Uma semana, dois jogos de elevado grau de dificuldade.
Lusitânia 65 – 74 Sporting
(16-20, 20-24, 13-19, 16-11)
No jogo dos Açores, assistimos a cerca de 1 período e meio, isto é, cerca de 15 minutos de basquetebol.
O Lusitânia começou muito pressionante e com a clara preocupação em fechar a zona interior a Fields e explorar o contra-ataque, tarefa que foi sendo bem sucedida nos minutos iniciais. O Sporting percebeu isso mesmo, equilibrou o jogo em termos de atitude e começou a alimentar Fields em condições. Quando a ajuda defensiva a Fields surgia, a bola vinha para fora. Para mal dos nossos pecados, o jogo exterior estava horrível (terminamos com apenas 2 triplos em 22 (!) tentados). A alternativa encontrada à falta de jogo exterior foram as penetrações, sobretudo de James Ellisor que fez um jogo de enorme qualidade. É um prazer vê-lo jogar! Que classe!
Ao contrário de outros jogos, no segundo período o Sporting não começou a sua habitual rotação. O jogo estava com muita intensidade e tínhamos passado por dificuldades, por isso, Luís Magalhães manteve quase todos os seus jogadores durante cerca de 15/20 minutos. Foi quanto durou o “bom” basquetebol. A partir daqui, o jogo, já de si com uma saudável intensidade, começou numa escalada de faltas, que levou inclusive a que ambas as equipas, aos 2 minutos e meio do 3º e do 4º período, atingissem as 5 faltas colectivas. Faltas técnicas por protestos foram seguramente umas 4, o que transformou um interessante jogo de basquetebol num jogo completamente desinteressante.
Não me vou alongar muito sobre este jogo, porque o prato quente desta semana foi o derby. Apenas dizer que, apesar da má exibição, fiquei feliz por ver que o Sporting, mesmo jogando mal, consegue ganhar jogos. Ganhámos este jogo na linha de lance livre, com uma percentagem record de 94% de eficácia!
Notas soltas deste jogo:
# Regresso de Cândido Sá: fez apenas 4 pontos, mas foram feitos em alturas determinantes, pois ambos os cestos permitiram que a diferença pontual não baixasse dos 10 pontos. E essa barreira traz sempre uma vantagem psicológica.
# 44 (!) faltas no jogo – 22 para cada lado…
# Fields portentoso perante um dos postes mais dominadores da liga (Rasq Yussuf, líder na corrida a MVP): fez 19 pontos, 13 ressaltos e 2 abafos, em 36 minutos de jogo.
# Jogo completamente desastrado de Travante Williams, tudo saía mal no ataque e também na defesa: 6 pontos e más percentagens em pouco mais de 20 minutos em campo.
# Com o parceiro bicampeão desastrado, James Ellisor pegou na batuta e assumiu a direcção da orquestra: 19 pontos, 8 ressaltos e 4 assistências.
# Bons contributos de João Fernandes e Diogo Ventura.
Avancemos agora para o prato quente da semana – o derby eterno!
Sporting 67 – 63 Benfica
(19-9, 7-24, 22-17, 23-13)
De um lado, Amiel, Ellisor, Travante, João Fernandes e Fields; do outro, “Tweety” Carter, Caleb Walker, “Betinho” Gomes, Arnett Hallman e Eric Coleman.
O Sporting entrou muito bem no jogo, muito assertivo na finalização e forte defensivamente, ganhando facilmente um parcial de 6-0. Defensivamente, estávamos coesos e, sempre que podíamos, João Fernandes juntava-se a Amiel e realizávamos uma pressão de 2×1 sobre o base do Benfica (uma imagem de marca deste Sporting). Porém, aos poucos, o Benfica começou a equilibrar. Os encarnados fechavam a área pintada com bastantes atletas e o Sporting não conseguia alimentar Fields. Sempre que conseguíamos “cravar” a bola dentro, surgia a ajuda do lado contrário, que fechava os caminhos do cesto. O jogo exterior nem sempre saía e valeu-nos Travante Williams, alguns contra-ataques e algum (pouco) jogo exterior. 15-9 ao fim de 10 minutos, espelhava bem o desacerto ofensivo que reinava (sobretudo no Benfica – mérito também da defesa do Sporting).
No 2º período, Carlos Lisboa introduziu uma alteração, que quase os levava a ganhar o jogo… O Benfica surge a defender com uma zona press ou zona 3-2 (que ia alternando com defesa hxh, como mandam os livros), isto é, 3 homens à frente e 2 atrás, ao invés da defesa homem-a-homem que tinham apresentado no 1º período.
O segredo duma defesa à zona está na forma colectiva como defendem, nunca se desposicionando (funcionando quase como um elástico) e, sobretudo, na rapidez de deslocamento dos defensores. Outra das chaves desta defesa é o elemento central, que baixa para o centro, sempre que um dos elementos abre para o canto.
O Sporting desorientou-se e abanou por todos os lados. A melhor forma de atacar esta zona é colocar atiradores nos cantos ou pelo menos 1 atirador num dos cantos, preferencialmente do lado onde o defensor traseiro é mais lento, pois é atrás que a zona tem menos jogadores e mais espaço para cobrir. Lisboa foi inteligente, porque sabe que o Sporting não tem atletas que cumpram essa função de forma eficiente, talvez apenas Diogo Araújo, mas não é tão eficiente, como por exemplo, o benfiquista José Silva, exímio lançador daquela posição.
E com um trio da frente muito móvel, agressivo e que não se desposicionava, fez com que o Sporting não conseguisse tirar partido do seu jogo exterior, nem das penetrações, nem do seu jogo interior. Conclusão: 7 pontos em 10 minutos. Eu juro que já vi melhores pontuações em jogos do Inatel!
Esta inoperância ofensiva fazia mossa também lá atrás, porque a nossa inoperância ofensiva dava cabo da moral e, com isso, lá se ia a nossa eficácia defensiva.
Ao intervalo, nós, adeptos, já começávamos a ver o caso mal parado! Depois de uma boa entrada e de uma vantagem no 1º período, perdíamos agora por 11 pontos e não mostrávamos capacidade de dar a volta à situação.
O professor Luis Magalhães e a sua equipa técnica corrigiram posicionamentos e pediram mais calma no ataque e atitude na defesa; e, efectivamente, o Sporting entrou diferente e com outra atitude. Confiança renovada, Travante chamou a si o jogo, o Sporting começou a circular mais e melhor a bola, procurando o homem livre e fazendo os lançamentos que queríamos, ao invés de nos contentarmos com os lançamentos que o Benfica nos deixava ter.
Ao melhor ataque, juntava-se agora uma defesa ainda mais pressionante. O Benfica começou a ter dificuldades e, paulatinamente, a diferença de 11 pontos foi-se esbatendo. Só passámos para a frente aos 55-53, mas, salvo numa ou noutra situação, já não largámos mais a liderança.
Pelo meio, surgiram Ellisor com as suas penetrações, o jogo interior através de Fields e Travante com o seu jogo exterior.
Não se deixem enganar por esta crónica! O jogo foi muito, muito mau! A primeira parte foi HORRÍVEL!. A segunda foi bastante razoável, mas até parece que foi boa, quando comparada com a primeira…
O Benfica fez um combinado de 34% de lançamentos de campo (38% de 2 pontos e 29% de 3 pontos) e, mesmo assim, só perdeu o jogo por 4 pontos! Isto diz muito da nossa (má) exibição, em termos ofensivos!
Este foi um jogo completamente atípico… Aliás, eu tinha feito uma antevisão para o Patreon do Sporting160, que felizmente não foi publicado a tempo, pois falhei, pelo menos, metade das minhas previsões. Duvido sinceramente que alguém tivesse conseguido fazer uma previsão certeira…
No twitter, vi muita gente a pedir para Ellisor assumir mais o jogo em termos ofensivos. Meus caros, o Ellisor andou o jogo todo entretido a meter no bolso o Caleb Walker, melhor pontuador do Benfica nesta liga (com média de 16,5 ppj, antes deste embate) e que terminou esta contenda com apenas 4 pontitos! Nem sempre se consegue a mesma prestação em termos defensivos e ofensivos.
Apesar da má exibição, salvou-se a vitória! Sempre importante, ainda para mais sobre um velho rival, pois sabe tão bem…
Tal como diz o título do artigo, jogámos mal, mas ganhámos bem!
Quanto aos destaques, Bailey Fields, que fez 14 pontos 8 ressaltos e 3 desarmes de lançamento, James Ellisor terminou o jogo com 13 pontos, 5 ressaltos, 5 assistências e 3 roubos de bola e, claro, não podia faltar o MVP da partida, Travante Williams, que fez 23 pontos, 7 ressaltos, 4 assistências, 4 triplos e 2 roubos de bola.
E, por falar em Travante, vejam a mensagem que ele tem para vós!
Não preciso acrescentar mais nada!
Saudações leoninas a todos.
*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta
17 Dezembro, 2020 at 10:04
um post ainda melhor do que a mensagem do Travante! Diria que ganhar quando se joga mal é meio caminho andado para celebrar no final!
17 Dezembro, 2020 at 10:14
Agora que perdi as esperanças do Giannis vir para o Sporting (os Bucks não desinvestiram), vamos lá.
Com apenas 3 americanos em campo, venceu-se o Benfica. Foi um jogo mau, mau, pareciam um grupo de amigos a jogar pela primeira vez. Alguns tinham dificuldades em manter a bola dominada, foram maus passes, maus lançamentos (já o jogo dos Açores pareceu um Heat-Knicks dos bons velhos tempos), tudo mau. Excepto o resultado.
Continuo na minha, o SLB tem melhores e mais valores, mas felizmente tem um treinador limitado. O Lisboa enquanto jogador, pese o talento, não era o tipo mais inteligente em campo (na altura não havia quadras). O QI basquetebolístico não subiu. O Magalhães leu o jogo e adaptou, o Lisboa nem por isso.
A equipa mostrou saber ganhar mesmo jogando mal, porque defende, e porque luta. E porque há Travante ou Ellissor. Ou ambos. Com Fields. Mas viu-se a falta de confiança no banco, nestes jogos a doer o Claudio e o Araújo nem picam. Mesmo o Amiel… Com o Shakir ausente, vai valendo o Ventura, que é hoje de longe o melhor base. E sem medo de assumir (esquecendo aquela bola a fechar o período em que passa em vez de lançar). Bom regresso do Sá, ofensivamente é limitado, mas o seu tamanho e aqueles braços (é o Aranha) atrapalham quem ataca.
Venha o Porto, agora sem o Landis não são tão candidatos quanto isso.
17 Dezembro, 2020 at 11:02
Muito bem. É isso mesmo. Embora não concorde com a qualidade dos estrangeiros do Benfica. O ano passado sim, tinham muitos e bons: Toure, Damien, o Micah (o melhor de todos), até o Ireland que chegou a meio. Esta época são limitados em termos de qualidade. Vai-lhes valendo a capacidade atlética… Aliás, o Benfica teve 20 pontos a vir do banco. Nós, apenas 10, sendo que 9 foram do Ventura. Tivessemos 5 estrangeiros em boas condições (vá, 4) e tinhamos-nos apurado para a fase de grupos da champions.
No final desta época, vão haver jogadores tugas de qualidade a terminarem contrato, pois renovaram por 2 anos, quando o Sporting regressou. Pode ser que consigamos ir buscar algum…
Quanto ao Giannis… e tentarmos convencer Durant, quando terminar o seu contrato com os Nets.
Entretanto o barbas quer sair de Houston. Se oferecermos o pavilhão JR, pode ser que eles aceitem…
17 Dezembro, 2020 at 11:11
“Entretanto o barbas quer sair de Houston. Se oferecermos o pavilhão JR, pode ser que eles aceitem…”
😀
17 Dezembro, 2020 at 11:23
Preferia os bases todos portugas, e ir buscar um PF (a sério, não dos “stretch 4) ou poste americano para rodar com o Fields. É patético montar uma jogada de ataque com o Fonseca como pivot.
A nível de gringos temos os melhores, mas eles têm 6 (contando com o Hallman).
Com um “projecto” consolidado será mais fácil atrair um ou dois nortenhos :/
Se o Dr fosse ambicioso, ia colocar o Sporting como afiliado de uma equipa da NBA. Mandavam para cá uns rookies rodar.
17 Dezembro, 2020 at 11:31
Tenho visto alguns pelo canto do olho, mas o que tenho retirado é que o nosso MVP é o treinador, principalmente nestes jogos onde em termos de qualidade não somos claramente superiores e isto nota-se mais principalmente nas segundas partes. Defendemos bem, mas quando partimos para o ataque acho que temos de ser mais eficazes. O Fields é um bicho, mas o Travante é qualquer coisa aqui na Tuga, dentro de campo e no banco.
Quanto ao Giannis, foi pena, mas para o ano podemos avançar para o CP3, o Kawhi ou até pelo Kyle Lawry (joga muito). Tentamos aproveitar e enviamos o Ilori, velocidade e atleticíssimo são fatores premium na NBA, como não dá para o futebol pode ser que seja um bom PF no basquete
17 Dezembro, 2020 at 11:24
Eu discordo que tenha sido um jogo mau… num jogo mau perdes, aqui tiveste crer e saber para dar a volta! E recuperar como recuperamos significa competência.
SL
17 Dezembro, 2020 at 11:33
Foi mau em termos exibicionais. Nunca num jogo onde cometes 21 turnovers é um jogo bom. Foram demasiados erros, má selecção de lançamentos, you name it.
Soubemos foi adaptar-nos e vencer, mesmo jogando mal.
17 Dezembro, 2020 at 11:34
Sofreu-se desnecessariamente, mas no final,ganhámos!
É continuar, de preferência, a jogar bem e ganhar.
17 Dezembro, 2020 at 13:44
O basket, não só no Sporting mas no geral em PT, tem uma margem de progressão enorme. Tem que haver paciência por parte dos adeptos para que não haja desinvestimento por parte dos clubes. A qualidade só melhora com a entrade de melhores jogadores: estrangeiros e escolinhas. Vai demorar tempo … não há volta a dar!
17 Dezembro, 2020 at 15:18
Foram talvez 2 dos jogos mais fracos que, globalmente, a equipa fez nesta época. Todavia, é como o Cherba diz: é muito bom sinal se ganha mesmo quando se joga menos bem (porque se não pode dizer que, no jogo com o carnide tenhamos jogado mal; jogámos mal o 2º quarto e bem na segunda metade; contra o Lusitânia não tive possibilidade de acompanhar e por isso agradeço os sempre didáticos e assertivos comentários com que nos brinda o Tigas nos seus posts).
Entretanto, sem querer rejubilar com o infortúnio dos outros, não posso deixar de reconhecer que a nova lesão do Landis no Porto é ótima notícia para nós. Não sei é para quando está reagendado o nosso jogo com os tripas.
Um abraço e saudações leoninas
17 Dezembro, 2020 at 19:51
Excelente post. Como leigo, fiquei com uma noção muito boa do que se passou nos dois jogos.
O nosso plantel é menos profundo do que o do porto e dos lampiões, apesar de termos o melhor cinco base. Trazer dois americanos e o título não nos foge.
18 Dezembro, 2020 at 1:06
Maus jogos, mas com vitórias. Não são máquinas e há que estudar muito bem os jogos menos conseguidos.
É muito mais fácil corrigir na vitória que na derrota.
Hoje vi na hora de almoço o jogo dos açores com mais calma, mesmo sabendo o resultado. Meh.
Mas temos um grande treinador que no banco é um espetáculo dentro do espetáculo.
18 Dezembro, 2020 at 18:40
Caro Tigas
Mesmo atrasado, cá estou a felicitar pelo excelente post.
Vi o jogo com os lamps em directo e ia arranjando um carradão de nervos (então no 2º quarto) – 7 pontos????
Penso que os nossos “atiradores” estavam muito desinspirados porque se assim não fosse, a defesa à zona, não lhes valia de nada.
Mas isto sou eu a dizer, sei lá se é verdade.