Adoro quando não tenho razão e o Sporting me contraria desta forma. Limpar uma série por 3-0, frente a um rival direto, é sempre de assinalar, ainda para mais após a vitória no Pavilhão da Luz da forma que foi. Eu, sinceramente, pensei que o facto do Benfica ter eliminado a Oliveirense, vindos de um momento em que se apresentavam em crescendo, os levasse a unirem-se mais em torno do coletivo. Pensei mesmo que nos roubassem o 1º jogo no Pavilhão João Rocha e, verdade seja dita, o Benfica até não esteve assim tão distante de conseguir uma vitória no nosso reduto, que no 1º, quer no 2º jogo, mas a matriz da equipa encarnada acabou por não se alterar.

O Benfica pode ter o talento ofensivo que quiser que, num confronto frente a outro rival extremamente competitivo, numa meia final dum playoff, se não defender sempre bem (e sublinho o sempre), vai perder a grande maioria dos jogos. Ao Benfica, faltam atletas com essa competitividade e mentalidade defensiva. Obviamente que tudo isto pode ser incutido, dia a dia, nos treinos, mas olhem para este Sporting e vejam: Travante, Ellisor e João Fernandes marcam o tom e o resto da banda segue! Três atletas ultra competitivos que marcam o tom dos restantes. Arrisco-me a dizer que os treinos do Sporting são mais competitivos que certos jogos da liga… O resto, vem com estratégia e é disso que vamos falar.

Os 3 jogos acabam por ter semelhanças, mas também diferenças, como é óbvio. Nos 2 primeiros vimos um Benfica quase sempre na frente e no 3º, vimos um Sporting quase sempre dominador, chegando a estar a vencer por 28 pontos de diferença. Nestes jogos, as equipas tentam sempre tirar partido das vantagens. Se eu sei que aquele determinado jogador é mais lento, é mais baixo, só joga para a mão direita, é um forte lançador daquele sítio específico do campo, etc…, eu, enquanto treinador, irei delinear uma estratégia para tentar tirar partido disso mesmo, tentado explorar os pontos fracos do adversário, tentando limitar e tirar os adversários da sua zona de conforto.

Jogo 1: Sporting 92 – 86 Benfica
No jogo 1, o Benfica, entrou forte no lançamento exterior. 10 triplos na 1ª parte com uma absurda percentagem de lançamento, davam-lhes muita confiança. O Sporting entrou algo relaxado nesse jogo e muito preocupado com as vantagens interiores que o Benfica poderia ter, nomeadamente de Betinho sobre Travante e Quincy Miller sobre João Fernandes. Ora, ajudando mais interiormente, quem lançava de 3 ficava menos pressionado para o fazer. Quando o Sporting, na 2ª parte, passou a colocar mais pressão sobre o base, retirando organização ofensiva e tempo de ataque ao Benfica, passou a defender melhor a linha dos 3 pontos e os estacou a hemorragia da linha dos 3 pontos. Como a manta é curta e não dá para tapar os pés e a cabeça, o Benfica passou a apostar no jogo interior e foi conseguindo manter essa vantagem graças a isso.

Ofensivamente, o Sporting passa muito por 3 pontos: Superioridade física de Fields no jogo interior, vantagem de Ellisor sobre o seu marcador direto e capacidade individual de Travante Williams. Ora Betinho marcava Travante impiedosamente e ia conseguindo manietar um pouco, o jogo ofensivo do Sporting. James Ellisor ia conseguindo levar a água ao seu moinho, levando várias vezes Bryce Alford para zonas próximas do cesto, convertendo lançamentos fáceis e Fields, estava algo tapado pelo poste adversário e pelas ajudas defensivas que iam surgindo.
O Sporting desbloqueou este jogo em dois pontos: Primeiro passou a defender melhor na segunda parte, como referia atrás e, passou a castigar o Benfica em contra ataque (acabando o jogo com 23 pontos desta forma), e trocou o bloqueio feito a Travante Williams. Quem passou a fazer o jogo de 2×2 com Travante, passou a ser um dos bases ou extremo e não o poste, como habitualmente. A intenção seria que, após a troca defensiva do Benfica, Travante ficaria com Rafael Lisboa ou Bryce Alford pela frente. Neste cenário, Travante conseguia criar desequilíbrios para ele, ou para a equipa. E assim foi… A partir daqui, passou a ser a manta do Benfica que ficou curta. As más percentagens de lançamento do Sporting deram lugar às boas e os triplos começaram a cair. No 4º e último período fazemos um parcial de 34-25, depois de um 20-13 no 3º período e vencemos, justamente, o jogo!

Jogo 2: Sporting 83 – 75 Benfica
No jogo 2, o Sporting já vinha avisado e começou desde logo a pressionar o Benfica no lançamento exterior. O Benfica, cedo percebeu isso e levou Betinho para zonas próximas do cesto, tirando partido da sua maior estatura e poderio físico sobre Travante Williams. Betinho era o maior destaque do Benfica: Defensivamente a sua pressão sobre Travante foi ainda maior que no jogo 1 e, o Sporting, viu-se obrigado a passar grande parte do seu jogo por Ellisor que, ia lendo o jogo como ninguém, sempre a tirar partido das vantagens interiores. Se no jogo 1, o Benfica levou 10 pontos de vantagem para o intervalo, neste levou apenas 1 ponto. O Sporting até nem estava mal em termos ofensivos, mas tinha más percentagens de lançamento, sobretudo na linha de lance livre. Após o intervalo, o Benfica regressou melhor, defendendo bem o jogo de 2×2 do Sporting, optando por deixar muitas vezes João Fernandes livre, como que a convida-lo a lançar de 3. Ofensivamente, apesar de alguns turnovers, eles começam finalmente a conseguir explorar o seu forte jogo exterior e os triplos começam a cair. O Sporting foi-se mantendo à tona como pôde…

No derradeiro período as equipas entraram mal, cometendo turnovers, atrás de turnovers. O Sporting retirou Fields e João Fernandes e colocou uma equipa mais móvel com Diogo Araújo e Micah Downs nas posições interiores. Ofensivamente, Travante ia arranjando espaço para jogar o seu 2×2, muitas vezes com Diogo Araújo, e como a equipa era mais móvel e com mais atiradores, os triplos começam a cair e o Sporting começou a recuperar. Defensivamente, a nossa agressividade e ajudas iam limitando o Benfica que, fez apenas 3 pontos nos 5 minutos inicias do último período. Isto deu uma confiança enorme ao Sporting! Nos 2 minutos finais, o Sporting confirma a vitória na linha de lance livre, acabando por estar bem melhor neste aspecto, do que no início do jogo.

Jogo 3: Benfica 82 – 92 Sporting
No jogo 3 a pressão estava toda do lado do Benfica. O Benfica, para eliminar o Sporting tinha que, fazer o que ainda não tinha feito – defender bem durante 3 jogos (120 minutos)! Por seu lado, o Sporting, entrava neste jogo confiante, descontraído e com uma certeza que os 2 jogos anteriores nos deram – basta apertar um bocadinho e limitamos o forte ataque do Benfica.

O jogo começa ao ritmo da NBA, com as equipas a falharem poucos lançamentos e com o Benfica novamente forte da linhas dos 3 pontos. Já o Sporting, conseguia arranjar espaço em quase todo o lado para concretizar com alguma facilidade: João Fernandes no jogo interior, Ellisor a tirar vantagem sobre o seu opositor direto, Travante de 3, etc… Nos primeiros 5 minutos as equipas quase não fizeram faltas, o que diz bem da pouca intensidade defensiva que existia no jogo. No final dos primeiros 10 minutos, estava 26-32 no marcador. 5 triplos para cada lado com percentagens de 66% e 63% para Benfica e Sporting, respetivamente. De loucos!

No 2º período o Sporting começou a sua rotação mais cedo e o Benfica recuperou e esteve na frente durante um pouco. O Sporting faz regressar Travante e companhia e volta à liderança terminando a 1ª parte com 10 pontos de vantagem, tendo para isso valido o facto do Benfica não ter concretizado qualquer triplo, durante 10 minutos. Ao intervalo Betinha era um dos grande destaques da partida, com 17 pontos, mas tinha já 3 faltas e este foi um dos pontos chaves do jogo.

Há que dizê-lo: o Sporting, foi muito inteligente na sua estratégia neste encontro. Quem se lembrar do jogo em que perdemos em Portimão, frente ao Imortal, lembrar-se-á que, Travante estava a ter muito poucas hipóteses de se libertar, fruto de uma forte marcação de Tanner Omlid. Ao intervalo já perdíamos por muitos e no 3º período, a estratégia passou por atacar Omlid para o retirar de campo, cheio de faltas. Aqui, passou-se quase o mesmo. Após 2 jogos onde Betinho deu muito trabalho a Travante e à equipa do Sporting (Betinho é O melhor jogador do Benfica), Travante atacou-o desde o início do jogo. E resultou…

Começa o 3º período e em menos de 25 segundos, Travante arranca uma falta ofensiva a Betinho (algo duvidosa diga-se) e o jogador do Benfica vê-se no banco a descansar, com 4 faltas. Sem o seu melhor defensor e sem a sua principal referencia ofensiva no jogo, o Benfica ficou literalmente perdido em campo. O Sporting jogou a seu belo prazer e quase tudo saia bem. O Benfica ainda tentou colocar uma defesa zona 2-3 (o Sporting dá-se mal com zonas), mas não só o fez tarde demais, como escolher os jogadores errados para o fazer. Conclusão: durou pouco tempo porque a diferença ainda aumentou mais e chegando mesmo a ser de 28 pontos, no início do 4º período. Daqui até final, Eric Coleman foi o mais inconformado do Benfica, ganhando ressaltos e saindo sozinho para o contra ataque e o Sporting relaxou e geriu, marcando uns pontitos para ir mantendo a vantagem acima dos 2 dígitos.

Embora ninguém tenha estado verdadeiramente mal, estes foram para mim os grandes destaques nestes 3 jogos:
Travante: 28 pontos no 1º, 21 pontos no 2º e novamente 21 pontos no 3º jogo, mas mais do que isso, um contributo em toda a linha, com ressaltos e assistências e como sempre, a assumir quando o momento assim o exigia. MVP!
Ellisor: Jogou todo o 1º jogo, descansou 7 minutos no 2º e apenas 3 segundos no 3º. Um pêndulo que soube sempre tirar partido das vantagens que tinha e uma carraça na defesa nunca permitindo que Bryce Alford fizesse mais de 14 pontos.
João Fernandes: Quincy Miller jogou?! O ex-NBA é uma das grande armas ofensivas do Benfica e fez apenas 12, 2 e 6 pontos, nos 3 jogos. Tudo dito!
Diogo Araújo: o patinho feio do plantel foi fundamental no 1º e 2º jogo, com os seus triplos no último período. Tem estado em grande na fase final da época, aproveitando muito bem o tempo de jogo após as lesões de Micah Downs e Cândido Sá.
Diogo Ventura: Só surgiu em grande no jogo 3, mas fê-lo com estrondo. 21 pontos, vários triplos e muito aproveitamento da vantagem que tinha sobre Nic Moore, carregando-o de faltas e limitando assim, umas das armas do Benfica.
Equipa técnica: Tendo um plantel menos valioso e mais curto de rotação, este é um caso onde a equipa técnica faz toda a diferença. Pela forma como escolheu os jogadores, construiu e alimentou, no dia a dia dos treinos, uma equipa super competitiva. A gestão da rotação foi muito bem feita nestes 3 jogos e a análise e leitura do jogo também – A escolha dos emparelhamentos escolhidos e a mudança dos intervenientes que realizam o 2×2 foi fundamental para introduzir uma novidade ao jogo, com a qual o Benfica nunca soube lidar.

O Porto apurou-se para a final vencendo facilmente o Imortal por 3-0. O Porto acabou por ter a mesma felicidade que nós na final da Taça e defrontou um Imortal que, para além dos dois americanos interiores lesionados, ficou sem Tanner Omlid ainda durante o 1º jogo destas finais.
Todos os jogos da final serão duríssimos. O Porto é bem orientado e sabe como nos ganhar. Sporting e Porto são, a meu ver, as duas melhore EQUIPAS deste campeonato. Um ponto que acho que marca muito a diferença e que pode muito bem desequilibrar esta balança a nosso favor; O Porto tem um forte jogo colectivo mas ataca pouco o cesto, coisa que o Sporting faz e muito. A gestão de faltas dos principais jogadores pode ser fundamental. Vendo bem, será como qualquer final entre duas grandes equipas – vai decidir-se nos detalhes!

Desta vez não vou fazer prognósticos. Deixo isso para vocês… 🙂

*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta