Num dérbi jogado aos repelões, o Sporting foi a única equipa a querer ganhá-lo do primeiro ao último minuto. E ganhou. Com esforço, dedicação, devoção e crença, receita para uma vitória inteiramente justa que deixa o benfica a nove pontos de distância e os adeptos verde e brancos cada vez colados ao sonho que ganha forma a cada jogo desta equipa

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Um dérbi no dia de fecho de mercado, Paulinho para cá, Borja e Sporar para lá mais um saco de milhões de euros, João Pereira de regresso, Matheus Reis contratado, Camacho emprestado, Palhinha descastigado e reconvocado, no banco sentado, num jogo que a todos deixava de coração apertado.

Ao contrário dos adeptos, com cabeça e coração a mil, a equipa do Sporting mostrava desde cedo ao que vinha no dérbi: para ganhar. Matheus Nunes era a mexida esperada, em nada mexendo com um desenho táctico ao qual o benfica quis adaptar-se desde o início, apostando numa tripla de centrais, subindo os laterais e encaixando toda a mecânica em função do modelo leonino. E nem quando Jardel quis correr tanto como Nuno Santos e teve que sair lesionado os encarnados pensaram em mudar: Weigl recuou e entrou Gabriel, pronto a bater tanto quanto o alemão. Chegou a ser deprimente ver aquele amontoado de gente que custou milhões de euros a limitarem-se a fazer faltas, com destaque para as que iam sofrendo Tiago Tomás e Nuno Mendes, alvos preferenciais de Otamendi, Gilberto, Weigl e Gabriel. Foi revoltante ver como Soares Dias não quis expulsar o lateral direito, Gilberto, naquela entrada ordinária sobre Nuno Mendes, quando estavam decorridos cerca de 60 minutos de jogo.

Durante essa hora, o jogo pouco desatou. Esteve quase sempre o Sporting com bola, nunca se desposicionando na pressão alta e nos movimentos defensivos, mesmo durante aqueles dez minutos do início da segunda parte que foram os únicos com supremacia encarnada ao longo de todo o jogo, bem segurados pela tranquilidade de Adán e de Coates, homem que parece disposto a fazer uma época épica. Ainda assim, e até ao momento que decidiu o jogo, a real oportunidade de golo esteve na cabeça de Neto, a cinco minutos do intervalo. Sou gajo para apostar que muitos de vocês, tal como eu, gritou golo enquanto a bola se dirigia ao poste mais distante, mas a partida acabaria por ir mesmo a zeros para o intervalo.

Amorim seria o primeiro a mexer, trocando Nuno Santos e o tocado João Mário por Jovane e por Palhinha, que entrou com vontade de mandar naquela cena toda. Não só foi engolindo o meio campo, como ainda esteve perto de escrever um capítulo dourado quando, de ressaca, disparou de fora da área uma bomba que quis explodir fora da rede. O relógio não parava, Tabata entrava para o lugar do exausto e heróico Tiago Tomás, mas continuava tudo muito enbrulhado, por vezes feio, com muitos receios a vir ao de cima, nomeadamente dos adeptos Sportinguistas que sabem a quantidade de vezes que a sorte madrasta lhes bateu à porta.

If we live a life in fear
I’ll wait a thousand years
Just to see you smile again

Já em cima dos noventa, Bragança rende Peter Potter, como se da troca de mágicos pudesse sair algo incrível, mesmo faltando cinco minutos. Jovane ajoelhou dois, a bola atravessou a área, mas Porro Coração de Leão não deixou que ela se perdesse. Novo centro, Vlacocenas armado em esperto e aquela fracção de segundos em que o mundo pára e os astros se alinham, segredando a Matheus que substituiu o Palhinha que quiseram tirar do dérbi, “vaiquiétua!”. O puto mergulha e ainda a bola não entrou já nós corremos para onde quer que o cofinamento nos permita, celebrando mais uma conquista desta resistência verde e branca.

Love is our resistance
They’ll keep us apart and they won’t stop breaking us down

Captura de ecrã 2021-02-02, às 13.10.13

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