No jogo mais exigente da época, o Sporting dominou, sofreu, teve estrelinha e foi eficaz, mas acima de tudo foi uma equipa de mãos dadas que subiu mais um degrau mesmo face a uma arbitragem que deixou dois penaltis por assinalar e vários cartões por mostrar aos jogadores do Braga

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Já se sabia que seria um jogo de altíssimo nível de exigência, ou não fosse o Braga uma das equipas mais fortes do campeonato e que chegava a Alvalade com os aplausos de ser a que praticava melhor futebol nas últimas semanas. E depressa se percebeu que ao adversário se juntaria o extra de uma equipa de arbitragem, incluindo VAR, pronta a tornar a tarefa ainda mais complicada.

Ainda nem dez minutos estavam decorridos de um jogo onde o Sporting entrou bem, senhor e sempre pronto a disparar Tiago Tomás nas costas de Rolando e do trauliteiro Raúl Silva, e já um penalti ficava por assinalar contra o Braga. O empurrão de Rolando a Feddal, quando este vai a elevar-se para tentar chegar de cabeça à bola, é tão claro que dispensa mais palavras. E se foi assim a abrir, foi assim a fechar, novamente com a complacência do VAR, deixando passar em claro um toque de Raúl Silva a Tiago Tomás dentro da área quando a bola nem estava perto deles. Dois penaltis por assinalar em 45 minutos – não acho que a bola na mão de Fransérgio seja penalti – e uma conivência assustadora com as várias entradas que os jogadores do Braga iam fazendo, com destaque para Raúl Silva, Musrati, que só não levou o tendão de aquiles de Palhinha para casa porque não conseguiu, e o tão falado Paulinho, que parece ter aprendido a saltar sempre de braços à cabeça dos adversários.

Entre esse dois lances, um jogo com duas fases completamente distintas. Primeiro, até por volta dos 25 minutos, uma partida completamente dominada pelo Sporting, chegando primeiro à bola, manietando a construção adversária, procurando sempre as costas da defesa, mas sem conseguir criar efectivo perigo, sendo o destaque maior aquela delícia de pormenor de Tiago Tomás a receber e a desmarcar Nuno Santos para um grande corte de Ricardo Esgaio. João Mário baixava e fazia a equipa jogar, mas faltava a projecção ofensiva e a capacidade de criar situações de golo, até porque Pedro Gonçalves parecia novamente desinspirado. Porro começava desde cedo a dar nas vistas, metendo Galeno no bolso e não hesitando em tentar ser factor de desequilíbrio, mas faltava, efectivamente, último terço à equipa.

A partir da meia hora tudo se inverteu. O Braga conseguiu empurrar as linhas de pressão leoninas, subiu, ganhou o meio-campo e todas as segundas bolas, e esteve perto de marcar por duas vezes. Primeiro, o mano Horta apanhou-se frente a Adán e tentou um chapéu, mas o redes espanhol respondeu-lhe com a defesa da noite e com um abafanço digno da NBA; depois, numa bola de ressaca, Musrati rematou de fora da área e viu a bola embater com estrondo no poste, fazendo brilhar a estrelinha de um Sporting que cerrava fileiras para passar aqueles dez minutos de aflição.

Os únicos dez minutos, diga-se de passagem, em que o Braga pareceu interessado em ir para cima do adversário e ir à procura da vitória, diga-se de passagem. Ok, podemos juntar-lhes os dois primeiros do segundo tempo, altura em que Paulinho meteu a bola na baliza de Adán em fora de jogo. Golo obviamente anulado e uma espécie de sinal de alerta para os Leões, que quase sempre embalados por Porro acabaram por chegar ao golo a partir da esquerda: cruzamento de Nuno Mendes, penalti de Sequeira sobre Nuno Santos, mas a bola a sobrar para Pedro Gonçalves marcar ainda antes do VAR poder analisar.

À solidariedade e sacrifício de Coates – aquele corte de carrinho, meus amigos e minhas amigas -, Neto e Feddal, com as costas bem guardadas por Adán, juntava-se a eficácia, coisa que para uns tem esse nome e esse mérito, mas que para outros é considerada sorte e que leva os Galenos espalhados pelo planeta a rasgar a camisola de raiva. Tabata viria para o lugar de Nuno Santos sem acrescentar grande coisa, Sporar viria para o lugar de Tiago Tomás com uma genica surpreendente e claramente à espera da entrada de Matheus Nunes, segunda cartada acertada de Amorim, que o colocou no lugar de um Peter Potter sem magia.

Aos 78 minutos, Sporar arrancou desenfreado pela esquerda, levou à frente quem tinha que levar e viu o seu remate ser defendido, mas dar origem à recarga de Matheus Nunes. 2-0 e o Leão com o jogo na mão. Teve pouco brilho? Teve. Mas ser competente e ganhar quando o brilho dos mágicos não aparece é o que decide jogos e campeonatos, e esta equipa do Sporting não só voltou a ser competente, como mostra uma solidariedade, uma união e uma vontade de vencer que fica bem expressa na reacção de Pedro Porro à conquista de um lançamento lateral quando o relógio já dava a última volta para o final e havia a certeza de que o Sporting tinha ultrapassado mais um cabo neste longo caminho rumo à Isla Bonita.

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