Costuma dizer-se que o bom filho a casa torna e o dito popular encaixa que nem uma luva neste regresso: depois de uma prolongada licença sabática, o Zero Seis deixa de lado os tupperware e volta a escrever na Tasca apostando em empratamento refinado! Welcome back!

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Meus caros amigos Sportinguistas, tenho de dizer algo que me anda atravessado na garganta já há uns bons 2 meses ou mais. Talvez por ser Sportinguista, contenho-me nos elogios ao meu clube, penso duas vezes antes de destacar positivamente um jogador e evito ao máximo pôr as mãos no fogo por qualquer que seja o dirigente leonino. São “defesas” que se vão desenvolvendo com os anos, com as desilusões, com a história de ser um adepto do Sporting Clube de Portugal.

Mas é impossível e até desonesto não admitir que esta equipa de futebol acordou em mim uma esperança que há anos andava desaparecida. Passou todas as barreiras com que bloqueio a minha capacidade de acreditar. Ontem rendi-me finalmente ao que já era por demais evidente. Voltaram as superstições, não conseguir ver jogos sentado, aceleramento cardíaco, alheamento quase completo a tudo o q não está a acontecer dentro daqueles relvados, enfim…a doideira voltou e em força.

Acima de tudo, a minha esperança regressou porque é muito fácil gostar desta equipa. Tem uma alma enorme, com que supera alguma falta de qualidade e experiência (não há Brunos Fernandes nem Balakovs, não há Mathieus, A.Cruz ou Scmeichel’s). Tem uma combatividade e resiliência fora do comum (principalmente no Sporting) essencial quando sabemos o que VAR, árbitros e outros players são capazes. Tem humildade suficiente para ver-se a si própria não como um patinho-feio, mas como um concorrente improvável, uma equipa que terá de estar a 120% da sua capacidade, em todos os jogos, para ser feliz.

Como é evidente, o gosto por todas estas qualidades ainda é ampliado por ver tanta juventude, formada em casa, estar a ascender seguramente ao estatuto, não de estrelas, mas de alicerces. Pontos seguros sobre o qual o clube poderá reconstruir a sua vocação de voltar a formar as maiores figuras do nosso futebol. E sim, porque não admitir também que é fácil gostar e acreditar nesta equipa por Ruben Amorim.

Não acredito em “salvadores”, nesta indústria todos zelam pelo seu sucesso e pelas vantagens à volta do mesmo. Sei que o nosso treinador não perde 2 segundos a preocupar-se com a história, o presente ou futuro do nosso emblema. No lugar dele, faria o mesmo. Não é sportinguista. Nunca será. Mas nem eu nem o clube precisam dessa extensão afectiva. Precisamos sim da sua inteligência, talento, astúcia e capacidade para moldar um balneário à medida do que é preciso para ganhar, à medida das melhores armas que o clube lhe pode dar.

Nessa medida, não só é fácil gostar de Amorim, como é fácil evidenciar que não sendo Leão de origem, compreende, melhor que muitos que o são, onde residem as forças e fraquezas no contexto leonino. Tem feito uso de ambas para construir o seu caminho, mas nunca se desculpando por aí, algo a que por exemplo “deuses” como JJ ou Mourinho resistiram pouco nos tempos mais recentes. Esta capacidade para ampliar as virtudes e diminuir os defeitos é a prova que estamos perante um treinador de grande sucesso e se há previsão que não tenho receio de fazer, é que Amorim não vai ter grandes problemas em ser um dos melhores treinadores mundiais daqui a muito pouco tempo.

Por tudo isto ser verdade para mim, deve ser dito e partilhado. Não como uma responsabilidade adicional para o clube ou equipa. Eu escolho acreditar. Ninguém me obriga, ninguém me deve seja o que for, caso não venha o tal título no final da época. Acho até que a minha identificação com esta equipa nada tem a ver com o que eu espero dela, mas sim do que ela me dá a mim.
E por mais que adore ganhar, a palavra “campeão” não se atribui apenas aquele que ganha, mas principalmente aquele que defende uma convicção, um direito, um povo ou um sonho. Esta equipa tem sido Campeã, tem devolvido e ampliado a nossa capacidade de amar o futebol, o nosso clube e fazer despertar os nossos sonhos.

Por tudo isto estou grato. Grato ao ponto de não exigir nada mais que a atitude, a garra, a combatividade continuem. Quanto aos títulos, não acho sequer que seja útil que esse objetivo nos invada o horizonte. Acredito que é possível, tanto como acredito que a montanha vai começar a ficar mais íngreme. Por enquanto prefiro saborear e degustar a excitação de não poder esperar até ao próximo jogo.

Deixo uma última convicção. Por todas as incertezas, há uma coisa que para mim é mais que certa, acordámos e vão ter de suar para nos derrotar. E sentir isto é…tudo!

*às quintas, o Zero Seis sai da bancada para assumir a responsabilidade de um remate decisivo