for acontecendo à sua cara, na televisão, também poderá ser muitas coisas, mas nenhuma delas desinteressante.
Meu caro, o corona virus é uma coisa muito séria.
Alguns otáriozinhos continuam a afirmar que tudo está bem e é uma mera constipacão.
Pois bem, não é! Os governos têm andado a brincar e o resultado está no que eu vejo diariamente. Os casos estão a aumentar a uma velocidade assustadora e tudo está descontrolado.
Em Portugal não vejo grande conhecimento sobre o que realmente se está a passar.
Posso te dizer que na Suica, que se recusa a fechar a fronteira com a Itália, já tem a segunda maior % de contágio da Europa e a sexta do mundo. E isto quando há duas semanas não existia um unico caso no país.
Escrevam isto: 2020 e 2021 são anos de crise….. e estamos ainda no inicio.
Se querem investir forte na bolsa, esperem por meados de 2021 quando os mercados estiveram completamente ensanguentados…… nessa altura podem garantir uma reforma dourada.
9 Março, 2020 at 23:42
Desculpem mas tenho que pôr isto cá para fora:
– Como é que se consegue contratar um Treinador por 10 milhões de euros, se estamos a vender “tudo” para termos uma folga de tesouraria?
– Como é que se consegue encher os cofres de um rival directo?
– Como é que se consegue fazer este negócio, foi a “estrutura” que a idealizou ou foi o “inteligente” do presidente sózinho que o pensou durante o sono e depois de “uma polução nocturna”, estremunhado e mal acordado
resolveu e já está, já está e toca a assinar?
– Como é que consegue não perceber que é um tiro no escuro ou melhor autêntica “roleta russa”?
Estou atónito, incrédulo mesmo como isto está a acontecer ao meu SPORTING!!
Mas como as coisas estavam a correr, a serem feitas sem qualquer critério, sem qualquer nexo com a realidade do Clube e sem qualquer inteligência, era de esperar mais “burrices” mas esta ultrapassa tudo o que pior se pudesse imaginar!!
Quero ressalvar no entanto que desejo ao Amorim tudo de bom, que empregue todo o seu saber na construção, na preparação e na orientação da equipa e ….. muita sorte; e como dizia o Silas na despedida “que tenha a juda de todos”!!!!
Amén
SL
9 Março, 2020 at 23:48
Penso que, nesta altura, isto é um pensamento generalizado.
10 Março, 2020 at 0:17
Caro Gomez,
Minha tentativa:
1– Como é que se consegue contratar um Treinador por 10 milhões de euros, se estamos a vender “tudo” para termos uma folga de tesouraria?
Isso é algo que Varandas não explicou. A treta dos “€ 70M de orçamento para a próxima época mantém-se, € 10M é que mudam de alocação” é isso mesmo, uma treta.
Pois, como o Caro Gomez diz, isso nada tem a ver com a questão da tesouraria (isto é, pagar €10M a curto prazo em vez de diluídos – juntamente com o resto – numa época completa)
Estarmos a gastar €10M com a cláusula do Ruben Amorim só pode significar o dinheiro da venda do BF. Ou isso ou os € 10M do WBA pelo Matheus Pereira já vieram… e foram (ou vão rápido).
2– Como é que se consegue encher os cofres de um rival directo?
Provavelmente a Direcção acha que o Braga não é nosso “rival directo”.
O que é um erro, como se pode ver olhando para a tabela do campeonato e para os jogos que faltam realizar.
Mas, também, de um Clube que empresta Palhinha ao Braga – fincando sem nenhum MD de jeito – já de tudo se espera…
3- Como é que se consegue fazer este negócio, foi a “estrutura” que a idealizou ou foi o “inteligente” do presidente sózinho que o pensou durante o sono e depois de “uma polução nocturna”, estremunhado e mal acordado
resolveu e já está, já está e toca a assinar?
Muito provavelmente, “loucura” do momento. O Ruben Amorim pegou bem no Braga, ganhou a milhafres e andrades e, repentinamente, passa a “the next Big Thing”.
“Fuga para a frente” da Direcção, que terá sentido ter que fazer alguma coisa “grande” para tentar empatar a contestação.
4– Como é que consegue não perceber que é um tiro no escuro ou melhor autêntica “roleta russa”?
A questão do “tiro no escuro” acontece sempre que se contrata um treinador sem créditos firmados, suponho (Paulo Bento, Sá Pinto, Silas, bla, bla, bla). Nada de novo aqui.
Trata-se é de um “tiro no escuro” CARÍSSIMO!
SL
10 Março, 2020 at 8:01
Numa palavra: destruicão.
O fivelas quer destruir tudo para levar à venda da SAD.
Enquanto vocês continuarem a ignorar esse facto não irão perceber nada, mesmo nada, do que está a ser feito ao clube.
10 Março, 2020 at 8:05
Em duas palavras, GESTÃO DANOSA.
10 Março, 2020 at 8:08
Parece tão óbvio que doi…. mas há pessoal que quer continuar a acreditar no pai natal. O fivelas é apenas azarado, é apenas incompetente, é apenas um pobre coitado….. com duas casas de luxo.
10 Março, 2020 at 0:02
Grandes varandas enganou o fisco num valor entre os 6 e os 8 milhões, mais um recorde ó zenha. O problema é que quem se f*** é o cadavérico Sporting.
10 Março, 2020 at 0:19
Não sou um homem das letras. Mas ainda sei apreciá-las.
E sempre que leio este rapaz sinto duas coisas:
– Admiração por uma criatura com estes dotes se dignar (ainda!) a perder o seu tempo com uma causa perdida como o Sporting.
– Uma pontinha de inveja porque, convenhamos, é preciso saber muito da poda para escrever desta maneira.
Pronto, é verdade que já não temos clube.
Mas, pelo menos, ainda temos pessoas que estavam afectivamente ligadas ao mesmo e que o pensam de uma forma intelectualmente estimulante.
Deliciem-se…
Sporting: Quatro projectos e um funeral
Na noite de segunda-feira foi possível ver, por breves minutos, um homem muito velho, muito triste e muito cansado na televisão. Se a televisão tivesse o volume no mínimo e o telespectador tivesse a falta de contexto no máximo, o homem poderia parecer um dano colateral do séc. XXI, vítima de uma das desgraças locais que compõem a ecologia noticiosa: veterano de uma atrocidade distante, refugiado de um exótico apocalipse. Com os seus olhos encovados, ombros desmoronados e rosto sulcado por canais profundos, podia estar a falar de genocídio numa aldeia dos Balcãs ou do naufrágio de uma lancha no Mediterrâneo. Podia estar a relatar a sua fuga noturna de um regime totalitário ou a confessar ter visto raios C a cintilar nas trevas junto aos Portões de Tannhäuser*.
Não estava. As palavras que se ouviram foram “aproveito para informar que este é o meu último jogo à frente do Sporting” e o homem muito velho, muito triste e muito cansado era apenas um adulto saudável e funcional de 43 anos chamado Silas, a quem o Sporting aconteceu. O Sporting aconteceu a muitas pessoas nas últimas quatro décadas, e nem todas envelheceram dez anos em seis meses, nem sofreram esgotamentos (públicos ou secretos), nem viram a sua alma derretida em lume brando pelas chamas combinadas de mil circunstâncias inacreditáveis. Nem todas: apenas a maioria.
Porque o Sporting não acontece sempre da mesma maneira, nem apenas a uma pessoa de cada vez, podendo, em situações pontuais, acontecer de maneiras inovadoras a vários milhares de pessoas ao mesmo tempo, Silas aproveitou também para anunciar oficiosamente o novo treinador, Rúben Amorim.
“Será um grande treinador, mas vai precisar de muita ajuda”, informou. “Vai precisar da ajuda de todos”, acrescentou. “Desejo-lhe sorte e digo-lhe já que vai precisar de muita ajuda”, esclareceu. “Vai precisar mesmo de muita ajuda”, concluiu. A reiteração pode ter parecido curiosa aos olhos dos turistas, mas todos aqueles a quem o Sporting costuma acontecer reconheceram imediatamente o vocabulário operacional usado pelas pessoas a quem o Sporting já aconteceu quando falam com pessoas a quem o Sporting ainda está para acontecer.
A pessoa a quem, mais tarde ou mais cedo, o Sporting vai acontecer foi apresentada três dias depois pela pessoa que tem presidido, no último ano e meio, a alguns episódicos acontecimentos de Sporting. A apresentação correu da maneira que se poderia esperar, uma vez que Frederico Varandas foi obrigado a pronunciar sequências de palavras em voz alta, processo que, historicamente, não costuma correr bem.
Varandas fala sempre em público com a frustração abrasiva e contagiante de quem raramente consegue explicar aquilo que tenciona explicar, e como se estivesse, com muito esforço, a contar a história mais comovente da sua vida – como se estivesse, aliás, a fornecer uma resposta muito extensa e pormenorizada à pergunta que nunca ocorreu a ninguém fazer-lhe: “Quais são as causas do seu sofrimento?” Cada palavra é involuntariamente transformada numa débil proparoxítona por uma espécie de antitalento para inalar e exalar: cada frase chega ao fim não porque queria ter chegado ao fim, mas porque tem de reagir às exigências de uma emergência respiratória.
Ainda assim, fez o melhor que pode e sabe, tendo começado por recuperar a saudosa palavra “projecto”. Amplamente familiar para todos os adeptos de longa data, “projecto” é um tropo importantíssimo do Sporting Cinematic Universe, um esoterismo tão célebre como “a Conversão dos VMOC” ou o “Redesenhar o Organograma da SAD”: resquícios comoventes da praxis de uma antiga elite clerical que tomou em mãos a nobre tarefa de domesticar um reino de magia, superstições e estados febris com jargão empresarial. “Rúben Amorim é o homem do projecto”, deste projecto em particular, que é diferente de todos os outros projectos, que mais não seja porque este projecto começou com o pagamento de dez milhões de euros ao Braga, transformando Rúben Amorim no segundo treinador mais caro da história do futebol e na segunda contratação mais cara da história do clube.
A decisão inaugural do novo projecto foi depois explicada, mas a grelha causal de explicações está agora reduzida ao habitual catálogo de rancores, ressentimentos e impulsos defensivos (o “ruído” acumulado do que se diz, a “herança”, etc.), temperado com a tensão irreconciliável entre querer convencer milhares de adeptos da incandescente sapiência das suas decisões ao mesmo tempo que tenta convencê-los de que nenhumas outras decisões eram possíveis.
Um julgamento positivo sobre a competência desta direcção parece uma batalha perdida, portanto é natural que a matriz decisória se tenha adaptado, passando a contemplar estratégias esotéricas para apaziguar as várias entidades sobrenaturais que assombram a instituição. Paga-se dez milhões de euros ao Braga por Rúben Amorim porque estamos em 2020, e, portanto, sacrificar dez milhões de virgens na cratera de um vulcão não é uma alternativa viável nestes tempos politicamente correctos.
Frederico Varandas vai no sexto treinador em 18 meses: o treinador que não escolheu e não servia; os dois treinadores que tiveram de servir até escolher um que servisse; os dois treinadores que serviram até deixarem de servir; e o treinador pelo qual pagou dez milhões de euros ao Braga.
Pagar dez milhões de euros por um treinador com 13 jogos, e que há um mês e meio teria custado zero milhões de euros, não é, evidentemente, uma “decisão” de quem se acha competente para executar um “projecto”, mas o gesto de quem já percebeu que não vai convencer o mundo da sua competência e a quem só resta convencer o mundo do seu génio. Vasculhando o repositório de instintos que repousam em câmara-ardente no interior da sua cabeça, encontrou aquilo que achou mais semelhante a um golpe de asa: pagar dez milhões de euros ao Braga por Rúben Amorim.
Pagar dez milhões de euros ao Braga por Rúben Amorim nunca poderá ser visto como uma decisão “competente” ou “incompetente”, nem sequer em retrospectiva. Esses termos de avaliação foram excluídos pela coisa em si. Não há critérios racionais para a avaliar, portanto restam duas opções futuras: ou será uma tremenda e histórica estupidez, ou será um golpe de génio sem precedentes, que mais ninguém no mundo viu, e do qual mais ninguém seria capaz. São estas as condições do “projecto”, e a pessoa que as determinou é incapaz de imaginar que mesmo a estatisticamente improvável segunda opção nunca estará relacionada com qualquer atributo seu que não o desespero.
Rúben Amorim falou depois de Varandas, e teve a vantagem automática conferida a qualquer pessoa que fale depois de Varandas: soar automaticamente como uma mistura de Guardiola, Bismarck e Martin Luther King. “Nunca esperei que alguém pagasse este valor por mim”, admitiu, “mas depois aconteceu isto”. O “isto” que aconteceu já foi Sporting, mas o Sporting ainda não lhe aconteceu: só lhe vai acontecer daqui para a frente. As coisas ou vão correr muito bem, por mérito exclusivo dele, e por uma conjugação adicional de milagres; ou vão correr muito mal, por motivos que terão pouco que ver com ele; ou vão correr mais ou menos, de maneiras inevitavelmente originais. O que for acontecendo à sua cara, na televisão, também poderá ser muitas coisas, mas nenhuma delas desinteressante.
— Rogério Casanova
*E ainda remata com uma referência ao BR? I bow.
10 Março, 2020 at 0:25
REI
10 Março, 2020 at 8:07
Muito bom. Leitura obrigatória.
10 Março, 2020 at 0:23
“Segundo o Jornal Económico, o Governo já decidiu!
Fruto do COVID-19, os jogos da Liga Nacional, até 03 de Abril, pelo menos, serão disputados à porta fechada!
Ao invés de proibir os que pudessem contar com mais de 5000 espectadores, foi decidido que todos fossem disputados nestas condições!
Uma medida justa e correcta?”
Começa a ser preocupante. Isto vai muito para lá do que contam.
10 Março, 2020 at 0:27
Vírus de laboratório, felizmente perdi relativamente pouco financeiramente.
Acredito tanto nos governos mundiais como no varandas.
10 Março, 2020 at 8:06
Meu caro, o corona virus é uma coisa muito séria.
Alguns otáriozinhos continuam a afirmar que tudo está bem e é uma mera constipacão.
Pois bem, não é! Os governos têm andado a brincar e o resultado está no que eu vejo diariamente. Os casos estão a aumentar a uma velocidade assustadora e tudo está descontrolado.
Em Portugal não vejo grande conhecimento sobre o que realmente se está a passar.
Posso te dizer que na Suica, que se recusa a fechar a fronteira com a Itália, já tem a segunda maior % de contágio da Europa e a sexta do mundo. E isto quando há duas semanas não existia um unico caso no país.
Escrevam isto: 2020 e 2021 são anos de crise….. e estamos ainda no inicio.
Se querem investir forte na bolsa, esperem por meados de 2021 quando os mercados estiveram completamente ensanguentados…… nessa altura podem garantir uma reforma dourada.
10 Março, 2020 at 0:24
Não estou nada preocupado com o Covid-19, estou sim com data em que o Sporting baterá no fundo, visto que está em queda livre.