A equipa B é uma equipa que nos diz muito. Desde a sua reativação em 2012 (a primeira equipa B do Sporting foi extinta em 2004), o objetivo era simples: oferecer uma alternativa competitiva para jogadores entre os 18 e os 23 anos.

Estes, saídos diretamente do campeonato nacional de juniores, ou sub-19, não tem nem ritmo nem tarimba para jogarem contra jogadores mais velhos, mais experientes e profissionais. A alternativa precedente contemplava o empréstimo de jogadores a clubes satélite, como o CD Fátima, Real Massamá, Cercle Brugge ou KRC Genk. Apesar de alguns casos de sucesso (caso de Nani e Wilson Eduardo), na maior parte das vezes não se verificava como uma solução eficaz, fosse pela falta de acompanhamento de scouting, ou porque os treinadores das equipas de destino não estavam alinhados com a planificação tática definida pela estrutura técnica leonina. Por tudo isto, e concluindo, a equipa B surgiu com uma proposta interessante e que deu frutos logo na sua primeira época, com a subida de jogadores à equipa A, como Bruma, Dier ou Ilori. Foi um período próspero, em que emergiram muitos jogadores. Ainda assim, a maior parte desses elementos fez o seu percurso profissional fora de Alvalade.

Mas qual foi o problema de continuidade do projeto?
A partir de 16/17, a ligação entre a equipa B e a equipa A começou a degradar-se. Os melhores jogadores jovens sub-20 ainda integravam a equipa que foi campeã pelos sub-19 e os melhores sub-23 já jogavam pela equipa principal (Palhinha, Gelson Martins e Matheus Pereira). Outros estavam emprestados (Gauld no Vitória FC e o Domingos Duarte no C.F. Os Belenenses). Estes também foram anos de ouro para o Benfica, que através do diretor de scouting da formação José Boto, atraía os melhores jogadores sub-17 e sub-19, reforçando as relações contratuais o que poderia impulsionar a ascensão à equipa principal, com Rui Vitória.

O Sporting B tornou-se num entreposto de jogadores que ficavam aquém das expectativas, como Dramé, Elói, Sacko, Cissé, Bilel. Ainda que tornassem a equipa B competitiva na segunda liga, sendo suficiente para garantir a permanência, estes jogadores nunca iriam aspirar a subida à equipa principal. Concordo que juntar juventude com uma ou duas contratações de jogadores mais evoluídos da segunda liga é benéfico para o desenvolvimento dos jovens leões. Todavia, contratar jogadores e retirar esse espaço competitivo aos jovens, com o único propósito da manutenção na segunda liga, revelou-se uma estratégia falhada que apressou a extinção da equipa.

Perdoem-me a longa introdução, mas o enquadramento fundamenta a análise que se segue.

Vamos a 2020/2021. Estamos no campeonato de Portugal, primeiro patamar sénior competitivo. A equipa é composta por praticamente todos os jogadores que atuavam na liga revelação no ano transato, excepto André Paulo, Edu Pinheiro, Elves Baldé e Pedro Marques. Se por um lado, é bom que a equipa se mantenha junta neste novo patamar, por outro é demasiado inexperiente para estas andanças.

Felipe Celikkaya percebeu de início que tinha uma tarefa espinhosa pela frente e traçou um plano: construir a equipa de trás para a frente. Se a equipa não sofrer golos, estará sempre mais próximo de ganhar o jogo. Contratou-se um guarda-redes seguro e apostou-se no mesmo quarteto defensivo que terminou o campeonato de sub-23 na época passada: João Oliveira, João Ricciuli, João Silva e Mees De Wit. Dois laterais muito ofensivos, que dão a largura e profundidade (João Oliveira que costuma ir à linha de fundo e cruzar, Mees De Wit joga mais por dentro para combinar com o extremo) e dois centrais que se complementam bem, um com uma boa capacidade de liderança (João Silva) e outro mais ágil que costuma fazer as dobras (João Riciulli). No meio campo formou-se um duplo pivô mais defensivo, Edu Pinheiro e Bruno Paz, assumindo Tomás Silva como o elo entre o meio campo e a linha avançada. Durante a temporada, Edu Pinheiro foi substituído por Rodrigo Fernandes, pois este é capaz de fazer uma construção atrás mais segura, sem descurar o aspeto defensivo de um trinco. Bruno Paz é o capitão e a trave mestra da equipa, pois todo a construção e as jogadas de ataque começam nos seus pés. Um jogador que não merece estar no campeonato de Portugal, tal é a forma como domina todas as operações. É percetível que a equipa está bastante dependente dele, pois quando não está no seu melhor os processos tornam-se mais rígidos e a circulação de bola perde agilidade.

Na frente, Elves Baldé do lado esquerdo, com a sua capacidade de jogar com pé trocado e ir para situações de 1×1 na linha, Nuno Moreira do lado direito, com mobilidade para criar desequilíbrios entre linhas e Pedro Marques, que jogava muito na profundidade em ataques rápidos. Este onze, juntamente com Loide Augusto, Eduardo Quaresma, Rafael Camacho, Tiago Ferreira, Gonzalo Plata e Luiz Phellyppe (estes últimos a partir de Fevereiro de 2021), formaram uma equipa muito competitiva neste escalão, mesmo sendo a segunda equipa mais jovem, só atrás do B-Sad B.

Até ao jogo com o CF Estrela da Amadora, não só foi a melhor defesa do campeonato de Portugal, como a que concedeu menos oportunidades de golo durante os 90 min. Imbatíveis em 18 jogos (12 vitórias e 6 empates), até ao jogo referido anteriormente, não tinha sofrido qualquer golo fora de portas. Foi com esta consistência defensiva que Celikkaya, e bem (na minha opinião), tornou a equipa candidata à subida para o playoff de apuramento da Liga2. Seria a última oportunidade desta geração jogar junta mais um ano, agora na liga 2 e noutro contexto competitivo.

Chegamos ao dia das decisões. Jogo difícil, acentuado pelas ausências de Eduardo Quaresma e Gonzalo Plata (já tem minutos na equipa A e por isso não podem jogar os últimos 3 jogos, segundo os regulamentos da liga). Juntando a isso, Luiz Phellyppe apresentou-se em má condição física, e Elves Baldé e João Oliveira saíram lesionados a meio do jogo. A partida foi escassa em termos de oportunidades de golo e espetáculo, visto que ambas as equipas estiveram mais preocupadas em não perder do que em levar os 3 pontos. Quanto o Sporting procurava dominar, eis que por volta dos 70 minutos, João Ricciuli tem uma abordagem infantil, cometendo falta para pontapé de grande penalidade.

Faltam 3 jogos para terminar a fase regular do campeonato de Portugal. Será muito difícil o Estrela da Amadora perder 5 pontos, o que podemos dizer é que o Sporting B vai ser uma das equipas que se vai estrear no novo formato da Liga 3. O staff técnico e de prospeção pode tomar uma de duas opções: continuar com esta equipa e tentar novamente a subida à segunda liga, ou promover uma renovação do plantel, abrindo às gerações de 2000 a 2002 a oportunidade destes atletas crescerem e ganharem o seu espaço rumo à profissionalização.

Voltaremos ao assunto numa próxima oportunidade, porque ele é merecedor de reflexão.

*às quintas, o JFCC coloca na ementa um prato com dedicatória para os #FormaçãoLover