10 jogos, 10 vitórias! O Sporting segue imparável na liga, lê-se em vários títulos de notícias de basquetebol.
É verdade! Ainda não perdemos, mas, mais do que embandeirar em arco, gosto de analisar as coisas. Elogio quando tenho que elogiar e critico quando acho que devo criticar, porque, como gosto de dizer habitualmente, “nem sempre quando se ganha está tudo bem, nem sempre quando se perde está tudo mal”. É um chavão (daqueles grandes), mas muito acertado e consentâneo com a realidade.
O Sporting deslocou-se até Aveiro para levar de vencida a formação do Esgueira por 83-70, na 11ª jornada do campeonato nacional.
O Esgueira teve um arranque em falso e tem uma rotação de jogadores muito curta (em termos de qualidade), daí ser antepenúltimo na liga, embora eu ache que tem qualidade para mais.
O que se pode dizer deste jogo é que foi bastante equilibrado.
Na primeira parte, ambas as equipas apostaram imenso nas finalizações próximas do cesto.
O Esgueira, através dos seus bloqueios directos, criava o desequilíbrio na defesa, fazendo depois o passe para o homem que cortava pela linha de fundo no lado contrário da bola. Finalizações fáceis nas zonas próximas do cesto, sem que a defesa do Sporting conseguisse contrariá-las.
Do lado do Sporting, o seu jogo habitual, com a tentativa de servir Fields para o jogo interior e Travante a tentar desequilibrar no 1×1 para depois distribuir para o homem livre. Como o jogo interior não funcionava de forma habitual e Travante estava algo desastrado, Ellisor pegou na batuta e dirigiu a orquestra: 18 pontos na primeira parte, com 75% de eficácia de lançamento de campo e 100% da linha de lance livre! Boa leitura de jogo, percebia facilmente onde se devia colocar, quem devia atacar e por onde poderia penetrar. A isso juntou-lhe um excelente critério de lançamento, que fizeram com que realizasse uma primeira parte a roçar a perfeição!
Ao intervalo, o resultado era de 44-53, favorável ao Sporting. O Esgueira apresentava uma percentagem de 71% na concretização de lançamentos de 2 pontos e o Sporting 75% de eficácia, ambas fruto de muitas finalizações próximas ou na área pintada.
A estratégia do Sporting para a segunda parte ficou logo aqui definida: fechar a área pintada, dando assim mais espaço para o tiro exterior, visto que o Esgueira tinha apenas 23% de eficácia para além da linha dos 6,75m.
A estratégia resultou do ponto de vista defensivo: apenas 11 pontos sofridos no 3º período e 17 no 4º.
O problema foi ofensivamente… Estivemos com um ataque, a espaços, atabalhoado. Travante tem a bola nas mãos demasiado tempo e ultimamente não tem tomado as melhores decisões. Más tomadas de decisão, maus passes e más leituras do que a defesa vai dando, não só Travante, mas também outros. Claro que Travante compensa muitas vezes com a sua entrega defensiva (onde também não esteve particularmente feliz neste jogo), mas ofensivamente tem que se manter mais focado no plano de jogo e não em jogar “pick’em up basketball”.
Em baixo, fica um pequeno vídeo do que eu gostava de ver mais vezes no basquetebol do Sporting. Basquetebol simples e eficaz:
Ellisor acabou por realizar os 40 minutos do jogo, terminando o jogo com 23 pontos e muito desgastado, numa partida onde Diogo Ventura entrou bem em jogo, lendo muito bem a defesa e conseguindo várias finalizações em entradas para o cesto, e Claúdio Fonseca contribuiu com mais 12 pontos, alguns deles de bonito efeito (e que podiam ter sido mais, não tivesse ele falhado alguns lances fáceis).
O Esgueira terminou com mais pontos na área pintada do que nós, mais ressaltos (sendo 17(!) deles, ofensivos), mais pontos em contra-ataque, mais pontos fruto de segundas oportunidades, menos turnovers e mais roubos de bola.
Dia 29 deste mês, jogamos frente ao Porto o jogo que está em atraso do campeonato. Porto que já arranjou substituto para o lesionado Max Landis; também é americano e chama-se Jalen Riley, um base atirador um pouco mais atlético que Landis, mas igualmente de “baixa” estatura. E porque falo na estatura? Porque foi um aspecto explorado pelo Sporting no jogo da Taça de Portugal e pode voltar a sê-lo, se colocarem Riley a marcar Ellisor (que levava invariavelmente Landis para zonas próximas do cesto e tirava partido dessa mesma diferença de estatura). O Porto pode optar por, defensivamente, colocar Riley a defender o base adversário, passando Tinsley a defender Ellisor.
Vi o Porto frente ao Maia e, mesmo sem Landis e tendo em conta que o Maia é um adversário mais acessível, continuam a jogar um basquetebol bonito e bem trabalhado em termos ofensivos. Francisco Amarante e Tinsley foram chamados a fazer o lugar de Landis e a fluidez no ataque continuou lá. Obviamente que terão de alterar um pouco o seu “playbook”, mas o Porto continua forte!
Aliás, se quiserem clicar aqui, poderão ver um pequeno exemplo do quão trabalhado são os movimentos de ataque do FC Porto. Agora revejam o vídeo novamente.
A dado momento da jogada, todos, repito, todos os jogadores do Porto estão em movimento. Isto é um pesadelo para as defesas, meus caros…
Quanto ao Benfica, também mexeu nos seus estrangeiros, neste caso, dispensando dois deles. Falo de Caleb Walker (que até era o seu melhor marcador esta época) e Scott Lindsey. Entretanto, provavelmente gastaram o dinheiro dos dois em Quincy Miller, ex-NBA, com passagens nos Denver Nuggets, Detroit Pistons e Sacramento Kings. Um extremo de 2,08m (bastante alto para o lugar), com muita experiência em boas ligas europeias (Crvena Zvezda da Sérvia, Macabi Tel Aviv de Israel, Brose Bamberg da Alemanha e Joventut Badalona de Espanha), chegando a brilhar na Euroleague. Aqui, deverá render um pouco mais e deverá fazer mais diferença que Scott Lindsey e Caleb Walker, não só no tiro exterior, como também no ressalto defensivo e, sobretudo, ofensivo.. Se querem saber, acho que esta contratação foi feita mais para tentar parar Travante nos grandes jogos.
A Oliveirense também trocou um dos seus estrangeiros. O poste Feliciano Pérez saiu e entrou Shaquille Cleare, também ele poste de 2,03m e 125 kg de peso! Mais uma presença poderosa na área pintada.
Já nós, podíamos ter aproveitado a onda e renovado os nossos americanos. Neste momento, conseguem-se bons negócios e há jogadores que se pensariam inalcançáveis e que estão por preços bastante acessíveis. Por muito importante que Shakir possa ser defensivamente e por muito que o Jalen Henry possa oferecer em termos de ressaltos e tiro exterior (e mesmo nisso…), nenhum ainda conseguiu oferecer aquilo que o Sporting realmente precisa. Diogo Ventura continua a ser o melhor base do Sporting e Amiel, com mais minutos e trabalho específico, pode ser um suplente ainda melhor. Um terceiro base americano talvez não fosse necessário, mas um 3º base português mais experiente poderia dar jeito.
Contudo, se eu compreendo a utilização do Shakir, a do Jalen Henry custa-me mais.
Eu tentaria um upgrade nesta posição, trazendo um jogador que pudesse fazer as posições 4 e 5. Ainda para mais, com as competições europeias a terem início logo no dia 6 de Janeiro, precisamos de um poste suplente mais forte que Cláudio Fonseca, não só para os jogos europeus como para os grandes jogos do campeonato. Está na altura de não ficarmos a dormir à sombra da bananeira, só porque tivemos 10 vitórias em 10 jogos… A bola está do lado do recém premiado com o prémio Stromp, e do departamento de basquetebol!
Eu gostava de vos dizer que teríamos uma ou algumas prendinhas de Natal nas modalidades, mas isto é apenas wishfull thinking! Não irão haver reforços de Inverno, seja no basket, no hóquei, no andebol ou no voleibol. Não tenham ilusões!
Entretanto, o capitão James Ellisor ofereceu ao plantel (presumo que a todos), uma moldura com uma fotografia da vitória na Taça de Portugal e com direito a uma mensagem personalizada. Classy move by the captain!
De uma coisa eu tenho a certeza: com ou sem reforços, este grupo é muito unido! E isso é uma grande força!
Boas festas a todos e poupem-se nos doces, pois dia 29 há jogo grande e temos que estar em forma!
PS: Já depois de ter terminado a escrita deste artigo, corre o boato que, afinal parece que vem mais um reforço para o Benfica. Bryce Alford, base atirador formado na Universidade de UCLA (colega de Lonzo Ball). Basicamente, é um jogador tipo Max Landis… 🙁
*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta
24 Dezembro, 2020 at 18:01
O ex-nba (ex aguadeiro) ao que parece desfez um joelho há uns anos e está todo podre.
Quanto a reforços, concordo em trocar os 2 amaricanos; o Shakir é fução, e o Henry nem sei que dizer. Estará limitado e valerá mais?
Aquele período de Araújo e Fonseca no ataque foi…….
O Sá também não dá muito no ataque, e a incapacidade de finalizar sob o cesto com aquele tamanho e aqueles braços é preocupante.
24 Dezembro, 2020 at 18:25
Mais um belíssimo petisco servido na Tasca pelo Tigas!
Não pude seguir o jogo mas fico com mais uma ótima descrição de como decorreu e das suas principais incidências.
«(…) Claúdio Fonseca contribuiu com mais 12 pontos, alguns deles de bonito efeito (e que podiam ter sido mais, não tivesse ele falhado alguns lances fáceis).»
Mais uma vez, é esta espécie de “bipolaridade” que me faz muita confusão nas exibições do Cláudio. Tanto se revela um jogador útil, como (no mesmo jogo e em quase todos jogos) tem momentos em que parece “desligar” não segurando passes, ganhando a tabela mas depois deixando escorregar a bola, falhando afundanços por “excesso de força”, falhando lances bem mais fáceis que outros em que, no mesmo jogo, foi devidamente assertivo. calculo que isso também deixe Luis Magalhães à beira de um ataque de nervos.
Quanto à necessidade de aproveitar a “janela de inverno” para “ajustar” a equipa (e aos “lugares” a sofrer esses ajustes) estou completamente de acordo.
Finalmente, um aparte: na Liga NOS de Futebol, o jogo Sporting vs Gil Vicente da primeira jornada foi adiado devido a casos de Covid-19 em ambas as equipas; quando foi realizado o Sporting não pôde usar João Mário por este não estar inscrito quando da data/jornada para que o jogo estava inicialmente calendarizado; essa regra, na minha opinião, é justa e defende a verdade competitiva; no Basket (e noutras Modalidades) a não aplicação de idêntica regra não ajuda a promover a lealdade competitiva.
Um abraço e saudações leoninas
Boas Festa Tigas e obrigado pela excelente contribuição para a construção da “cultura basquetebolística” dos Tasqueiros
24 Dezembro, 2020 at 21:23
Boas Festas, Tigas e todos os demais tasqueiros
Mais um post muito elucidativo e pedagógico.
Obrigado
24 Dezembro, 2020 at 21:35
Curioso ou talvez não, que um post sobre uma modalidade de pavilhão onde o Sporting tem dominado nos últimos tempos nem consiga metade dos comentários do post anterior sobre o volei. O pessoal quer é malhar e proferir os mesmos chavões de sempre.
Enfim…. Bom Natal para todos!
24 Dezembro, 2020 at 22:14
Bosa Festas também para ti.
Segue a prenda:
https://lh6.googleusercontent.com/-Q21R2qwoLxM/TeYoIPwfS6I/AAAAAAAAAvI/9Rt2_m_NYjU/s720/n-troll2.jpg
25 Dezembro, 2020 at 14:10
Está mais relacionado com o escárnio do que propriamente pelo interesse na modalidade.
Esta rubrica tem muita qualida e preparação. Parabéns Tigas!
Abraço
25 Dezembro, 2020 at 15:31
É preciso também contextualizar e analisar ontem (consoada) a hora a que saiu o post do Tigas (e quantos comentários houve a partir dessa hora, nos outros posts do dia) ou analisar o ínfimo número de comentários nos “Off-Topic” de 24 e 25 de Dezembro comparado com os de outros dias da rubrica (e a maioria dos comentários de hoje e ontem eram para trocar desejos de Boas Festas).
Um abraço Adrien e continuação de Boas Festas para e para os seus
25 Dezembro, 2020 at 10:41
Há mais interessados em volei que em basquete. Isto do balão cesto é coisa de amaricanos.
25 Dezembro, 2020 at 19:15
Ao lêr estes comentários até parece que estamos a ver o jogo. Excelente. O caminho faz-se caminhando e espero ver o Sporting campeão. Boas festas.
25 Dezembro, 2020 at 19:17
Boas postas. Não sigo muito o basquete e o volei, por falta de tempo maioritariamente, mas é sempre bom ler estes resumos. É tipo Domingo Desportivo