Passaram uns dias, o corpo está recomposto, o coração mais calmo e estou pronta para finalmente falar disto: o Sporting é campeão nacional!

11 de Maio de 2021, depois do ano mais surreal das nossas vidas, depois dos ajustes, contorcionismos e o carrossel emocional a que todos fomos forçados, os foguetes de alegria explodem por Portugal na mais inesperada fonte de felicidade. É verdade, e repito, o Sporting é campeão nacional.

Este título que não tem lógica (embora todos saibamos os factores que o justificam) está desprovido de análises tácticas, psicológicas, científicas ou matemáticas. E, por isso, dei por mim a pensar, desde a terça-feira mais feliz das nossas vidas, no que será este alinhamento do cosmos que nos permitiu tal felicidade no reboliço da maior crise mundial de que temos memória. Eis as minhas conclusões da alegria no fim do mundo.

Ao contrário de muitos, tenho um respeito assinalável pelos nossos dois rivais históricos. Pois se um é o mais ambicioso clube português o outro é, sem sombra de dúvida, o maior clube português. Esta é a força de que se alimentam: um da cultura de vitória e o outro da sua imensidão planetária. Não me dói admiti-lo nem me importa muito como chegaram até aqui. Benfica e Porto têm dominado o obscuro e pobrezinho futebol português nas últimas duas décadas e a nós, infelizmente, coube o papel de clube chato que lhes estraga a festa nos raros títulos que fomos acumulando.
Mas eis que entra o factor que o Sporting tem em sobra e que a eles lhes falta tanto: a resistência inabalável. O Sporting e os sportinguistas são feitos à base do esforço, da perseverança, da esperança que não se apaga de que, algures no tempo, o Sporting ainda se vai cumprir. E finalmente cumpriu.

Porque quando a adaptação teve de ser rápida e a ansiedade se apoderou do futebol, quando o dinheiro foi faltando a incerteza era constante, o Sporting sentou-se confortável a assistir, quase que sorrindo com condescendência ao pânico instalado quando para nós era só mais um passeio no parque. Estou, aliás, perfeitamente convencida que se um dia o sol explodir e tivermos mais 9 meses de vida no planeta, esse ano o Sporting limpa a Champions só com vitórias.

Resistir, lutar, sofrer até ao último segundo. Esta é a nossa cultura desportiva, este é o nosso verdadeiro símbolo. Foi disto que o Sporting se alimentou e foi por isso que o Sporting sobreviveu a si mesmo, apesar de apenas 3 títulos conquistados em quase 40 anos.

Esta equipa é o somatório de todas estas coisas. É a equipa que finalmente foi humilde para assumir que não era a melhor, mas fez da desconfiança a força. É a que respeita o papel formador e agregador do Sporting Clube de Portugal, assumindo todas as desvantagens e vantagens de o ser. É a que luta até ao último segundo, sem parar, sabendo sofrer contra si mesma. E por isso, venceu. Venceu porque foi Sporting e fez da maior força do Sporting a sua.

Não tenho qualquer ilusão de que vou ver algum dia o Sporting vencer um título sem que para isso tenhamos de ser internados a meio do campeonato. Não, isso dificilmente acontecerá. Só vencemos quando honrámos aquilo de que somos feitos, quando fizemos em campo o que milhões faziam na bancada há décadas.

Existirão muitos elogios a fazer a jogadores, treinador e equipa técnica. Muitos líderes importantes, muita irreverência e alegria, e até muito amor à camisola. Mas o que mais orgulho me deu, em todo e qualquer momento deste campeonato, não foram as jogadas incríveis, nem os golos inesquecíveis, nem as estrelas que nos fazem levantar da cadeira. Foi que em todos os minutos em campo, o Sporting esteve em campo. E, garanto-vos, nunca me lembro de algum dia ter sentido isto. Obrigada a todos pelo dia mais feliz das nossas vidas!

*quando a mostarda lhe chega ao nariz, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa