Após ter visto o seu jogo da 3ª Jornada do Grupo de Apuramento de Campeão do Campeonato Nacional BPI de Futebol Feminino (contra o Marítimo) adiado de 31 de Janeiro para 19 de Maio (!?), o Sporting disputou a 4ª Jornada deste Grupo, deslocando-se a Albergaria-a-Velha para defrontar o Clube de Albergaria, que, na 1ª Fase, havia terminado a Série Norte em 3º Lugar mas com os mesmos 14 pontos que o 5º, o Valadares Gaia, que, assim, se viu relegado para os Grupos de Manutenção.

O Albergaria é um Clube com alguns pergaminhos no FF português. Já foi 3 vezes finalista da Taça de Portugal e 1 vez da Supertaça (sempre vencido) e conquistou por 3 vezes o Nacional da 2ª Divisão Zona Norte, sendo presença regular nos campeonatos nacionais da 1ª Divisão. Para esta época o Albergaria preparou um plantel bastante equilibrado, com apenas 3 estrangeiras e 20 nacionais, em que se mistura juventude com experiência, mas cujo principal factor de equilíbrio colectivo é o facto de jogadoras e treinadora se conhecerem na perfeição. A maioria das portuguesas ou vieram da formação do Clube ou estão neste há mais de 5 anos. A treinadora, Paula Pinho, leva 9 anos no comando técnico do Clube de Albergaria, após ter sido neste clube que fez TODA a sua carreira de jogadora (11 anos como senior e 1 internacionalização). Entre o “pendurar das botas” e o papel de treinadora mediaram 4 anos de muita aprendizagem e formação. É, na minha opinião uma das boas treinadoras do nosso FF e um caso muito sério de amor ao seu Clube (em 2018/19 treinou cumulativamente as seniores, as juniores A e as juniores B). O Albergaria não tem recursos para se bater com as 4 equipas mais apetrechadas (Benfica, Famalicão, Sporting e Braga), mas com bem menos custos do que a maioria dos outros competidores, conseguiu não só qualificar-se para o Grupo de Apuramento de Campeão, como, neste Grupo, ao momento, disputou 3 jogos, tendo naturalmente perdido os 2 em casa contra Benfica e Sporting (pelo mesmo resultado 0-4), mas indo vencer fora por 1-2 o Condeixa (equipa com recursos muito idênticos), pelo que se encontra em 5º lugar (logo abaixo dos 4 candidatos); muito importante será o embate contra o Torreense em Torres Vedras, já no próximo dia 14, para atualizar o respetivo adiamento da 3ª jornada.

Sobre o nosso jogo não haverá, de facto, muito a dizer. O Sporting entrou logo a mostrar ao que vinha, instalando-se quase por completo no meio campo adeversário (desde os 10 min e 20 seg o Albergaria apenas conseguiu ultrapassar o seu meio campo com bola aos 19 min e 52 seg); a partir desse momento afoitou-se um pouco mais em tímidas tentativas de ataque, quase todas pelo seu lado esquerdo fruto do bom jogo de 2 das suas estrangeiras (a média húngara Zoé Magyarics, que atuou a defesa esquerda recuperando muitas bolas e ligando com a ala esquerda brasileira Érica, jogadora muito interessante com boa técnica e velocidade e algum poderio físico). Mas se essa maior liberdade ofensiva permitiu ao Albergaria esticar mais o seu jogo e não sofrer tanta pressão das médias e atacantes leoninas, a verdade é que as leoas não conseguiram criar mais perigo apesar do maior espaço criado. Até que, numa arrancada pela ala esquerda, Joana Marchão, em vez de centrar, ao perceber algum adiantamento da Guarda Redes Diana Oliveira, opta por um remate direto que surpreende todas com um golo de belo efeito. Estavam decorridos 37 minutos de jogo e o Sporting parecia ter “desbloqueado” o jogo.

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Todavia, o Albergaria não perdeu a sua capacidade de entreajuda e concentração defensiva e até quase ao fim do 2º tempo, excepção feita ao golo da jovem Marta Ferreira (18 anos), o forte domínio do Sporting não se traduzia em grandes ocasiões de perigo. Já nos últimos minutos de jogo, a resistência do Albergaria cedeu, muito por força do cansaço físico e emocional a que foram obrigadas as suas jogadoras (que tiverem que correr e se esforçar muito, quase sempre sem bola, o que desgasta bastante). Nesses últimos 15 minutos o Sporting construiu mais ocasiões que em todo o resto do jogo e acabaria por voltar ao golo mais 2 vezes: aos 83 minutos pela “inevitável” Raquel Fernandes e, já nos descontos, a jovem Inês Gonçalves (19 anos) estreou-se a marcar pela noss equipa sénior A.

Destaques leoninos neste jogo vão: Joana Marchão (em minha opinião a melhor lateral esquerda portuguesa), sempre em jogo, a disputar todas as bolas com muita raça e com um pulmão incrível; Raquel Fernandes (a internacional brasileira tem um técnica notável sendo muito difícil tirar-lhe a bola e consegue aliar a isso uma boa entrega, ótima visão de jogo e capacidade de golo; a Nevena Damjanovic, mais uma vez, foi um verdadeiro pêndulo de relógio suíço – não sabe jogar mal.

Nos restantes jogos da jornada o destaque vai para a vitória do Benfica em Famalicão (0-1) graças a um golo madrugador (4 min) da brasileira Ana Vitória. O Famalicão reagiu bem exerceu muita pressão, criou várias oportunidades mas não marcou. Saliência também para a dureza e o anti-jogo das encarnadas (5 amarelos na segunda parte, um deles à GR por repetida demora na reposição da bola em jogo – mostrado … aos 87 minutos … outra forma de perder ainda mais tempo). O Braga venceu sem dificuldade por 7-0 um Torreense que se apresentou com menos 9 unidades (5 delas habituais titulares). Para não variar, a jornada fica também assinalada pelo adiamento de mais um jogo, o Marítimo vs Condeixa, com nova data ainda por marcar. E, com todos os adiamentos e interrupções competitivas este campeonato parece uma daquelas séries de episódios cuja periodicidade é tão regular quanto o sexo de um casal de octagenários. Atentem aos Jogos já adiados e às novas datas:

SC Braga vs Condeixa (2ª jornada) → dia 10 Março às 20h00m
Torreense vs Clube de Albergaria (3ª jornada) → dia 14 Fevereiro às 15h00m
SL Benfica Vs SC Braga (3ª jornada) → dia 21 Fevereiro às 15h00m
Sporting CP vs Marítimo (3ª jornada) → dia 19 Maio (!!!) às 11h00m
Marítimo vs Condeixa (4ª jornada) → ???
Agora prestem atenção às datas da próxima jornada:
SL Benfica vs Marítimo – 28 Fevereiro
Clube de Albergaria vs SC Braga – 28 Fevereiro
Sporting CP vs Condeixa – 14 Março
Torreense vs Famalicão – 14 Março

O Sporting e o Famalicão jogaram a 6 de Fevereiro e o Torreense a 7 de Fevereiro, para só voltarem a jogar a 14 de Março. Mais de um mês sem jogar. Alguém consegue explicar porquê?
O Albergaria joga com o Braga para o Campeonato BPI em 28 de Fevereiro, mas NO MESMO DIA ainda tem marcado o jogo com o Damaiense para a Taça de Portugal (devem-se ter esquecido de remarcar). O Braga, por sua vez joga a dia 28 (3 semanas depois do seu último jogo) e ,logo 3 dias depois, defronta o Sporting para a meia final da Taça da Liga. Sporting que não tem qualquer jogo entre 6 de Fevereiro e 14 de Março. Já agora, dado o contexto “competitivo” altamente condicionado pela pandemia, alguém consegue explicar para que raio serve a Taça da Liga nesta temporada? Não a podiam ter cancelado e já se terem jogado mais uns jogos do Campeonato principal?

Assim é difícil haver transmissões televisivas com share minimamente aceitável. Se ninguém sabe quando são os jogos, se a competição principal se torna cada vez menos interessante porque fica envolta numa enorme confusão de datas e de jornadas que se cruzam, então é difícil procurar maior sustentabilidade, maior competitividade e maior atratividade para o Futebol Feminino.

* dos Açores com amor, o Álvaro Antunes prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino. Às terças!