13 Agosto de 1955 – Travassos torna-se o primeiro português a actuar numa selecção da Europa. Mas quem era Travassos?
José Travassos (por vezes escrito Travaços) nasceu na Quinta do Lumiar perto de dois famosos campos de futebol e de uma carreira de tiro, onde chegou a trabalhar, pelo que é fácil perceber as origens das suas duas grandes paixões: a caça e o futebol.
Com 13 anos começou a trabalhar numa oficina de torneiro, mas o seu sonho era jogar no Sporting, onde foi tentar a sua sorte. Como era muito franzino, Joseph Szabo mandou-o comer bacalhau com batatas.
Aos 16 anos de idade conseguiu um emprego na CUF, que dava prioridade aos jogadores de futebol, e foi lá que se começou a jogar nos Juniores, mas um ano depois já estava na equipa principal, destacando-se na posição de interior e despertando o interesse dos grandes clubes.
A sua vinda para o Sporting foi precedida de alguns episódios rocambolescos, com o FC Porto a perder a corrida, apenas porque falou mais alto o sportinguismo do jogador.
Estávamos em 1946 quando um emissário do FC Porto contactou José Travassos, com o qual chegou a um acordo de principio. Ao tomar conhecimento da situação Sporting escondeu o jogador em Torres Vedras, enquanto tentava o acordo com a CUF, mas uma distração quase fatal permitiu que os portistas raptassem o craque e o levassem para o norte. Enquanto aguardava o desenlace da situação Travassos respondeu aos apelos do seu coração e resolveu informar os dirigentes leoninos da sua localização, e assim poucos dias depois recebeu um telegrama que o convocava para a inspeção militar, mas que não era mais do que uma forma de o fazer regressar a Lisboa, onde em vez de ir para a tropa foi para o Sporting.
Assinou então um contrato com os Leões a troco de 20 contos e de um ordenado de 700 escudos por mês, e como a CUF para o libertar o tinha despedido, arranjaram-lhe outro emprego. Mais tarde, em 1950 o Sporting financiaria o lançamento de uma empresa de frigoríficos, que Travassos abriu em sociedade com o seu amigo Vasques, numa altura em que se falava insistentemente no interesse do Real Madrid no interior esquerdo do Sporting, enquanto o seu companheiro era assediado pelo Benfica.
Mas antes de se estrear na equipa de Futebol do Sporting, já representara o Clube no Atletismo, tendo na época de 1946 participado nos Campeonatos Regionais de Principiantes e integrado a equipa do Sporting que ganhou pela quarta vez na história do Clube, o Campeonato Nacional de Atletismo, competição onde correu os 200m e a a estafeta dos 4x100m.
Poucas semanas depois integrou os trabalhos da equipa de Futebol e logo na sua primeira época de Leão ao peito justificou completamente a contratação, e entrou para a história dos derbys ao marcar três golos ao Benfica, num jogo do Campeonato em que o Sporting goleou o seu grande rival por 6-1.
Foi também por essa altura que se estreou na Seleção Nacional, passando rapidamente a ser um indiscutível na equipa das quinas, até que no dia 19 de Dezembro de 1954 somou a seu 26 º jogo por Portugal, tornando-se no futebolista português mais internacional de sempre e no final da sua carreira contabilizava 35 presenças e 6 golos marcados ao serviço da Seleção Nacional.
Jogador completo de grande regularidade e eficácia, era um trabalhador incansável e tornou-se no “motor” da célebre linha avançada que ficou conhecida como os Cinco Violinos, conquistando oito Campeonatos Nacionais, duas Taças de Portugal e dois Campeonatos de Lisboa ao serviço do Clube onde jogou até 1959, realizando cerca de 450 jogos, 321 dos quais oficiais, em que marcou 126 golos, que no total foram quase 200. Números verdadeiramente impressionantes para um jogador que era mais um médio ofensivo do que um avançado propriamente dito, e que teve várias lesões graves ao longo da sua carreira, que o deixaram sem três meniscos.
Tornou-se no primeiro jogador português a actuar numa Selecção da Europa, quando, a 13 Agosto de 1955 em Belfast, participou no jogo comemorativo dos 75 anos da Federação Irlandesa, numa altura em que este tipo de eventos eram raros. A partir desse dia, ficou conhecido como o “Zé da Europa”.
Quando recebeu a convocatória já estava de férias na Costa da Caparica, retomando então os treinos por conta própria, e levando muito a sério o jogo, onde foi considerado um dos melhores em campo, tendo tido influência directa em dois golos com que a sua equipa ganhou por 4-1 à Inglaterra, o que motivou um agradecimento especial da UEFA, dirigido a FPF. As homenagens a Travassos sucederam-se umas a trás das outras e em Outubro de 1955 foi galardoado pelo Presidente da República com a Ordem de Mérito Desportivo.
No Sporting chegou a Capitão da equipa depois do abandono de Passos, funções que já desempenhava quando o madeirense não jogava, e encerrou a sua carreira em 1959, após 13 temporadas ao serviço do Clube, passando então a treinar os Juniores, tarefa que acabou por abandonar no fim dos anos 1960 para se poder dedicar à caça, a sua outra grande paixão. Assim se perdeu aquele que poderia ter sido também um grande treinador.
Em 1986 foi distinguido com o Prémio Stromp na categoria Saudade.
Faleceu a 12 de Fevereiro de 2002 à beira dos 76 anos.
13 Agosto, 2020 at 17:01
Nesta altura ainda tínhamos muita influência no futebol. A história do futebol é assim, quem tem poder usa-o, quem não o tem fica a ver navios. O Porto só depois com Pinto da Costa, tomou as rédeas do poder. O Benfica sempre lá esteve. O Sporting só lá vai quando tiver uma Direção com poder e não uns coitadinhos que são abafados por tudo e por nada.
13 Agosto, 2020 at 18:29
Bom comentário, Chico.
13 Agosto, 2020 at 17:57
Homens de outras virtudes.
13 Agosto, 2020 at 18:30
Um dos nossos grandes símbolos e um dos grandes jogadores que passaram pelo clube.
14 Agosto, 2020 at 0:59
Lembro-me tão bem deste grande jogador…
Tantas alegrias que lhe devo…
Sporting Sempre…!!
14 Agosto, 2020 at 3:09
Excelente artigo, a mostrar de onde também vem a dimensão do Sporting.
Um dos nossos “grandes”.
SL