Há mais de dez anos que frequento esta tasca. Corresponde a pouco menos de um terço da minha vida. Ao longo de todos estes anos, uma das coisas que mais me aflige são os ataques cerrados àqueles que ousam pensar diferente. Esta situação piorou, a meu ver, com a destituição e expulsão de Bruno de Carvalho.

O braço armado daquele que é, e continuará a ser, para mim, até que me provem o contrário, uma das pessoas mais doentias e tóxicas que passaram pelo Sporting, não deixa margem para grandes discussões ou para debates calmos, acicatados, ou o que quer que seja. Pura e simplesmente, não pode haver debate, porque os interessados decidem que existe apenas espaço para o monólogo.

Bruno de Carvalho transformou-se na verdade adquirida de uns quantos, poucos, que, em defesa do próprio, atacam, perseguem, divulgam informações do foro pessoal – o que, em determinadas circunstâncias, constitui crime punível por lei –, e usam de tudo aquilo que se lhes oferece usar para que consigam levar a sua avante. Ao longo dos dois últimos anos, foram múltiplos os casos de desinformação na tasca, boatos infundados, sem a mínima prova factual, que serviram para alimentar a contenda, uma contenda que, cedo, foi sendo a imagem de marca do presidente e do dirigismo provavelmente mais divisionista que o Sporting viu acontecer, independentemente dos aspetos extremamente positivos que deste dirigismo resultaram, numa primeira fase. E quando os supostos fenómenos eram combatidos com recurso a factos, também não interessava, porque ora dava/dá jeito ser como se queria/quer, ora porque, se não era/é, virá a sê-lo, não interessa quando.

O facto de não haver discussão, e o facto de tentarmos discutir num ambiente de verdades inabaláveis, gerou um clima que é o clima que caracteriza esta modernidade pós-verdade. Na política, elegem-se líderes perigosíssimos. No Sporting, elegeu-se (elegi) alguém que começou extraordinariamente bem, mas que, no meu entender, é um dos principais responsáveis do estado a que chegou o Sporting. Um estado profundamente confuso.

Se, por um lado, esta pós-verdade se estabelece como uma passadeira para o nacional-lampionismo, no qual as tânias laranjo da vida se movem a seu bel-prazer, seguindo o princípio do bater nos fracos e de ser fraco com os fortes, por outro lado também fez história no mandato de Bruno de Carvalho, com histórias e historietas contadas a seu bel-prazer, erguidas como verdades absolutas na mundividência do seguidista mais acérrimo, passe o pleonasmo, e sem direito ao contraditório. O mesmo seguidismo que, inaugurando a doutrina Isaltino Morais no Sporting, acha razoável defender que estão justificados os batuques, agora que Jovane resolve, e sabendo-se que outros “roubaram” mais.

Doutrina Isaltino Morais no Sporting que institui o seguinte novo pensamento: exercer o cargo de presidente de Sporting não obedece por decreto ao princípio de defesa intransigente do clube, devendo os sportinguistas estar orgulhosos e agradecidos, a título eterno, do trabalho que uma pessoa (não esqueçamos que, segundo o próprio, a obra Sporting pós-2013 é da sua exclusiva responsabilidade, e eventualmente de Alexandre Godinho, pelo menos até ver, saltando fora tudo aquilo que são obreiros reconhecidos como Carlos Vieira) que foi paga como nunca mais será paga na vida, prestou, pasme-se, a título quase benemérito, de onde se conclui que o cargo de presidente de Sporting, remunerado, passa a ser uma função apenas se este último se decidir desempenhá-la arbitrariamente, como se de uma não-obrigação se tratasse, devendo os sportinguistas orar a quem “ousou” desempenhá-la.

Bruno de Carvalho entrou no Sporting em 2013, e começou por fazer aquilo que se propôs fazer. Ao contrário de uma esmagadora maioria, nunca achei episódios como o dos calções verdes necessariamente relevantes para pôr em causa o que quer que fosse. O facto de ter estado sempre ao lado da presidência de Bruno de Carvalho, numa primeira fase, levou-me a acordar muitas vezes com comentários estranhamento elogiosos proferidos pelo mesmo aqui na tasca, aquele que dizia trabalhar para o Sporting 24 horas por dia, e que por cá ia aparecendo recorrentemente na figura de um tal de Marioni. Ao princípio, não liguei. Contudo, os meses foram passando, criou-se o tema Marco Silva, com o então Marioni a aproveitar para deixar aqui a sua versão dos factos, que ninguém conhecia, a não ser o ex-circunspecto futuro croquete Zé Eduardo, esse então símbolo do sentimento sportinguista, sem qualquer apreço pelo princípio do contraditório, e comecei a olhar para as coisas de uma forma diferente.

Veio Jesus e voltou o Sporting do despesismo. Enfim, mais do mesmo, que a história já vai longa, pensava eu na altura.

É aqui que deixo de comentar na tasca com a recorrência de então. Uma recorrência que era uma espécie de trabalho e que transformava quase o meu verdadeiro trabalho numa condição de tempos livres que ia tendo. F5 era a minha tecla preferida e estávamos sempre a trocar ideias. Ele eram as gajas da Sporting TV, eram os cálculos para os pontos que o Benfica “do nosso Enzo” ia mamando às custas das arbitragens, eram assuntos completamente fora de sítio, era tudo. O Diogo Bernardo, que nunca conheci pessoalmente, assim como nenhum tasqueiro, era então useiro e vezeiro deste espaço.

Todos lhe reconheciam sportinguismo, porque nessa altura alinhava-se ao ar dos tempos, mas provavelmente poucos saberão que o Diogo foi um dos poucos que, no início, terá sentido que havia alguma coisa que não batia certo no Sporting. A páginas tantas, num momento de profunda harmonia entre sócios e simpatizantes do Sporting, em que o próprio era cada vez mais chamado a posições de responsabilidade dentro do clube, ou pelo menos dentro da área onde exercia profissionalmente, percebi que o próprio estaria finalmente a passar pelo momento do “aqui não tens que achar nem deixar de achar nada”. O Diogo, para quem não sabe, chegou a estar numa posição confortável, onde tudo aquilo que poderia ter feito era largar da cassete sempre que lhe pediam um “yes man”, naquela que é, para mim, a imagem de marca da gestão de Bruno de Carvalho.

Ao contrário do que muitos pensarão, lá está, apenas porque não segue os códigos brunistas, o Diogo mostrou ser a antítese daquele gajo ou gaja “que sabem viver”. Quando tem de dizer, diz. E bastava-lhe ter ficado calado, naquela altura em que o Sporting se transformava cada vez mais no clube de Bruno de Carvalho, tal era a unanimidade. Bastava-lhe ter ficado calado, quando era fácil e útil, para o próprio, tê-lo feito. Não o fez. Independentemente das razões que o levaram a exercer oposição em determinados assuntos e em determinadas fases do seu trabalho no clube, quando ainda estava no clube, e depois de estar por fora, seguiu a sua consciência, e caralhos me fodam se essa não é uma postura de valor.

Reparem: a Internet é muito dada a isto. É fácil um gajo manter-se por casa, a coçar a glande pela tarde, uma tarde de Sporting, e depois vir ao mundo virtual libertar as suas frustrações da vida. Uma espécie de “agarra-me senão fodo-te!”. E como a Internet é muito dada a isto, toca de lançar toda a merda sobre terceiros, sem qualquer conhecimento da realidade, apenas para sossegar essa coisa do culto brunista. Repetindo, se pensas diferente de Bruno, estás contra o Sporting, és lampião, és um filho da puta, és paneleiro, a tua mãe que morra, eu que te apanhe na passadeira, etc. Coisas que não merecem resposta, evidentemente, até porque são coisas de pessoas pouco confiantes, mas que, infelizmente, desmistificam aquela ideia de uma correlação positiva entre o grunho e o lampião. Não, grunhos há em todo o lado, e o Sporting, infelizmente, não é imune a estes Venturas em potência.

E, mais do que tudo, independentemente das convicções do Diogo, sobre este ou outro assuntos, ele não é mais do que uma vítima deste sistema de homenzinhos maus, cheios de força e de pêlo na venta, muitos deles que, ao invés de apostarem no Sporting e nas suas prioridades, “cagam de alto” para as necessidades do Sporting, achando que depois têm mais do que direito de tirar as dez horas da parte do dia que não passam a dormir ou a bater punho, para vir chatear outros, os mesmos de quem as únicas coisas que sabem são os boatos que os homens da floresta têm para imaginar. Caberá ao Diogo ligar, se quiser. Quando sou eu, e às vezes sou, nas poucas vezes que me chateiam – isto de ter optado por estar na sombra deu-me alguma margem para enfrentar estes episódios –, acabo por sair mais confiante depois de vivido cada episódio destes. Por cada “paneleiro” e afins que me endereçam, mais convicção tenho naquilo que fiz e naquilo que continuaria a fazer.

Em tempos tive a oportunidade de conhecer ambos: o rei sol e o Diogo Bernardo. Nunca se proporcionou, por decisão própria. Ando sempre a correr, sempre cheio de coisas para fazer e outras arranjadas em cima do joelho, e, como tal, nunca se proporcionou, eventualmente também porque a dada altura a minha mãe estava muito doente e eu decidia passar todo o tempo com ela. Resumindo: não conheço nenhum dos dois, mas se tivesse de dar as minhas chaves de casa a um dos dois, não hesitaria em escolher o Diogo Bernardo.

Pode parecer um exemplo estúpido, excessivo, e ao nível dos trolhas da vida, mas entre alguém que expõe uma filha quando o certo seria protegê-la, e o faz para significativo proveito próprio, e alguém que sempre foi capaz de discernir o que é ou não aceitável, não hesitaria em escolher o segundo, por mais ou menos relevante que a sua posição tivesse sido dentro do universo Sporting. Entre alguém que sempre primou pela arrogância, pela beligerância aos seus, pelo mais profundo desprezo para quem como ele não pensava, e alguém que é capaz de ouvir o outro, até estarem cumpridos alguns limites da decência, não hesitaria em escolher o segundo.

Esta é a maior homenagem que um simples tasqueiro, que já cá anda há muito tempo, é capaz de fazer ao Diogo Bernardo, que estava aí para tudo. E quem diz Diogo Bernardo, diz todos os outros: Barbosa, Maria do Xixi, ou lá como a chamam agora, que são agora os demónios do Sporting, Andrés Patrões e Miguéis Pains, que também já não servem, o próprio Carlos Vieira, que também já tem bicho, o outro que apresentou umas ideias que foram interessantes mas que, por ter amigos comuns ou por ser amigo de Tânia Laranjo, também já não serve, ou mesmo pessoas como o Benedito que, toda a vida, deram tudo pelo Sporting, etc.

É a minha profunda convicção de que Frederico Varandas não serve. Tem sido um incapaz, um horrível presidente. Contudo, é para mim claro que a maior derrota do Sporting é este clima de guerra civil que se apoderou do Sporting ainda antes de Bruno de Carvalho sair, ainda o dito via o seu poder reforçado, naquelas manifestações de necessidade de carinho, como quem desespera por afagar o ego, e que a sua maníaca figura ia exigindo.

Bruno de Carvalho, que, e disse-o muitas vezes, nunca mais encontraria nada depois do Sporting, não pela perseguição mediática que lhe atribuem, e que o próprio fez questão de alimentar (episódio casamento e afins, alô?), mas porque simplesmente não tem currículo para mais nada, meteu-se num sarilho e depende hoje apenas do exército intransponível para não cair em esquecimento, agarrando-se a esse exército com todas as forças que tem.

A mim, muito honestamente, à justiça o que é da justiça, com as devidas ressalvas relativamente aos episódios de enviesamento jurídico de que todos temos conhecimento (netos de moura há muitos!), mas nunca me sairá da ideia o clima de perseguição diabólica que sofreram alguns cépticos da sua pessoa e das suas opções enquanto figura que se queria incontestável no universo leonino. Os principais lesados são pessoas como o Diogo Bernardo, que não andam por aí a perseguir, que se limitam a deixar os seus pensamentos relativamente àquilo que se passa, e que, ainda assim, são perseguidos sem a mínima misericórdia.

Não é o facto de a presidência de Varandas não estar a resultar (mesmo para alguém como eu que, neste assunto, está perfeitamente descomplexado, até pelo apoio manifestado em Benedito), que vou passar a relativizar o facto de o Sporting ser, em Maio de 2018, muito por culpa própria (lembro que a comunicação social foi sendo sempre muito contrária à presidência de Bruno de Carvalho, e que tal não influiu no grande apoio de que Bruno de Carvalho sempre gozou junto dos sócios), um clube destruído, sem os seus principais ativos, com os sócios a lutarem uns contra os outros, e com os principais intervenientes, supostamente, uns contra os outros (episódio Bruno de Carvalho – Carlos Vieira).

O Sporting era um clube na lama, ponto final, parágrafo. Por culpa de quem? De muitos, entre os quais, Bruno de Carvalho, esse mesmo que ergueu o clube e que preferiu sujeitar-se à egomania e ao visionarismo errático para destruir muito do que havia construído, tanto que, não esqueçamos, começámos Junho de 2018 sem rumo. Claro que, no nosso mundo ideal de trolhas da internet, a culpa será sempre dos outros e não nossa, principalmente daqueles que, mais do que nós que nos sentamos com a peida no sofá no Inverno chuvoso do país, sempre batalharam para o fortalecimento do clube, mas que, por agora (é sempre bom sublinhar o “por agora”, porque a opinião sobre alguém parece variar consoante o caminho que se escolhe – ou se é brunista, ou se é anti-brunista) nada mais são do que uns croquetes tachistas, mesmo que tivessem sido, eles próprios, a descartar o tacho.

E ganhar vergonha na cara?

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Diogo Carvalho
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