Não sei lidar com derrotas. Nunca soube. Nem no secundário, nem na faculdade, em lado nenhum. Dizem que a idade ajuda, com a maturidade, a tirar o melhor das situações. Ainda não consigo. Se calhar preciso de mais 36 anos de vida.

Como um livro aberto, admito que no domingo fiz o meu luto. Sem conversas nem paleios, só silêncio e sossego. É assim que gosto de estar quando alguma coisa na vida corre menos bem, ou é tremendamente injusta. Nesses dias, ganham “os outros todos”. Os que não aprovam entrevistas, os que não investem na equipa contratando reforços em janeiro, os que acham que o desporto feminino é só uma cena gira, os que nos chamam nomes quando a camioneta passa, os batoteiros e os mentirosos. Por um dia, puderam rir. E riram que eu ouvi!

O azar desta malta é que há sempre o dia seguinte. Sempre, sempre, sempre. Quando o novo dia surge, o sol volta a nascer para todos. O dia nasce, novo, bonito, para nós também e é aí que tudo muda.

Para hoje escolhi uma expressão que gosto muito. Por vezes, até pode ter uma interpretação um pouco negativa, por isso vou explicar. Defini como título da rúbrica a expressão “Vaidade dentro de um retângulo”. Que raio é isso?

Há palavras que a nossa cultura estraga. A palavra vaidade é um exemplo. Se eu disser “o José é um vaidoso” percebe-se o sentido pejorativo. Se eu disser “tenho vaidade em ser amigo do José”, sentem a mudança? É por aqui que vou hoje. Eu tenho vaidade em escrever sobre a equipa feminina de voleibol do Sporting CP.

Sim, eu estou a atribuir-me como ponto forte, como diferenciação, como brio, como felicidade acompanhar esta equipa. Eu tenho tanta VAIDADE nisto que me apetece mostrar, reforçar isto mesmo. Depois de domingo falou-se de orgulho, de levantar a cabeça, de voltar a jogar para ganhar, mas eu escolhi vaidade. O desporto é muito mais que ganhar ou perder. Eu já disse isto, tenho grandes amigos do voleibol que me dão vaidade em ter praticado esta modalidade. Não foram as vitórias, nem as derrotas. Este sentimento, sim, vem com a identificação, pertença, todas aquelas emoções que nos colam a algo ou alguém. Este fim de semana viu-se, por todos os canais digitais, que não é preciso haver um dia chamado Dia da Mulher para se reparar nelas. Nestes últimos dias, a onda verde percebeu que o Sporting CP se estende a esta equipa.

Nada do que acontecer daqui para a frente mudará a minha opinião. Podemos perder os jogos todos até (bater na madeira 3x quando lerem isto), porém é fácil de ver que as vitórias que ganham taças estarão sempre mais perto em projetos de trabalho como este.

Falta só dizer uma coisinha. A vaidade, em demasia, também prejudica, por isso, sabem o que trava o excesso de vaidade? A humildade. E a humildade é sinónima de trabalho. E o trabalho é sinónimo de sacrifício. E o sacrifício é sinónimo de reconhecimento. E o reconhecimento é sinónimo de respeito. E o respeito é sinónimo de carácter. E, por fim, o caráter é sinónimo de Sporting CP.

Falta o retângulo, não é?

Aqui basta-me citar um génio. O quinto livro de crónicas de António Lobo Antunes falava de uma relação supostamente distante entre o autor e o Zé, aquando de uma dedicatória num livro. Escreve-se no livro: “Para o António do Zé, Para o Zé do António e um retângulo à volta, a cercar as palavras, a fechá-las lá dentro. O retângulo, claro, era o mais importante, e o que estava naqueles quatro riscos, meu Deus. Maior elogio mútuo.”

O voleibol do Sporting CP é um projeto sustentado, nascido através do pequeno e vai crescendo até algum lugar. Já passou despercebido, agora já não. Quando se caminha por estradas de responsabilidade e inteligência, normalmente bate-se de frente com a mediocridade. Lembrei-me de uma imagem engraçada. Imaginem um casal de 1,30 de altura. Por algum milagre genético tiveram um filho que, com 8 anos, já tinha a altura dos pais. O pediatra dizia: “ele vai crescer para lá dos 2 metros de altura”. Como é de imaginar, a casa estava adaptada a pessoas de 1,30. Então um dia à noite, o filho virou-se para os pais e diz: vocês vão fazer obras ou tenho de sair de casa?

P.S. Até à próxima terça-feira, dia da próxima rubrica, o Voleibol Feminino jogar três vezes com o Leixões SC, para as meias finais do campeonato. O voleibol masculino joga duas vezes contra o SL Benfica. Nota-se que a Federação está com pressa de acabar isto. Para o ano deixo uma sugestão: moeda ao ar. Poupam-se ordenados e ninguém se cansa. Moeda ao ar e as equipas seguem os seus percursos até serem, fortuitamente, campeãs. Boa?

Com a sofrida derrota da equipa masculina no fim de semana, teremos de ir à Luz buscar um jogo. Vai ser uma semana decisiva para o voleibol do Sporting.

17.03 vs Leixões SC (f)
19.03 vs SL Benfica (f)
20.03 vs Leixões SC (c)
21.03 vs Leixões SC (c)
21.03 vs SL Benfica (f)

Ah! Só mais isto.

Foto Tasca

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo. Hoje não é terça, mas a conquista da Taça de Portugal de voleibol no masculino deixou-o com os dias trocados e ainda com mais vontade de repetir a festa, agora por culpa das Leoas