Não faço ideia dos episódios que marcam a tua história verde e branca, mas decidi partilhar contigo aquilo que me vai na alma, numa altura em parecemos estar com dificuldade em lidar com a liderança do campeonato e com a ténue linha que separa a felicidade da desilusão.

Por uma questão de lógica, esta minha história não contabiliza a dobradinha de 81/82, altura em que os meus cinco anos apenas exigiam um equipamento do Sporting e que ser ou não campeão me passava completamente ao lado. O que importava, realmente, era ir para a rua com uma verde e branca vestida e pouco me importava se era ou não oficial, desde que a minha avó lá tivesse cozido o símbolo com o Leão Rampante e eu ganhasse o escudo para enfrentar um bando de amigos todos eles do benfica. Posto isto, facilmente perceberás que fui coleccionando anos e anos e anos de sonhos em férias de verão que se transformavam em desilusões, algures entre dezembro e abril do ano seguinte. E nem com Taças de Portugal me safava, pois só em 94/95, tinha eu já 18 anos, tive direito a saborear uma ao vivo e a cores, frente ao Marítimo.

De lá para cá, mais cinco Taças, seis Supertaças, três Taças da Liga e dois campeonatos. Em 44 anos de vida e 39 de Sportinguismo consciente, celebrei dois campeonatos de futebol profissional masculino, com mais uma mão cheia de anos de reais ilusões até final, como no campeonato da mão do Rony ou, mais recentemente, no campeonato das malas e do momento Bryan. E aqui estou eu, a escrever-te numa altura em que a conquista de um novo campeonato está aqui tão próximo que nos sentimos como se estivéssemos a nada há meses e, com a praia à vista, a nossa mente ameaçasse trair os braços e as pernas.

Ao longo destes meses de competição, muitos foram os momentos marcantes, mas eu guardo para mim aquele a que me agarro quando vos digo que continuo a acreditar que vamos ser felizes: as lágrimas do Essugo. Desabava o puto em lágrimas de felicidade por, aos 16 anos, cumprir o sonho de jogar pela principal equipa do Sporting, quando dele se aproxima um “crescido”, o Palhinha, que ao abraça e, ao longo de meia dúzia de segundos, partilha com ele e com todos os que seguiam o jogo aquele momento tão especial. E enquanto o puto que queria ser jogador do Sporting e que vive algures numas águas furtadas do meu coração se assomava à janela fazendo-o acelerar, dei por mim a lembrar-me das lágrimas do Palhinha, em 2018. Que foram minhas, também, depois de uma Taça perdida aos pés do Aves, mas, muito pior do que isso, depois de duas semanas em que tanto mal fizeram ao Sporting que pior do que elas só aquele dia, no Jamor, em que o Leão Rui Mendes foi assassinado à vista de tudo e de todos.

Naquele momento, foi como se as lágrimas de dor, revolta e impotência do Palhinha, se transformassem em lágrimas de felicidade e de esperança, no rosto miúdo Essugo. Foi como se a minha história do Sporting fosse contada em modo curta: Sangue, Suor e Lágrimas, eis o meu Sporting. E, não, com isto não estou a deixar de lado a glória, apenas a dar-lhe todo um argumento. Daquele maldito 3-6 que me deixou imóvel e encharcado, preso a uma escada de pedra gelada do velhinho Alvalade, ao penalti que o Luiz do apelido esquisito marcou, no Jamor, permitindo-me celebrar a primeira grande conquista ao vivo com a minha filha, foram poucas as conquistas alcançadas sem sofrimento e sem colocar à prova a nossa capacidade de acreditar. É precisamente isso que está novamente a acontecer.

Obviamente que não é fácil lidar com o nó que se nos dá no cérebro, quando imaginamos a possibilidade de deixar fugir uma vantagem de dez pontos que já tivemos e que nos colocou a viver um sonho de todo inesperado, face às expectativas que existiam no início da época. Digo-vos mais: se eu tenho cicatrizes suficientes para saber sarar uma machadada tão grande, sinto-me meio desamparado quando penso de que forma vou gerir a frustração de uma Leoa de onze anos, que já celebrou tudo menos uma conquista que parece tão perto e tão longe. É só por ela e por todos os da sua idade (ou com três anos para baixo e para cima) que tenho receio, pois tenho plena consciência do quão importante este título é para as gerações futuras de verde e branco vestidas. É também por ela e por todos os mais pequenos que hoje te escrevo.

Não posso aceitar que homens e mulheres feit@s, se acagacem quando seguem isolados na frente. Preferiam trocar de posição com quem nos persegue?
Não posso aceitar que homens e mulheres feit@s, sejam os primeiros a não saber controlar a frustração e a dizer aos mais novos “já fomos” ou “ainda acabamos em quarto!”
Não posso aceitar que homens e mulheres feit@s, acreditem menos do que os adeptos de quem nos persegue e que depende mais de nós do que deles para chegar ao título (sim, mesmo sabendo o que a casa gasta em termos de bastidores).
Não posso aceitar que homens e mulheres feit@s, vão para páginas dos jogadores descarregar frustrações e, pior, ódios políticos que, neste momento, têm que ser completamente colocados em segundo plano, obrigando os atletas a desactivar os comentários.

Mete uma coisa na cabeça: isto não é andar a cantarolar que onde vai um vão todos e, quando a coisa aperta, dar dois passos atrás e desatar a correr deixando os camaradas no momento decisivo! Ou estás, ou não estás (e, acredita, será sempre melhor poder dizer que fizeste tudo o que estava ao teu alcance)! Se sentes que os fantasmas que te povoam a mente são demasiado pesados, esconde-te e fica quiet@, que isso ajuda bem mais do que servires de elo de uma maldita corrente de pessimismo. Não és mais nem menos Sportinguista por lidar de forma diferente com este mar de tempestade. Só te peço que, mesmo encolhid@ a um canto, ajudes a remar ou vás tirando baldes da água que possa entrar, em vez de contribuíres para forçar fendas. Precisamos do sangue e do suor de todos e acredito completamente que, assim, chegaremos ao fim da jornada a saborear lágrimas de felicidade.