É tempo de voltar o Bonito Serviço de forma regular porque as equipas estão praticamente fechadas de modo oficial ou oficioso, o calendário já foi publicado e não se prevêem mudanças estruturais em Agosto.

Sobre os jogadores irei falar daqui a umas semanas porque importa ver o estado da nação neste momento. Para isso trouxe 3 pontos para discussão. Para quem não tiver paciência para ler tudo, vou já deixar o meu resumo:

A seção de voleibol não dura mais 2 anos a não ser que o rumo seja alterado.

Posto isto, vamos aos pontos:

Formação Masculina:
Quando voltámos a ter equipa de voleibol, esta foi sediada em Fiães. A decisão na 3ª época foi levar para Lisboa toda a estrutura. Eu via com bons olhos um Sporting descentralizado, mas compreendo a decisão. Sabem aqueles patrões que precisam de ver a malta online para saber que estão a trabalhar em casa em vez de estar a dormir? Pareceu isto.

Uma das premissas desta decisão era precisamente a importância da sustentabilidade da seção por via da criação das formações jovens. Os anos vão passando e temos a vertente feminina com 200 crianças, mas os masculinos sem nenhum atleta. Será a dificuldade em ter pavilhão? Serão os custos? Este segundo ponto exclui-se porque, por experiência própria em 3 equipas, a formação é sustentável graças aos “paistrocínios”. Em tempos, o líder das modalidades, numa aula online abordou o tema e aí fiquei a perceber claramente que seria uma questão de confiança:

“(…) para se viver da formação tem de haver um projeto sério (…) Como é que eu posso apostar num voleibol, se alguém souber que me ajude. Não existe formação de voleibol em Portugal. A pouca formação masculina que existe está a Norte e não tem suficiente qualidade para alimentar os clubes como o Sporting ou como o Benfica.”

Lembrei-me imediatamente de duas pessoas: Miguel Maia e Gersinho, capitão e treinador da equipa sénior masculina. Não devia ser necessário explicar o porquê de ambos, no entanto deixo uma frase para cada. O Miguel Maia está ligado aos jovens com o AMB Volleyball Cup, marca presença em diversas escolas e já foi treinador e diretor desportivo muitas vezes de equipas de formação. O Gersinho “só” esteve ligado aos jovens da seleção de voleibol brasileiro, uma potência mundial. Será difícil pensar em 2 melhores nomes para liderar um projeto destes.

Sendo a formação um dos pilares da sustentabilidade de um projeto desportivo, é legítimo concluir algumas “coisas” porque continuamos sem formação e com injeções constantes de milhares de euros.

Gersinho
O nosso treinador é o meu case study porque eu não percebo porque é que ele permaneceu no Sporting. Digo, porque é que ele quis ficar esta época. A quarentena trouxe-nos algumas novidades sobre como foram exploradas as redes sociais, concretamente o Instagram. Eu já perdi a conta ao número de participação do nosso treinador para falar de formação, os jovens no voleibol. A modalidade dá-lhe credibilidade nessa matéria, e na minha opinião, justamente. No entanto, o Gersinho escolheu treinar um clube que vai para a sua 4 época sem formação masculina. Se por um lado, contratamos um craque em estimular jovens, por outro um potenciador de talentos escolheu um clube sem equipas de base.

Vamos para a 4ª época desportiva e vamos para o 4º plantel criado praticamente de raiz. Seja em que modalidade for, a estabilidade permite olhar para o treino e para a evolução da equipa de outra forma. Quando o Gersinho aceitou vir para o Sporting é possível que tenha entendido esta realidade e ainda assim arriscou. Ele é um líder de treino, bastava ver a evolução da equipa durante este ano para se perceber que o segredo estava na preparação. Sendo a estabilidade tão crítica para o sucesso de um estratega como o nosso treinador, é estranho achar que ele lidará bem com estas mudanças constantes.

O rival tem esta estabilidade como vemos nos jogadores TV (4 épocas), IC (6 épocas), MH (8 épocas), Z (11 épocas), HG (9 épocas), RO (3 épocas), AL (6 épocas) e mais alguns que vão começar a sua 3ª época.

Por fim, este será um ano com muita pressão para o Gersinho. Não há um jornal ou página nas redes sociais que não diga sempre que “todas estas mudanças no voleibol leonino foram um pedido expresso de Gersinho.” As coisas podem estar aliviadas agora para ele, mas claramente que se der asneira há um alvo que foi bem produzido. A seu tempo falarei das contratações, no entanto percebe-se bem a lógica para as mesmas. Esta chama-se “Se querem que eu ganhe com menos dinheiro eu consigo com os jogadores experientes que conheço”. No lugar dele faria precisamente a mesma coisa.

Este treinador tem o meu apoio incondicional.

Equipa Feminina
O desporto feminino no Sporting continua a ser muito pouco reconhecido. Claro que quando é preciso caras bonitas para apresentar equipamentos ou fazer vídeos para as redes, as meninas já são importantes. No que ao voleibol diz respeito, a equipa feminina continua no oculto da informação. Não se sabe de nada oficialmente pelo clube, mas felizmente que nas páginas da modalidade em Portugal vão tendo sempre novidades.

O Sporting continua em contraciclo, ignorando todos os indicadores existentes. (No futebol feminino, o Real Madrid criou este ano uma nova equipa.) Falta “mundo” aos responsáveis porque bastava olhar em volta para perceber onde está o poder de compra, como começam a estar repartidas as lideranças políticas, aliás, como se viu nesta última negociação (Merkel – Lagarde – Von der Leyen) e outras coisas mais.

Até é bom referir o novo podcast do Espartano sobre modalidades, onde o José Andrade muito bem fala do desporto feminino, e do voleibol em particular. É demasiado flagrante a importância.

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Em jeito de conclusão relembro que na mesma aula o líder das modalidades, ainda em contexto de voleibol, deixa uma frase que entendi como recado: “Os resultados desportivos na sua globalidade interrompem projetos desportivos.”

Tem razão! Na minha opinião há 3 pilares para a sustentabilidade um projeto desportivo: condições de trabalho – sucesso desportivo – formação. Se um faltar já é duro, se dois faltarem os projetos terminam. É fazer as contas como diz o outro.

Hoje foi um artigo mais negativista, mas os tempos não estão para grandes esperanças. Felizmente, não vai demorar para ter uma escrita mais positiva. Brevemente, a saída do Dennis, o desconstrução do mito de que “o voleibol não tem adeptos” e os jogadores(as) para esta nova época.

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo (ou, se preferires, é a crónica semanal sobre o nosso Voleibol) –