20 anos antes, Carlos Lopes, António Leitão e Rosa Mota tinham protagonizado os Jogos Olímpicos mais bem sucedidos de sempre da comitiva portuguesa no que toca a medalhas. O ouro na maratona, o bronze nos 5000 metros e outro terceiro lugar mas na maratona feminina, respetivamente, garantiram três medalhas olímpicas a Portugal nos Jogos de 1984, em Los Angeles, e seria preciso esperar 20 anos até que o feito fosse repetido. Em 2004, em Atenas, Sérgio Paulinho foi prata na prova de estrada, Rui Silva foi bronze nos 1500 metros e Francis Obikwelu parou o país ao conquistar a medalha de prata nos 100 metros. O país parou no dia 22 de agosto de 2004, há precisamente 15 anos, e não voltou a esquecer o nome do atleta nigeriano naturalizado português que na Grécia se intrometeu entre os norte-americanos para agarrar um lugar num dos mais prestigiados pódios dos Jogos.

Podia ter sido uma daquelas finais em que se esperava tudo e se acabava com nada: afinal, cerca de mês e meio antes, a Seleção Nacional tinha perdido a final do Euro 2004 em pleno Estádio da Luz. Obikwelu, velocista do Sporting então com 25 anos, impressionou nas qualificações para a final dos 100 metros, registando tempos abaixo dos 10 segundos em duas ocasiões, e chegou à última prova enquanto único europeu, representante de um continente que parecia condenado a ficar atrás da vertigem dos norte-americanos e dos jamaicanos. Nesse capítulo, e numa altura em que Usain Bolt ainda não contava para esta matemática, Justin Gatlin era o favorito ao ouro e Maurice Greene e Shawn Crawford, os outros dois atletas dos Estados Unidos, eram tidos como quase garantidos nos restantes lugares do pódio, numa previsão que só tinha no jamaicano Asafa Powell a única ressalva e possibilidade de evitar uma hegemonia norte-americana na prova rainha do atletismo.

JOGOS OLÍMPICOS
Há 15 anos, o país parou para ver Obikwelu ser de prata nos 100 metros. Aos 40, continua a bater recordes: e ainda ninguém se esqueceu dele
22 de agosto de 2004. O país parou para ver Francis Obikwelu, um nigeriano naturalizado português, ser medalha de prata nos 100 metros dos Jogos Olímpicos. Passaram 15 anos e ninguém se esqueceu dele.

22 ago 2019, 11:28

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Mariana Fernandes
Texto
20 anos antes, Carlos Lopes, António Leitão e Rosa Mota tinham protagonizado os Jogos Olímpicos mais bem sucedidos de sempre da comitiva portuguesa no que toca a medalhas. O ouro na maratona, o bronze nos 5000 metros e outro terceiro lugar mas na maratona feminina, respetivamente, garantiram três medalhas olímpicas a Portugal nos Jogos de 1984, em Los Angeles, e seria preciso esperar 20 anos até que o feito fosse repetido. Em 2004, em Atenas, Sérgio Paulinho foi prata na prova de estrada, Rui Silva foi bronze nos 1500 metros e Francis Obikwelu parou o país ao conquistar a medalha de prata nos 100 metros. O país parou no dia 22 de agosto de 2004, há precisamente 15 anos, e não voltou a esquecer o nome do atleta nigeriano naturalizado português que na Grécia se intrometeu entre os norte-americanos para agarrar um lugar num dos mais prestigiados pódios dos Jogos.

Podia ter sido uma daquelas finais em que se esperava tudo e se acabava com nada: afinal, cerca de mês e meio antes, a Seleção Nacional tinha perdido a final do Euro 2004 em pleno Estádio da Luz. Obikwelu, velocista do Sporting então com 25 anos, impressionou nas qualificações para a final dos 100 metros, registando tempos abaixo dos 10 segundos em duas ocasiões, e chegou à última prova enquanto único europeu, representante de um continente que parecia condenado a ficar atrás da vertigem dos norte-americanos e dos jamaicanos. Nesse capítulo, e numa altura em que Usain Bolt ainda não contava para esta matemática, Justin Gatlin era o favorito ao ouro e Maurice Greene e Shawn Crawford, os outros dois atletas dos Estados Unidos, eram tidos como quase garantidos nos restantes lugares do pódio, numa previsão que só tinha no jamaicano Asafa Powell a única ressalva e possibilidade de evitar uma hegemonia norte-americana na prova rainha do atletismo.

O tiro soou no Estádio Olímpico de Atenas e 9 segundos e 85 centésimos depois, Gatlin era o primeiro a cortar a meta. Um centésimo depois, Obikwelu. Dois centésimos depois, Greene. O atleta português ficou a um centésimo da medalha de ouro nos 100 metros mas, mais do que isso, conquistou a medalha de prata numa das principais provas do atletismo e tornou-se o nome mais repetido em Portugal durante vários dias. Os 9 segundos e 86 centésimos valeram-lhe um recorde europeu que ainda persiste (já foi igualado duas vezes pelo francês Jimmy Vicaut mas nunca superado) e a certeza, por mais anos de que passem, de que é um dos nomes maiores da história portuguesa nos Jogos Olímpicos.