Neste último fim de semana terminou a época de voleibol feminino do Sporting CP. Este ano desportivo começou com uma vitória categórica em Matosinhos e terminou da mesma forma no PJR. Começou com sorrisos e terminou com lágrimas. Pelo meio foram mais de 240 treinos que justificam aquele “Esforço e Dedicação” que está no lema do nosso clube.

A minha opinião, clara e objetiva, é que o ano foi extremamente positivo, tanto no que respeita a métricas desportivas como mediáticas.

No que respeita às desportivas, estas dizem-nos:
– 2º lugar do campeonato na fase regular;
– Final da taça de Portugal, derrotando o campeão nacional nas meias-finais;
– Meias finais do playoff de apuramento de campeão;
– Vencedor da Taça da Federação.

As métricas mediáticas são mais engraçadas de ver:
– Maior share dos canais desportivos no jogo com o SL Benfica no dia 05.01.2021;
– Atletas com um crescimento de seguidores nas redes na média de 30% desde início da época;
– Jogos da final 4 da taça de Portugal e meias-finais com share de espetadores superior às finais do campeonato;
– Equipa feminina com mais engagement das redes e no top 2 (o 1º é futsal masculino) de todas as modalidades.

No entanto, só consigo ter perguntas na cabeça:
E agora?
O que se faz com estas metas atingidas?
Está um ciclo a terminar?
Como é que falo do passado quando o que vimos foi futuro?

É por aqui que vou como rescaldo porque esta análise da época tem mais ar de futuro. Vou-vos ser muito sincero, eu já assisti a isto, no Sporting CP e no voleibol feminino. Quando conquistámos o campeonato da 2ª divisão foi um sentimento muito idêntico que assisti, mas com outros nomes. Sara, Rita, Kate, Rachel, Mariana, Catarina, aquelas que tinham dado tudo para colocar o nosso clube na divisão certa, choravam pela época que tinha acontecido. A sua etapa tinha terminado, como a de algumas jogadoras deste ano também terminará. A despedida faz parte do processo e não há como a evitar, por isso que tenha valido a pena o passeio.

Como referia, as perguntas instalam-se na minha cabeça porque isto não foi o fim de nada. Olhem para trás e percebam duas coisas: (1) os ciclos terminam-se com vitórias e (2) voltamos a dar mais um passo. Se, realmente, crescemos muito este ano, por outro lado ainda falta uma conquista das grandes para afirmar o óbvio (eu não escrevi confirmar, atenção).

Querem uma metáfora? Todos já fizemos uma viagem que ambicionávamos muito. Estudámos a viagem, arrumámos as malas, comprámos os bilhetes e reservámos o hotel. No dia da partida, fomos até ao aeroporto e sentamo-nos no avião, nervosos, até chegar ao destino de sonho. Da janela do avião já vimos a praia nas Maldivas, a Torre Eiffel ou o Taj Mahal. Vimos que era real, vimos que estava perto, vimos que era alcançável. Até que aterramos e percebemos que estamos a pouco tempo de realizar o sonho. Já se realizou? Não, mas já está tão perto!!

Então o que é que nos meteu no avião em direção ao sonho?

Identidade Leonina
O grupo era constituído por meninas adeptas do Sporting CP tal como por atletas que pouco conheciam o nosso clube. A verdade é que todas souberam entender o que é defender o Sporting CP. A Thaís Bruzza tem alma de leoa, a Aline Timm sabe rugir, a Gabi tem o olhar de rainha da selva. Falo nestas porque nenhuma nasceu no Sporting CP, até acredito que há um ano a Gabi nem sonhava que existia o nosso clube. Claro que depois temos as que saem à rua de verde e é um dia normal da sua vida como a Ana Couto, Vanessa Paquete, Cristiana, Matilde ou Beatriz. Apresentarem-nos isto faz com que nós, adeptos, nos identifiquemos quase de imediato. Esta identidade cria uma “coisa” chamada cultura desportiva. As empresas chamam-lhe cultura empresarial. Isto significa que, quando alguém entra neste projeto, tem OBRIGATORIAMENTE de se adaptar a este ritmo e não o contrário. O coletivo sobrepõe-se ao individual, o trabalho ao vedetismo. Eu quero continuar a ter isto para o Sporting CP, nós queremos este tipo de jogadoras.

Mediatismo leonino
Pode soar a arrogância e até pode ser um pouco o que vou escrever de seguida. Que jogadora que joga em Portugal neste momento, ou que conheça a realidade portuguesa, não quer jogar no Sporting CP? Claro que há clubes que têm um espírito bonito entre os adeptos e as atletas. Desculpem, mas o que se passou este ano não tem paralelo com nenhum clube em Portugal. Se as portas do PJR tivessem abertas, íamos ter, num jogo qualquer, uma verdadeira enchente para as ver jogar. Não ia ser necessário que fosse uma final! As meninas eram acarinhadas porque era “quarta-feira”. A beleza de ter o João de Madrid, a Cátia do Algarve, o Tiago do Porto ou a Raquel na Indonésia, todos sportinguistas, a serem unidos pelo voleibol feminino. A magia de se sair à rua e ser reconhecido seja em que zona do país for. ISTO É SPORTING, PORRA!! Como disse, a arrogância permite-me dizer que quem joga neste Sporting CP não se esquece mais do que viveu. Dentro e fora de campo.

Melhor treinador em Portugal
Certamente que não será uma opinião unânime, mas para mim o Rui Costa é o melhor treinador português da atualidade. Um estudioso do jogo e um comunicador nato. Depois de vermos todas as equipas a jogarem, percebe-se que fomos ao limite das nossas capacidades. Quem gostar de voleibol, veja o primeiro jogo que fizemos na época e veja um dos jogos das meias-finais. Que repare no tempo de ataque da Aline, que repare na evolução de jogo de serviço da Ana Couto, posicionamento defensivo da Dani, a marcação de bloco das pontas ou até o ritmo acertado do segundo toque quando é a Ana Couto a dar o 1º toque. No último jogo até quis “cansar” mais a Cris, “obrigando-a” a uma corrida à Usain Bolt quando recebíamos com a passadora em zona 1. Não vos canso com informação tática, mas deixa-me também lembrar da vitória sobre a AJM/FC Porto! Aquilo tem tanto treinador.

Jogadoras numa frase:
Amanda Cavalcanti: Está a evoluir para se tornar na melhor central portuguesa de sempre. Leram aqui primeiro.
Aline Timm Rodrigues: A elegância e brilhantismo na simplicidade de quem é feliz a jogar voleibol.
Gabriella Rocha: Foi um ano duro longe de tudo o que reconhecia como familiar. Correu bem e ainda tem muita margem para melhorar.
Natali Herasymiv: Ganhou o direito a fazer parte do plantel, o mérito é seu e de mais ninguém. Isto tem valor.
Ana Couto: Melhor distribuidora portuguesa de sempre. Ponto.
Beatriz Rodrigues: O seu potencial está à vista e terminou a época como devia – a sorrir e feliz.
Daniela Loureiro: Melhor líbero portuguesa que fez, a meu ver, a sua melhor época enquanto jogadora de voleibol.
Carolina Garcez: Está cada vez mais perto da afirmação e eu quero muito isso. Sou muito fã da Carolina e da sua capacidade técnica, táctica e de gestão emocional.
Vanessa Paquete: Ninguém disse que ia ser fácil regressar aos pavilhões. Teve uma época com grandes momentos e outros menos positivos. Deu muito, mas pode dar mais porque já se viu muito mais também.
Cristiana Lopes: Aquele jogo ganho ao Leixões SC teve Cris escrito em todo lado. Acabou a época em grande.
Thais Bruzza Saraiva: Joga como um relógio suíço e festeja como um tsunami descontrolado. Perfeita.
Bruna Gianlorenço: Shimbalaiê! É isto. https://atascadocherba.com/2021/02/18/continuem-a-acreditar-e-a-nos-apoiar-estamos-trabalhando-muito/
Bárbara Pereira: Uma época difícil para a capitã. Mudou de posição em campo e não jogou muito.
Daniana Esteves: A substituição do treinador que colocava pressão nos adversários com o seu serviço. Sempre segura, sempre correta. Boa época.
Matilde Saraiva: Uma sportinguista de alma e coração que contribuiu para que a época fosse muito positiva.

Desilusão
É uma desilusão continuarmos a assistir a bloqueios por parte da estrutura do Sporting CP a quem gosta e se importa pelo voleibol. Tantas entrevistas recusadas, tantos momentos que queríamos criar com a equipa, mas sempre bloqueados por pessoas que se dizem estar pelo melhor do Sporting CP. Felizmente eles não SÃO o Sporting CP, eles ESTÃO no Sporting CP. Em inglês o verbo é o mesmo, To Be, em português não. De realçar que nenhum dos bloqueadores estava na entrega da taça da Federação junto da equipa. Como cantam os The Girft, isto é mesmo “fácil de entender”. Que não sejam o elo mais fraco para a próxima época porque o avião já aterrou e nós já vimos o nosso sonho pela janela do avião. Não façam cagada (outra vez).

Por fim:
SECÇÃO DE VOLEIBOL DO SPORTING CLUBE DE PORTUGAL, EU AGRADEÇO-VOS!

voleibolfemmedalha

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.