O Sporting é, 39 anos depois (!!!), campeão nacional de basquetebol!

O último título aconteceu em 1981/1982 e a equipa era constituída por jogadores históricos como Augusto Baganha, Carlos Lisboa, Mike Carter, Rui Pinheiro, Israel, entre outros… No ano seguinte o basquetebol era extinto, até regressar novamente na época passada, em 2019/2020.

Foram demasiados anos sem basquetebol no Sporting e por muito que as pessoas digam que não gostam da modalidade, a verdade é que através das redes sociais se percebeu que havia muita gente a seguir este jogo. Fosse por ser o jogo do título ou não, é um bom indicativo e este momento tem que ser aproveitado para trazer mais adeptos regulares para a modalidade. E deixem que vos diga que, o jogo, foi uma verdadeira promoção ao basquetebol! Pena ter acabado da forma como acabou… (refiro-me às incidências e não ao resultado, obviamente)

Como todos os que costumam ler estas crónicas devem ter visto o jogo, vou apenas apresentar umas pequenas notas acerca do mesmo e vou começar esta crónica precisamente pelo final – Pela polémica jogada final. É impossível não falar nela…

Com cerca de 6,8 segundos para jogar, Moncho Lopez pediu um timeout, pois o Sporting tinha acabado de empatar a partida a 85. O Porto iria repor a bola já no meio campo ofensivo e teria quase 7 segundos (demasiado tempo) para delinear e executar uma jogada. Nevels estava em fogo e levava já 29 pontos com 68% de eficácia de lançamento, pelo que, mesmo com Riley em campo, a escolha deveria recair nele para efectuar o último lançamento. Nevels vai repor a bola, mas a grande pressão por parte do Sporting faz com que os jogadores do Porto sintam dificuldades em se libertar e quase que fazem violação na reposição. A bola lá entra em Eric Anderson, que muito pressionado, devolve a Nevels que, ataca o cesto e acaba por lançar, já ladeado por Ellisor e Travante. Nevels falha, Micah Downs recolhe o ressalto e depois, existe falta nas costas de Eric Anderson sobre o nosso reforço de inverno. A falta sobre Micah parece-me indiscutível, mesmo com o critério existente no jogo. A questão prende-se com o lance sobre o lançamento de Nevels. Existe ou não falta de Ellisor?

Já disse anteriormente que não gosto de falar de arbitragens no basquetebol, mas como falei na crónica anterior, tenho que falar nesta. Vejam agora o vídeo da jogada, bastante partilhado por portistas nas redes socias. O replay do lance está debaixo do cesto e é a visão que um dos árbitros tem, pois está na linha de fundo. É dele esta decisão, bem como a de apitar a falta nas costas sobre o Micah Downs. Está numa posição privilegiada para decidir. Ora cliquem aqui e recordem, antes de continuarem a ler.

À primeira vista e, desta visão, Ellisor não toca em Nevels. Existe um contacto na bola, feito a meias entre a mão e o antebraço, mas nada de contacto no braço do jogador. Quem jogou sabe que estes contactos são o suficiente para dificultar o levantar da bola e mudar a pega da mesma o que, por sua vez, leva a que se falhe o lançamento, sendo que Nevels também salta para a frente e meio desenquadrado. Travante não toca em Nevels, nem o contacto efectuado entre os pés dos jogadores (teoria também levantada por portistas), é da responsabilidade de Travante. Então mas é falta ou não?!

Como sou sportinguista e por isso parcial e como tento ser correcto nas minhas análises, perguntei a 4 amigos que confio (nenhum deles adepto do Sporting ou Porto – que eu saiba): Um foi jogador e meu colega de equipa de veteranos, outro foi árbitro, outro foi treinador e o útlimo estava lá no pavilhão, em trabalho para uma instituição. As opiniões divergem… Uns tinham assinalado falta, outros não. Uma das pessoas chamou-me à atenção não para o replay filmado debaixo da tabela (que parece indicar haver toque, embora não o confirme), mas sim para a câmara que dá o lance corrido filmado da bancada. Ai sim, parece claro haver toque no antebraço de Nevels. Uns teriam apitado a falta, outros não (deu empate 2-2).

O que todos concordaram é que o lance é muito duvidoso e a visão do árbitro, que é a do vídeo acima, é a mais privilegiada, até para ouvir uma possível pancada no braço. Falo-vos disto para perceberem que não era uma situação fácil e que cada cabeça, sua sentença. Quanto à resposta à pergunta, se é falta ou não, deixo as respostas para vocês.

O que deveria ter sido feito, então?
Para mim, o árbitro apitava a falta e depois reviam o lance no IRS (Instant Replay System). O IRS não funciona a pedido, nem é como o VAR do futebol, nem é esse o seu propósito. Serve apenas para rever lances apitados que causam dúvida à equipa de arbitragem, após os 3 terem conferenciado, sem que as mesmas tenham sido dissipadas. Tivessem apitado e revisto o lance, as dúvidas seriam dissipadas e a polémica cairia por terra (digo eu). Mas a verdade é que o IRS não é para ser usado dessa forma. Se eu estivesse no lugar do árbitro, provavelmente teria apitado, não sei… Vendo o lance aqui sentado no conforto de casa, continua-me a parecer que não é falta. Nada foi assinalado, por isso não vale a pena estar a chover no molhado.

Quem é o culpado disto tudo? Logo para começar, Francisco J. Marques, que após ter perdido o 1º jogo, no Pavilhão João Rocha, se veio queixar duma decisão bem tomada, em comparação com outra, mal tomada, anos atrás. Colocou uma pressão e foco desnecessário sobre as arbitragens. Depois, dos próprios árbitros… Provavelmente entraram com a ideia de não deixar acontecer o que se passou no Dragão – jogos demasiado físicos e cheios de contactos, o que os torna mais difíceis para apitar – começando este jogo com um critério muito apertado. Os jogadores perceberem isso nas faltas iniciais e preferiram jogar (o que beneficiou o espetáculo). Só que algo mudou no balneário e o critério mudou na 2ª parte. A partir daqui, com muitos contactos debaixo da tabela e nos bloqueios, começam a surgir alguns erros no apito (para ambos os lados).

O que devia ter sido destaque deste jogo, o fairplay de João Soares num lance onde a arbitragem se engana, acusando-se a si próprio de ter sido o último a tocar a bola, foi suplantado pelo o que não devia. E, deixem que vos diga, o João Soares é aquele tipo de jogador que procura destabilizar o seu adversário directo, provocando-o e procurando sempre “escaramuças” nos contactos físicos, o que torna o gesto dele ainda mais louvável.

Quanto ao jogo jogado… Foi o melhor jogo da série! Sobretudo a 1ª parte. O Porto tentou trocar as voltas com o seu 5 inicial, sem Jalen Riley e com Miguel Queiroz ao lado de Eric Anderson, só que, a coisa não correu bem. O Porto não conseguia tirar partido do seu bloqueio alto em termos ofensivos e, defensivamente, não tinha a mobilidade desejada e o Sporting conseguia, contrariá-los defensivamente, bem como circular bem a bola no ataque e escolher os bons lançamentos.

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Reparem no espaçamento do ataque do Porto e como não existe ninguém na área pintada. Reparem onde está Fields (junto da linha dos 3 pontos), completamente fora do seu “domínio”. Neste aspecto (defender bloqueios directos), na troca de Fields por Abu, ficámos a perder. Reparem também que, na foto, Ellisor (está à esquerda de Fields) já está a defender por dentro, deixando muito espaço para quem ele defende, receber e atacar a defesa. O desiquilíbrio defensivo já está criado, bastando ao Porto uma boa rotação de bola para encontrar o homem livre e com o melhor lançamento.

Moncho corrigiu e o Porto melhorou. O Sporting deu-se muito mal durante toda a série com este bloqueio alto efectuado por Eric Anderson. Fields era puxado muito para fora da área pintada e o Porto ganhava vantagem ai, fosse para um lançamento longo, fosse para uma penetração, fosse para uma boa circulação da bola até encontrar o homem livre. Desde logo, Nevels começou-se a destacar acima de todos os outros. O Sporting conseguia melhorava sempre que retirava Fields de campo, colocando João Fernandes a poste, ficando assim com uma equipa mais móvel e que defendia melhor os bloqueios directos efectuados pelo Porto. Ambas as equipas estavam a lançar bem e chegam ao intervalo com umas percentagens fantásticas de lançamento: 55 e 52, de 2 pontos e 66 e 64, de 3 pontos! O resultado era de 51-47.

Na 2ª parte o jogo foi de parciais. Quando uma equipa ganhava vantagem, a outra fazia um parcial bastante favorável sem que nenhuma delas conseguisse fugir no marcador. Como as defesa homem a homem não estavam a conseguir lidar com o bloqueio directo, quer o Sporting, quer o Porto iam alternando para defesas à zona: o Porto com uma zona 2-1-2 e o Sporting com uma “box and 1” – que consiste numa defesa zona 2-2 e 1 jogador livre a marcar individualmente outro (neste caso Riley). E quando isto acontecia as defesas superavam os ataques, sobretudo esta “box and 1” do Sporting.

Nevels era, nesta altura, o grande destaque, sobretudo com o seu lançamento exterior. A dado ponto, no 4º período, levava já 29 pontos (o melhor marcador do Porto ao intervalo era Larry Gordon com 10 pontos), com 73% de eficácia nos lançamentos de campo. Num jogo 5 duma final… Brutal! O Porto consegue ganhar uma pequena almofada e a 17 segundos do fim ganha por 85-83. Shakir Smith consegue facturar numa entrada para o cesto empatando a partida e obrigando Moncho a pedir um desconto de tempo para delinear a jogada final.

A meu ver, o Porto esteve mal. Nunca deveria ter permitido o Sporting fazer 2 pontos fáceis, pois deveriam ter feito falta. Na linha de lance livre com a pressão para empatar a partida, há muitas mãos que tremem e bastava o Sporting falhar um lançamento que eles continuavam em vantagem… Ofensivamente também, porque nos últimos 2:50 minutos só fez 1 ponto da linha de lance livre e vê um dos seus jogadores fazer uma falta parva evitando que o jogo fosse para prolongamento e dando a vitória ao Sporting. Má gestão por parte dos azuis e brancos na fase final da partida.

Captura de ecrã 2021-06-04, às 14.33.00

Em termos estatísticos, houve muito boas percentagens de lançamentos (as melhores nestes 5 jogos), o Porto foi obrigado a lançar menos vezes de 3 pontos, o Sporting soube controlar muito bem as faltas (levou o FC Porto apenas 12 vezes para a linha de lance livre e não teve ninguém com 4 faltas), distribuiu melhor a bola, cometeu menos turnovers e conseguiu muitos mais roubos (Travante e João Fernandes ambos fizeram 4) e blocos. Foi acima de tudo um grande jogo, muito rico taticamente e que podia ter caído para qualquer um dos lados. O Porto talvez tenha sido a melhor equipa no conjunto dos 5 jogos, ou pelo menos a mais regular, mas o Sporting com muita garra e determinação conseguiu equilibrar a balança, fruto do seu colectivo, tal e qual como aconteceu aquando do regresso do voleibol em 2018. TODOS FORAM IMPORTANTES!

Ironia do destino, Micah Downs foi o herói do 1º jogo e coube-lhe sofrer a falta e converter o lance livre que nos permitiu sermos campeões. Travante foi corado o MVP da final! Esta é a lista de nomes que vai ficar na história do Sporting: Francisco Amiel, Diogo Ventura, Shakir Smith, Pedro Catarino, Travante Williams, Diogo Araújo, Jorge Embaló, James Ellisor, Micah Downs, Afonso Guedes, Cândido Sá, João fernandes, Claúdio Fonseca, John Bailey Fields e Jeremias Manjate, Luís Magalhães, António Paulo Ferreira, Flávio Nascimento, José Tavares da Silva e restante staff técnico. Obrigado por nos terem feito campeões!

Quanto à próxima época, já existem rumores de saídas, nomeadamente de um dos nossos principais jogadores e logo para um rival, e também de entradas, nomeadamente de 2 jogadores que se destacaram este ano na liga Placard, mas tudo ao seu devido tempo… Esperemos que não passem de rumores e quando tudo for oficial, cá estaremos para analisar. Até lá, desfrutem, porque somos campeões nacionais!

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*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta