Na sexta feira passada, recebemos, no Pavilhão João Rocha, a equipa do Galitos do Barreiro e vencemos por 99-61. No domingo, fomos até à cidade da Maia e batemos a equipa do Maia Basket por 71-95. Estas duas vitórias elevam a nossa contagem para 15 vitórias em 15 jogos.

Para as competições nacionais, não perdemos um jogo desde 18 de Janeiro de 2020, quando fomos eliminados na meia-final da Taça Hugo dos Santos (a taça da Liga) pela Oliveirense, por 93-88 (após prolongamento). Quer dizer que não perdemos internamente há mais de 1 ano!
Se falarmos só no campeonato nacional, então a última derrota foi no Pavilhão da Luz, frente ao Benfica, por 85-79, no dia 2 de Novembro de 2019!

Estes dois jogos tiveram muitas semelhanças. O Sporting entrou muito forte no 1º período, onde conseguiu parciais quase demolidores: 32-5 frente ao Galitos e 10-26 frente ao Maia.
No segundo período, começaram as habituais rotações e as nossas segundas unidades tinham a missão de manter o resultado e gerir a partida.

Em ambos os jogos, os jogadores habitualmente suplentes tiveram direito a muitos minutos e, dentro desses, houve um que se destacou a larga distância dos outros: Cláudio Fonseca.
Muitas vezes considerado o patinho feio da equipa, seja pelo seu lançamento da linha de lance livre esquisito (feito com apenas uma mão), seja por por vezes se amedontrar nas zonas próximas do cesto, certo é que vimos um Cláudio Fonseca muito confiante, dominador nas tabelas e extremamente assertivo na linha de lance livre (local onde tem mostrado bastantes melhorias).
No jogo frente ao Galitos, travou uma “dura” batalha com Rozelle Nix, um jogador poderoso do ponto de vista físico :), tendo terminado esse jogo com 22 pontos e 8 ressaltos. Frente ao Maia, conseguiu um duplo-duplo com 17 pontos, 15 ressaltos e 2 desarmes de lançamento.

O Sporting foi extremamente dominador na zona interior em ambos os jogos, onde: ganhou 51 ressaltos, 21 deles ofensivos e concretizou 52 pontos na área pintada, frente ao Galitos; ganhou 51 ressaltos, sendo 16 deles ofensivos e concretizou 44 pontos na área pintada, frente ao Maia.
O “tiro” exterior não esteve tão eficaz, como desejado, ou ambos os resultados teriam disparado para números absurdos…
No jogo da Maia, cometemos muitos turnovers, fruto de alguma descoordenação ofensiva nas segundas unidades.

Não me vou alongar mais nos resumos, porque existem outros assuntos que merecem umas linhas…

Segundo o jornal A Bola, Jalen Henry, outro dos patinhos feios do plantel, fracturou o pulso num dos treinos. O Sporting viu aqui a sua oportunidade de poder substituir um elemento que, na realidade, nunca impressionou, especialmente em termos ofensivos.

micah

O reforço será, nada mais nada menos, que Micah Downs, americano de 34 anos e 2,03m, que durante as épocas de 2018/2019 e 2019/2020, representou o nosso rival da 2ª circular. Durante o seu primeiro ano em Portugal, foi mesmo o melhor jogador do Benfica e um dos melhores do campeonato. Um jogador completamente diferenciado dos outros, ao nível de um Travante Williams, James Ellisor ou Max Landis.
Na época seguinte, teve uma lesão grave e optou por deixar Portugal no final dessa época em busca de um campeonato mais competitivo, tendo apenas arranjado um contrato de pouco tempo numa equipa alemã, o S. Oliver Wurzburg.

Desconheço o seu estado físico, embora seja conhecido por ser um rato de ginásio, pelo que poderá demorar um pouco até tirar a ferrugem das mãos e pernas.

Quem não o conhece, fique sabendo que Micah Downs é essencialmente um extremo (posição 3, a mesma de Travante), mas que pode jogar perfeitamente como extremo/poste (posição 4). Na teoria, Micah entra de caras no 5 inicial no lugar de João Fernandes.
Na prática, acho que vai rodar entre a posição 3 e 4, permitindo uma rotação maior e dando mais soluções ao treinador, que poderá deixar sempre em campo 2 ou 3 americanos de alta qualidade. Pontos, ressaltos, boa leitura de jogo, agressividade e qualidade de lançamento é o que podemos esperar do Micah Downs. No entanto, o seu tempo de explosividade já passou; esse existia quando defrontava os Barcelona’s e Real Madrid’s desta vida.
A minha preocupação é com a perda de minutos de João Fernandes, um jogador essencial na manobra da equipa, ao ponto de o ter considerado o jogador revelação do ano passado, de todas as nossas modalidades.

Na realidade, dos principais candidatos ao título, o Sporting era o que menos utilizava os seus americanos. Nos grandes jogos, habitualmente jogam apenas 3, com Shakir ou Henry a terem pouquíssimos minutos. Com este reforço, não podem haver desculpas se o título não for nosso!

Agora, podemos discutir o momento desta contratação, o seu contexto dentro de umas modalidades à deriva e a sua necessidade numa equipa que não perde internamente há sensivelmente 1 ano.

Começando pela última parte, apesar dessa “imbatibilidade” na liga, o plantel está longe de estar perfeito. Tem lacunas e uma delas era esta. Ainda para mais, Oliveirense, Benfica e Porto (estes por necessidade), retocaram os seus plantéis. Se olharmos para as outras equipas, Barreirense, Ovarense, Esgueira, entre outros, também retocaram as suas equipas.
E nós? Iríamos dormir à sombra da bananeira? Se não retocássemos a equipa, o que diriam depois se não conquistássemos títulos? É que a liga decide-se num sistema de playoffs e não num campeonato regular a duas voltas.
E não podemos esquecer que, brevemente, teremos a FIBA Europe Cup, em formato de “bolha”, com 3 jogos em menos de 1 semana(!), bem como a Final Four da Taça Hugo do Santos em Fevereiro.

O que nos leva ao ponto do momento e contexto desta contratação. Numa altura de despedimentos colectivos no clube, inseridos numa narrativa em que não existe dinheiro (onde param as quotas?), que tem levado a um desinvestimento crescente nas várias modalidades, levando ao abandono de algumas e ao fecho de outras, esta contratação mostra um claro benefício de uma modalidade em detrimento de outras. Isso só não é claro para quem anda desatento! Basta ver o que se passa no voleibol masculino (que o Adrien tão bem retrata aqui na rúbrica “Bonito Serviço”) ou no futsal feminino. E refiro-me apenas às modalidades de pavilhão, sendo notório que todas, talvez excepto o hóquei, necessitam de reforços (plural).

As “minhas fontes” dizem-me que o Micah veio ganhar consideravelmente menos do que aquilo que auferia no Benfica, pelo que se tratou de uma troca com poucos custos para o clube. Todavia, isto não invalida o “timing”, o contexto e tudo o que referi acima, porque, na realidade, existem outras modalidades mais necessitadas que o basquetebol e outras que terminaram porque “supostamente” não tínhamos dinheiro!
Na verdade, todos sabemos que, mais do que falta de dinheiro, existe falta de vontade, sendo a canoagem um bom exemplo disso mesmo (e para quem não sabe o que se passou, basta consultar aqui a Tasca).
Se as informações dadas forem correctas, leva-nos à pergunta: Porque é que outras modalidades não fazem pequenos, mas importantes ajustes nos seus plantéis, de forma a poderem atacar melhor os objectivos traçados no início da época?

WhatsApp Image 2021-01-21 at 17.35.53

Para terminar, no final deste mês, jogaremos a FIBA Europe Cup. No dia 26 de Janeiro, às 14h00 defrontaremos os israelitas do Ironi Ness Ziona, no dia 28, às 17h00, defrontaremos os polacos do BM Slam Stal e, no dia seguinte, dia 29, pelas 20h00, defrontaremos os húngaros do Szolnoki Olajbányász KK. Os jogos, como já referi em cima, serão disputados numa “bolha” na cidade de Wloclawek, na Polónia.

Fiz um pouco de scouting pelo Youtube (muito limitado, diga-se) e aquilo que observei foi o seguinte:

Os israelitas não são uma equipa tão alta ou física como o Igokea (equipa que nos eliminou na fase de qualificação da Champions). São, actualmente, o 9º classificado da liga isrealita, tendo um plantel maioritariamente constituído por jogadores nacionais e americanos, sendo o colombiano Brian Angola um dos seus principais jogadores do plantel a par do base Patrick Miller (mesmo tendo Wayne Selden, um ex-nba no plantel). Têm um plantel com 1,95m de média de altura e 26 anos de média de idade.
Quanto ao seu jogo, são uma equipa que preenche e fecha bem a sua área pintada em termos defensivos, mas que defende mal o tiro exterior adversário. Não têm, por isso, a elasticidade defensiva necessária para cobrir, quer a zona interior quer a exterior (ponto que poderemos explorar). Ofensivamente, mexem-se bastante e têm lançadores (quase todos os jogadores lançam de 3 pontos). Parece-me que têm uma rotação curta…

Os polacos do BM Slam jogam “em casa”. Com um plantel mais experiente que os israelitas (média de 28 anos de idade), mas mais baixo (com uma média de 1,94m), são, no entanto uma equipa mais física, com alguns atletas mais altos e fortes que os israelitas (a média acaba por ser “estragada” devido à pouca estatura de outros). São maioritariamente polacos, com um filandês, um croata e alguns americanos, sendo, actualmente, o 5º classificado da liga polaca. Têm uma boa rotação, com estrangeiros a virem do banco, o que pode ser um problema para nós. Os polacos são uma equipa que gosta de defender e, tal como nós, adoram pressionar alto, neste caso, numa pressão campo inteiro em 2-2-1 ou 1-3-1. Espero, sinceramente, que o Sporting tenha descoberto o mesmo que eu ou leia isto, porque senão vamos passar mal com esta defesa a campo inteiro que eles fazem muito bem. No fundo, são uma equipa parecida com a nossa, que faz da sua defesa o seu maior trunfo.

As médias do plantel dos húngaros não fogem muito à regra: 1,96m de altura e 25 anos de idade. A título de curiosidade, as nossas são de 1,97m e 27 anos, isto com Jalen Henry e não com Micah Downs. O 5 inicial dos húngaros é habitualmente constituído por um húngaro, um americano, um montenegrino e 2 croatas. Tirando o base húngaro Pongo, todos os outros contribuem de forma regular, tendo um jogo muito colectivo. Gostam de defender bem e sair para o contra-ataque. Pongo e Warner mexem muito com o jogo ofensivo, muita atenção ao poste croata Cakarun e ao extremo/poste atirador Subotic (será fundamental pará-lo). São, actualmente, os líderes do campeonato húngaro.

Essencialmente, estas equipas vão colocar-nos problemas diferentes daqueles que nos são colocados na liga interna. As equipas europeias, habitualmente, são mais físicas e têm bons atiradores. Jogam um jogo mais colectivo, com muitas jogadas planeadas, o que requer um bom estudo das mesmas e muita capacidade de adaptação. Se Micah Downs estiver bem fisicamente, acho que somos candidatos a ficar nos 2 primeiros lugares do grupo e, consequentemente passarmos à fase seguinte. O cansaço desta “bolha” pode ser perigoso, pois, no regresso à liga, iremos viajar até Albufeira para defrontarmos o Imortal.

Saudações leoninas e saúde para todos!

*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta