Com vista a disputar um dos 3 lugares ainda em aberto para a Fase Final do próximo Campeonato Europeu de Futebol Feminino que se realizará em Inglaterra em Julho de 2022, Portugal (30º lugar no ranking FIFA – atualizado a 12 Dezembro de 2020 – com 1.666 pontos) defronta a Rússia (23º lugar FIFA com 1.706 pontos) num play-off cuja 1ª mão terá lugar no Estádio do Restelo na próxima 6ª Fª, 9 de abril às 18h30m (hora de Portugal Continental – PtC) e a 2ª mão, quatro dias depois, a 13 de abril, pelas 15 horas (também hora de PtC), na Sapsan Arena, casa do FC Kasanka, clube satélite do Lokomotiv Moscovo.
Na atual convocatória de 25 jogadoras para este duplo confronto, o selecionador Luís Neto fez poucas alterações relativamente à 26 jogadoras que havia escolhido para os jogos finais de Portugal na Fase de Grupos de Apuramento (frente a Finlândia e Escócia, como visitante e respetivamente a 19 e 23 de Fevereiro): saem da anterior lista Ana Seiça (Benfica) e Mónica Mendes (Sporting) e entra como novidade a central do Famalicão (ex-Sporting) Mariana Azevedo. Assim, a lista ficou: do Sporting (10), Patrícia Moraes, Inês Pereira, Alícia Correia, Joana Marchão, Tatiana Pinto, Fátima Pinto, Andreia Jacinto, Ana Borges, Ana Capeta e Carolina Mendes; do Benfica (5), Sílvia Rebelo, Carole Costa, Andreia Faria Francisca Nazreth e Catarina Amado; do Braga (3), Diana Gomes, Dolores Silva e Andreia Norton; do Famalicão (2) Rute Costa e Mariana Azevedo; do Marítimo (1), Telma Encarnação; e as 4 “estrangeiras” Diana Silva (Aston Villa); Vanessa Marques (Férencväros), Cláudia Neto, (Fiorentina) Jéssica Silva (Lyon).
Esperam-nos 2 jogos bastante difíceis, mas de entre os 5 possíveis adversários, excetuando a Irlanda do Norte (claramente a seleção com menos histórico, a 49ª do ranking), ou era a Rússia (23ª), ou a República Checa (27ª), ou a Ucrânia (24ª), ou a Suíça (19ª). Pessoalmente, sou de opinião que não nos podemos queixar do sorteio pois acho que Portugal tem de ser capaz de defrontar qualquer destas seleções para discutir o apuramento se, de facto, ambiciona subir no ranking de seleções e ser presença recorrente em fases finais das grandes competições.
Já apuradas estão 13 Seleções: a Inglaterra (nação organizadora, e 6ª do ranking FIFA), a Holanda (1ª do Grupo A de apuramento, atual campeã europeia e vice-campeã mundial, e 4ª do ranking), a Dinamarca (1ª do Grupo B e 14ª do ranking), a Itália (2ª do Grupo B e 13ª do ranking), a Noruega (1ª do Grupo C e 11ª do ranking), a Espanha (1ª do Grupo D e 12ª do ranking), a Finlândia (1ª do Grupo E e 25ª do ranking), a Suécia (1ª do Grupo F e 5ª do ranking), a Islândia (2ª do Grupo F e 16ª do ranking), a França (1ª do Grupo G e 3ª do ranking), a Áustria (2ª do Grupo G e 20ª do ranking), a Bélgica (1ª do Grupo H e 5ª do ranking), a Alemanha (1ª do Grupo I e 2ª do ranking).
Isto quer dizer que se Portugal se apurar neste play-off contra Rússia será a seleção menos cotada de todas as que qualificaram para disputar em Julho de 2022 a Fase Final do Europeu de Nações de Futebol Feminino. Mas também quererá dizer que terá conseguido essa qualificação impedindo o acesso da Escócia (9 lugares à sua frente no ranking FIFA) e da Rússia (7 lugares à sua frente). O que, de per si, já constituirá um feito que deve ser assinalado. Mas, mais que isso, constituirá uma obrigação e uma oportunidade para promover a Seleção e o Futebol Feminino Português, elevando-os definitivamente aum patamar de excelência em que possam ombrear recorrentemente com os melhores do Mundo, tal como já sucede no Futebol Masculino.
É por isso que são mesmo MUITO IMPORTANTES os dois próximos jogos da Seleção Nacional Feminina contra a congénere Russa. Como será também, depois, muito importante tudo quanto FPF, Associações, LPFP, Clubes, Estado, Comunicação Social e Sponsors possam fazer, cada um e em conjunto, para, em caso de apuramento, promover a Seleção e o jogo no feminino, com vista a criar uma vaga de fundo nacional de apoio à nossa presença no Europeu de Inglaterra e a preparar com todo o rigor a qualidade e competitividade dessa presença.
Desde logo, a FPF deverá elaborar um calendário de jogos de preparação da Seleção, devidamente concertado com os Clubes e alinhado com os calendários das competições internas de Clubes. E deveria procurar que 4 desses jogos de preparação se realizassem em Portugal, nos Estádios de Benfica, Sporting, Braga e Famalicão, escolhendo como adversárias seleções que marquem presença no Euro 2022 e que não participem no Torneio do Algarve, concertando com os respetivos Clubes, os patrocinadores da Seleção e a Comunicação Social fortes campanhas promocionais dos jogos e iniciativas de cativação de recordes de assistências, quer nos Estádios dos jogos, quer nas respetivas transmissões televisivas. Seria o sucesso dessas iniciativas, simultaneamente, o maior garante de preparação da adequada competitividade para o Euro e a melhor forma de tornar o futebol feminino português mais atrativo para o público e, consequentemente, mais apelativo para assunção de novos Clubes das vantagens de a ele aderirem e mais sedutor para uma maior massificação da sua prática, particularmente nos escalões mais novos de formação.
Complementarmente, a LPFP deveria trabalhar junto dos Clubes seus associados a adesão ao Futebol Feminino Senior, aproveitando essa “vaga de fundo” nacional e comprometendo-se com a FPF a garantir: 1) a organização e sponsorização do Campeonato principal a partir de 2024 [de preferência com um Quadro Competitivo de 10 Clubes em 2 Fases, ambas a 2 voltas, a 1ª Fase a apurar 2 grupos (de 6 primeiros e 4 últimos) e a 2ª Fase com esses 2 grupos a disputar, respetivamente, o apuramento de campeão e a manutenção (descendo 2 equipas)]; a comparticipação na “sponsorização” de um Campeonato semi-profissional de 2º Escalão a 20 Equipas de 2 Zonas (Norte e Sul), disputado em moldes idênticos ao quadro competitivo usado para o Campeonato BPI da corrente época, cabendo à Liga, a garantia de prémios pecuniários para as 2 equipas que garantissem a subida ao Escalão Principal e à Federação a organização e regulamentação da competição, as condições de certificação dos Clubes participantes (nomeadamente as obrigações de Formação) e a distribuição de direitos televisivos, de publicidade e outras receitas que conseguisse obter para a competição, em share igual para as 20 equipas.
Deste modo, estaríamos a aproveitar o que pode ser uma extraordinária janela de oportunidade para criar as bases de um desenvolvimento sustentado do Futebol Feminino em Portugal e da sua competitividade internacional (de Seleções e de Clubes).
* dos Açores com amor, o Álvaro Antunes prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino. Às terças!
6 Abril, 2021 at 17:22
Bom texto, Álvaro.
Que alguém responsável leia isto e meta a mão na consciência pela merda que andam a fazer com o Futebol Feminino.
E, já agora, que a FPF arranje um treinador decente, com experiência em futebol de alta competição, para pegar este grupo de jogadoras porque teríamos muito a ganhar, e principalmente elas, com alguém decente à frente da selecção principal de FF!
6 Abril, 2021 at 19:36
Na realidade mete dó assistir à sucessão excelentes oportunidades perdidas de promoção do Futebol Feminino em Portugal quando este está em FRANCA expansão em boa parte dos países desenvolvidos.
Depois do único passo dado pela FPF na direção certa ao convidar os Clubes das Ligas profissionais de Futebol Masculino a aderir diretamente à Primeira Divisão do Futebol Feminino (isto já na “longínqua” primeira metade de 2016), aconteceram uma série de desperdícios.
Convém, todavia, recordar que ao convite de ouro feito pela FPF apenas responderam Sporting Braga, Belenenses e Estoril-Praia (e o Belenenses recuou quase de imediato). Respostas verdadeiramente afirmativas foram as de António Salvador e de Bruno de Carvalho, os únicos que logo perceberam o enorme potencial de crescimento que poderia sustentar uma efetiva aposta. E, logo no primeiro ano dessa aposta, a assistência recorde do Sporting vs Braga realizado para a então Liga Allianz no Estádio José de Alvalade foi motivo de notícia nos serviços noticiosos em vários pontos do globo do globo, incluindo de canais americanos como a CNN e a CBS.
Esse recorde viria a ser batido na final da Taça de Portugal desse ano. Nem isso parece ter convencido os responsáveis da FPF e da LPFP de que a aposta deveria ser continuada e reforçada, nomeadamente com uma moratória que desse um prazo para obrigar todas as SADs e SDUQs das Ligas Profissionais femininas a constituir equipas femininas.
Nesse, mesmo ano, Portugal conquistava o histórico acesso a uma Fase Final do Europeu de FF. E, no seu Grupo, viria a bater a Escócia, então mais de 10 lugares à sua frente no ranking FIFA. Nem isso serviu para que FPF e LPFP se preocupassem em tirar dividendos na promoção do jogo no feminino. Os feitos históricos passaram despercebidos à maioria da população, simplesmente porque a FPF, responsável pela Seleção, não se dignou a promover os jogos de apuramento ou a prova final do mesmo modo que promove aos jogos da Seleção A Masculina (ou mesmo da Seleção Sub 21). Os jogos de qualificação para o Mundial de 2019 em França nem se deram por eles.
Na época de 2018-19, o Benfica, percebendo o potencial mostrado pelas apostas de Braga e Sporting decide também criar o seu projeto e, mesmo tendo de começar pela 2ª Divisão, apostou logo muito forte num plantel que incluía 13 estrangeiras. Nesse ano, um derby lisboeta entre os 2 grandes rivais disputado no Estádio do Restelo (em solidariedade com as vítimas de uma forte tempestade tropical que assolou Moçambique) bateu todos os recordes nacionais de assistência no Futebol feminino. Em Junho e Julho desse ano disputava-se o Mundial de França que pulverizou a s receitas de todas as edições anteriores e que teve patrocínios e shares televisivos mundiais verdadeiramente impressionantes.
Entretanto nos últimos 3 anos as receitas mais que triplicaram em campeonatos como os de França, Itália, Espanha, e, sobretudo Inglaterra. Em Inglaterra, no todo-poderoso Manchester United, as vendas de merchandising do Futebol Feminino de 2020 ultrapassaram as do merchandisingdo Futebol masculino (estamos a falar de um Clube cujo Futebol Masculino tem adeptos não britânicos em vários países do Mundo, particularmente EUA, Escandinánia, China e Extremo Oriente).
Mas nem com esses indicadores parecer haver grande vontade de FPF e LPFP se entenderem para alavancar de zez o futebol Feminino em Portugal.
Sexta- feira há um IMPORTANTÍSSIMO JOGO da NOSSA SELEÇÃO no Restelo contra a Rússia. Sabemos que o jogo será transmitido no Canal Televisivo da FPF (Canal 11). Mas que promoção foi feita dessa transmissão? E sendo o jogo de tal importância por que não foi negociada a transmissão (e promoção) com a RTP1 a exemplo do que aconteceu por exemplo com a seleção de Sub21 Masculina?
Um abraço e saudações leoninas
6 Abril, 2021 at 19:04
Sustentabilidade, essa eterna questão versus a teoria do eucalipto…
Enquanto os dirigentes forem “antiquados” nao se pode esperar “modernidade”.
SL
6 Abril, 2021 at 19:43
A sustentabilidade está mais que comprovada pelo sucesso nessa matéria das competições nacionais Americana, Francesa, Alemã, Italiana, Espanhola, Holandesa, Chinesa, Japonesa, Norueguesa, Sueca, Finlandesa, Islandesa ou até (imagine-se) Brasileira.
Ou pelas enormes receitas geradas pelos últimos Europeu e Mundial.
Quando a “modernidade” é destituída também se torna mais difícil consolidar apostas.
Um abraço e saudações leoninas
6 Abril, 2021 at 20:24
É incomparável a implantação e importância do desporto feminino nos países nórdicos (e da Europa central) em relação a Portugal.
É algo de cultural que levará décadas a alcançar.
6 Abril, 2021 at 22:01
Pois sim! O que dizer então de Itália, Espanha e França? Que, neste momento têm Campeonatos muito mais sustentáveis (com mais receitas, mais público e mais sponsors) que qualquer dos campeonatos Nórdicos. Na Europa só se estiver a falar da Alemanha. Não vejo qualquer outro campeonato a destacar-se.
Mas a questão que se coloca nem é de saber se os países nórdicos têm mais “cultura” de desporto feminino do que Portugal, mas sim a de se saber se os organismos com responsabilidade fazem algo para gerar mais “cultura” de desporto feminino em Portugal (nomeadamente e especificamente no Futebol, mas essa questão de género é transversal a quase todas as Modalidades).
A coisa mais fácil é dizer que existe é dizer que é “uma questão cultural” e que “levará décadas a alcançar”.
É o típico fatalismo português. Uma questão de fado (“destino”).
O que realmente interessa é agir em concreto para reduzir as diferenças e construir outro fado.
Um abraço e saudações leoninas
6 Abril, 2021 at 22:14
Não é fatalismo, é realidade. Nem é fado, porque se pode mudar o destino. Mas tem que se aceitar o estado da arte, caso contrário é que nada muda; tem que ser trabalhado na sociedade, e demora, pois por decreto de certeza que não acontece.
Para ter um campeonato sustentável, é preciso público. Quantos de nós foram “educados” para ver o futebol feminino como um desporto a sério. Até a presença de mulheres nos estádios é um fenómeno recente. Em países como Alemanha, Holanda, Escandinávia e até de Leste as raparigas são influenciadas a praticar (e quem pratica torna-se quase sempre espectador no futuro, e claro arrasta família, amigos) aquilo que por cá ainda se designa como desportos masculinos. Infelizmente o desporto feminino em Portugal é de nichos, e pequenos, futebol incluído.
Claro que FPF e clubes devem dinamizar as competições, mas vai ser preciso tempo para passarmos de meia dúzia que consome FF exclusivamente pela ligação ao clube para um fenómeno de massas.
6 Abril, 2021 at 22:40
Caro Nuno, quando havia público nos Estádios e se apostava em jogar os jogos mais relevantes em Alvalade (e isso já foi há 5 e 4 anos e ainda não havia Benfica ou Famalicão no FF) houve assistências de mais de 9.000 espetadores e mais de 13.000 espetadores (algo que é muito raro nos jogos do campeonato … norte-americano!!! … o melhor campeonato do mundo).
Basta criar uma cláusula que obrigue as SADs e SDUQs da LPFP a ter FF como são obrigadas a ter todos os escalões competitivos de formação, para a situação alterar radicalmente.
Aliás, estou certo de que, assim que puder voltar a haver público se verificará, com as atuais equipas, um acréscimo significativo de público relativamente a “antes da restrições Covid-19”.
Só pelo facto de existir Benfica e um Famalicão forte. Só que os clubes também têm de mostrar que REALMENTE APOSTAM no seu Futebol Feminino. Um Sporting – Benfica NUNCA pode ser no Aurélio Pereira. Nem sequer um Sporting – Braga ou um Sporting – Famalicão. E o Sporting tem de ser muito mais proativo não apenas a promover os jogos mas também a cativar públicos para os mesmos, nomeadamente usando o Núcleos para essa cativação.
Com uma futura entrada de FC Porto e com a futura subida do Vitória de Guimarães, ainda mais relevante se torna uma política agressiva de promoção dos jogos e de cativação de público.
E fazer muita e boa publicidade de todos os recordes de assistência e/ou de bilheteira.
Quanto ao consumo de FF ser exclusivamente pela ligação ao Clube, não creio que seja totalmente assim e não percebo que seja diferente de qualquer outra Modalidade em qualquer que seja o género ou escalão.
SL
7 Abril, 2021 at 18:52
A Vanessa Marques e a Diana Silva não vão estar nestes jogos, por estarem a jogar em países com restrição de viagens para Portugal (Hungria e Inglaterra). A Jéssica Silva também não está na convocatória devido ao surto de COVID-19 no plantel do O. Lyon (parece que há uma possibilidade de integrar o estágio na Rússia, mas não colocaria muita fé nisso).
Ana Dias (Zenit, Rússia) e Ana Rute (Condeixa) foram chamadas em substituição.
https://www.fpf.pt/pt/News/Todas-as-not%C3%ADcias/Not%C3%ADcia/news/29127
https://www.fpf.pt/pt/News/Todas-as-not%C3%ADcias/Not%C3%ADcia/news/29136