Nos 2 últimos posts, em jeito de Balanço e Perspectivas, procurei fazer: uma radiografia do estado de preocupante declínio do Futebol Feminino (FF) do Sporting (que entretanto até se revelou optimista face ao cataclismo que assolou a equipa principal do departamento); elencar os momentos chave do retumbante desenvolvimento que tem conhecido o FF internacional e até nacionalmente, não só do ponto de vista da evolução do jogo como também do exponencial crescimento comercial e de negócio que essa evolução tem propiciado.

Hoje, volto ao tema da necessidade de não perder esse movimento de crescimento e de como, face ao desgaste qualitativo dos últimos 3 anos da nossa equipa principal, é AGORA ou NUNCA que temos de investir com muita assertividade em todas as componentes que podem catapultar um projecto competitivo consistentemente ganhador e economicamente sustentável. E identifico várias áreas em que, na minha opinião, devemos ter ideias claras e acção pronta (pronta, quer dizer AGORA e, no nosso caso, já levamos atraso).

A primeira acção (para antes de ontem) é colocar como Coordenador(a) de Departamento alguém capaz de juntar uma boa equipa para trabalhar esse departamento de forma holística. Isso passa por ter ideias muito claras para: obtenção de um compromisso claro de padrões de investimento da SAD; constituição de equipa técnica profissional; reconstituição do plantel profissional; plano de Formação; comunicação interna empolgante e mobilizadora; relacionamento com e envolvimento do Universo Leonino; desenho e execução de metas exequíveis mas ambiciosas de crescimento comercial; liderança na definição de um quadro competitivo e de condições de negócio sustentáveis e desenvolvimentistas; obtenção do compromisso inequívoco de todos os organismos institucionais pertinentes na participação nesse conjunto de propostas para o desenvolvimento, sustentabilidade e regulação do FF profissional em Portugal. Dissequemos agora tudo isso.

Padrão de investimento da SAD – para esta época e para o conjunto do Departamento (que inclui equipas profissionais e de formação, estruturas, inscrições, viagens, alojamentos, promoção,etc), por forma a tentar recuperar o atraso relativo a outros concorrentes, o investimento deveria ser entre 3M€ a 3,5M€. Vencendo o campeonato, no ano seguinte deveria haver um aumento de 0,5M€ para ter equipa para passar a Fase de Grupos da Women’s Champions League (esse aumento pode ser recuperado com o que é gerado a mais de prémios da competição, direitos televisivos, bilhética, publicidade e merchandising). Ora quem leu os post da Tasca no dia 7 de Junho (“Depois de termos conseguido vender Misic”) fácilmente se aperceberá de que bastava no mercado e despachar toda a nossa fina flor do entulho para que apenas 20% do que se poupava nos seus vencimentos dessem para pagar 1 ano bom de FF; e se eles fossem despachados ao preços de mercado indicados na tabela, então este investimento no nosso FF corresponderia a menos de 5% do que se realizava e deixava de pagar com esse entulho. Nem estamos a falar de outros negócios: o custo de um Paulinho dava para pagar um equipa com condições para ser campeã europeia 4 a 5 anos consecutivos.

Treinador(a) – a escolha deve recair para um(a) treinador(a) de reconhecida competência, com um bom currículo internacional, com capacidade de “influenciar” o mercado e que garanta compromisso com o projecto que lhe for apresentado (necessariamente ambicioso e desafiante para o/a poder cativar). Dando apenas alguns exemplos de “perfil”: Joseph Montemurro, treinador australiano do Arsenal que parece estar de saída dos Gunners; Casey Stoney, a treinadora do Manchester United que acabou de se demitir); Jean-Luc Vasseur treinador que se demitiu do Olympique Lyonnais no final desta época. Qualquer destes nomes poderá também “arrastar” consigo algumas jogadoras muito interessantes que com eles trabalharam o que reconhecem a qualidade do seu trabalho.

Plantel profissional – esta a tarefa mais difícil e que requer investimento e, simultaneamente, ousadia e assertividade. Até agora já saíram 9 jogadoras. Já há um tempo que se fala também da saída da Fátima Pinto para o Milão. Há ainda mais uma jogadora (Monika Wibke) cuja relação custo/produtividade é muito desfavorável (nem interessa aquilatar porquê; é uma constatação factual). Algumas das saídas eram jogadoras importantes para uma reconstrução menos drástica do plantel (Inês, Nevena, Raquel, Capeta, a Pinto se sair). Sejamos claros: o Sporting GERIU MUITO MAL ESTE DOSSIER! Nem me venham com a vontade das jogadoras, porque esta só se manifestou face à inércia da “estrutura” (??) em propor renovações ou definir atempadamente a sua situação. Deixar estes assuntos para depois do jogo final da época é de uma incompetência atroz.

O Braga do Salvador ainda antes de nos receber já tinha rescindido com a Rayane e a Hannah Keane já se mexia agressivamente mercado para tentar buscar a Vitória Almeida (que entretanto rescindiu e já não jogou os 2 últimos jogos) a Telma Encarnação do Marítimo, a Chandra Davidson do Torreense e contratou Patrícia Morais e Carolina Mendes, 2 das internacionais que saíra do SCP. O Benfica, ainda era segundo lugar e já havia renovado com Lara Pintassilgo, Pauleta, Catarina Vilão, Ana Seiça, Sílvia Rebelo, Cloé Lacasse, Lúcia Alves (todas até 2024), Madalina Tatar e Nicole Raysla (até 2023) e Catarina Amado (até 2025) e acertado a rescisão amigável (em Abril) com a Darlene. Qualquer comparação com o que se passou (ou não passou) no Sporting é um exercício de sevícia masoquista. O mal já feito nem há que apanhar cacos; é comprar louça nova … de qualidade, mais duradoura e potencialmente rentável. Porque é esta a altura para assinar bons contratos profissionais a 2, 3 ou 4 anos e com cláusulas de rescisão, só com jogadoras de qualidade inquestionável, para as posições e CARACTERÍSTICAS carenciadas no plantel (que agora são bastantes) e para garantir uma boa rotatividade do plantel.

Ao contratar um(a) treinador(a) de topo teremos de ser também muitíssimo assertivos nas contratações de jogadoras estrangeiras (que acrescentem jogo e algumas que acrescentem espectáculo, porque isso cativa público e mobiliza adeptos). As nossas necessidade neste momento passam por:
1 Guarda Redes pelo menos do nível da Inês Pereira (a Carolina Jóia será uma boa opção para a rotatividade nos jogos de menor grau de dificuldade defensiva e ganhará assim uma ótima oportunidade de crescer e de se afirmar, porque tem qualidade para isso);
1 defesa direita de inquestionável qualidade e fisicamente capaz de fazer todo o corredor para ajudar a criar desequilíbrios nas manobras defensivas adversárias (a Mariana Rosa faria a rotação nos jogos de menor intensidade defensiva);
2 defesas centrais altas, ágeis, com boa técnica e que saibam “sair a jogar” (a Gi Santos, 1.78m, do Famalicão seria uma ótima escolha; outra a dinamarquesa Rikke Sevecke, 1.80m, do Everton);
no lado esquerdo da defesa, estamos bem servidos com a Joana Marchão e a Alícia Correia;
2 posição 6 ou posição 8 (a Vanessa Marques do Ferencváros da Hungria e a Andreia Norton do Braga ou a Gabi Morais do Famalicão, seriam boas escolhas e teriam a Tatiana Pinto e a Andreia jacinto para rotação dependendo mais das características das adversárias que da “dificuldade” do jogo);
1 média ofensiva criativa e com “fantasia” (Jill Roord, holandesa, do Arsenal, cairia que nem uma luva e talvez fosse mais fácil de aliciar se o treinador fosse o Montemurro; teria sempre a Andreia Jacinto para poder dar rotação);
1 extrema direita (a Telma Encarnação ou a Diana Silva, dariam uma boa rotação à Ana Borges, desde que jogasse a outra avançada/ponta de lança);
1-2 avançadas/pontas de lança (o ideal seriam a Telma Encarnação e a Vitória Almeida; falhado uma delas a Chandra Davidson; como terceira alternativa em jogos mais acessíveis a Marta Ferreira);
1 extrema esquerda (Dzsenifer Marozsán, atualmente emprestada pelo Lyon ao OL Reign de Seattle, seria garantia de qualidade e espectáculo; ela e a Roord na mesma equipa, com a Telma e a Ana Borges poriam qualquer defesa em constante sobressalto; faria rotação com a Diana Silva).

Este plantel, incluindo equipa técnica, teria um custo aproximado de 2M€. A 10 “novas” implicariam um acréscimo de cerca de 1,3 M€ (a que se teriam de descontar os vencimentos das 9 ou 10 que saíram, cerca de 0,5M€; o que daria um diferencial decerca de mais 0,8M€ em jogadoras): Mas traria imensa qualidade, garantiria espectáculo, asseguraria uma muito maior atracção de público, melhores shares televisivos (o que garante melhores sponsores e mais publicidade) e venderia mais merchandising. E ficávamos bem mais perto de voltar ao sucesso competitivo.

Formação – não é preciso fazer muito, porque o que tem sido feito está muito bem feito (este último ano, foi atípico, pela suspensão de competição e de treino); apenas garantir a articulação com a equipa técnica do plantel profissional.

Comunicação Interna – tem de passar a haver. Mais completa (promoção dos jogos de todos os escalões e divulgação atempada das suas fichas técnicas; mais reportagens, ou até mesmo um programa da Sporting TV, sobre a Formação do FF), mais transparente (publicitação interna de Relatórios & Contas e Orçamentos específicos, com dados gerais sobre os custos e os proveitos em todos os items, publicitação interna atempada das nossas movimentações de mercado), mais universal (divulgações de informações regulares pertinentes a todos os Sócios do Clube e accionistas da SAD) e mais verdadeira (internamente não tem de haver subterfúgios ou segredos que não sejam os que respeitem a dados pessoais confidenciais).

Relacionamento com e envolvimento do Universo Leonino – A chave para a \competitividade duradoura de SAD e Clube está na capacidade dos seus dirigentes em gerar empatias com o Universo Leonino por forma a envolvê-lo nas soluções de sustentabilidade do “negócio nuclear” do Sporting: que é a inexplicável paixão pelas Cores, Emblema, Lema, Valores, Cultura e História do Clube. E isso é verdade para o Clube como o é para a SAD. O dia em que retirarem do Futebol (Masculino ou Feminino) do Sporting as emoções da paixão e os trocarem pelos cifrões de poderosos investidores será o dia em que tudo deixa de fazer sentido. Porque, por mais paradoxal que isto possa parecer, é a inexplicável e insensata paixão que move os adeptos. Para eles de nada serve ganhar se não houver identidade.

O caso do Sporting é nessa matéria das Emoções do Futebol que tantos ensaios e estudos tem gerado, ele próprio um muito singelo e original caso de estudo. Porque podemos passar 17 ou 18 anos sem ganhar o Campeonato Nacional de Futebol que ao 18º em 2000 e ao 19º em 2021, entre as largas centenas de milhar que festejaram o título por esse País e por esse Mundo fora estavam milhares de jovens que nunca tinham experienciado essa festa. Porque por muito que muito gire em torno do Futebol Senior Masculino, este é um Clube que tem dezenas de outros títulos, todos os anos, para celebrar. Porque por muito que muito da vida associativa do Clube passe pelo centralismo lisboeta, este é um Clube em que a Paixão se manifesta com a mesma intensidade no Marquês de Pombal ou nas ruas de Pemba. Porque por muito que muitas das decisões desportivas neste estejam viciadas por teias de poder bacoco, este é um Clube que não cede às tentações de também procurar esse tipo de jogos para vingar. Porque por muito que muitos procurem usar ao mais poderosos meios de influência de massas e de adulteração comunicacional para embelezar a sua história e tentar delapidar a nossa, este é um Clube para cuja esmagadora maioria de adeptos e sócios a Verdade nunca dói. Reconhecer tudo isto é um primeiro passo para operar as mudanças positivas e ganhadoras. Porque está aí a Nossa maior Força: Nós somos da raça que nunca se vergará e só alimentamos desprezo para as falsas conquistas embrulhadas no celofane da corrupção e da traficância de influências; Nós prezamos e valorizamos o ecletismo no Desporto e por isso temos quem dê valor ás conquistas no Ténis de Mesa, ou no Tiro com Arco ou no Futsal , ou no Atletismo, ou no Hóquei, ou no Futebol, ou no Goalball seja em que escalão etário ou em que género for; Nós afirmamo-nos como um Clube verdadeiramente Universal porque a nossa expansão é orgânica e reflete-se em 4 G.O.A.s, em centenas de Núcleos espalhados por todo o País e nos 5 Continentes, em várias Fundações e Grupos cuja principal missão é a Solidariedade Social e o Desenvolvimento Humano como Valor do Leonismo e agora, nos novos tempos, até em vários grupos de sportinguistas nas Redes Sociais.

Quem for capaz de canalizar em apoio ao Clube e ao seu associativismo uma boa parte desta realidade estará a um passo de fidelizar mais de 250.000 a 300.000 Sócios e, assim, mais facilmente garantir o sucesso continuado, desportivo e financeiro de SAD e Clube. No caso do FF há que saber protocolar com os G.O.A.s e com os núcleos dos Distritos de Lisboa, Ribatejo, Setúbal e Leiria formas e modelos de apoio regular aos jogos do FF, através da contratualização de preços especiais de Gameboxes FF José Alvalade/Aurélio Pereira que incluam 2 jogos de apresentação (um no Alvalade e outro no Aurélio Pereira) + 4 ou 5 jogos nacionais no José Alvalade (recepções a Benfica, Braga, Famalicão, Marítimo e Albergaria e mais tarde Guimarães e Porto) + todos os jogos internacionais. com a procura de, em conjunto com G.O.A.s e Núcleos procurar metas de superação nos números das assistências.

Metas exequíveis mas ambiciosas de crescimento comercial – definir em sede de orçamento as metas que se pretendem atingir em Sponsoring, na publicidade, no merchandising, na bilhética, na animação paralela e complementar, na promoção comercial do jogo, nos direitos de imagem, nos direitos televisivos; procurar fazer crescer essas metas todas as épocas; ir dando conhecimento aos sócios e aos parceiros dos resultados obtidos nas diversas áreas (e.g. bilhética com especificação dos números de assistências e receitas; merchandising com resultados mensais e items mais transacionados, campanhas com atletas para a promoção dos jogos,etc).

Liderança nas propostas para desenvolver as mudanças positivas – apresentação de propostas claras para gerar condições de integridade, desenvolvimento e de sustentabilidade do FF profissional, nomeadamente através de um quadro de competições propiciador de equilíbrio e que favoreça a melhoria do jogo (2022-23 a Liga Principal a cargo da LPFP e apenas com 10 equipas a 2 voltas e 2ª fase com Grupo de Manutenção 4 equipas e Grupo de Apuramento de Campeão 8 equipas também a 2 voltas; 2024/2025 como temporada limite para TODAS as equipas das Ligas profissionais Masculinas terem equipas femininas, incluindo escalões de Formação), regulação (definição das áreas de jurisdição da LPFP e da FPF na gestão das competições; definição das regras de composição dos plantéis com limite de estrangeiras e imposição de um número mínimo de jogadoras formadas localmente; regras de profissionalização e semi-profissionalização das equipas e condições para sua certificação; arbitragem, sua profissionalização, sua avaliação, sua Formação e meios tecnológicos, VAR, audição e visualização pública dos lances, tecnologia de linha de golo; disciplina; direitos das atletas nomeadamente na gravidez e no acompanhamento médico-desportivo nos ciclos menstruais; Carta de direitos e obrigações dos Clubes; plano de desenvolvimento de base, FF escolar, etc).

Obtenção do compromisso inequívoco de todos os organismos institucionais pertinentes (FPF, LPFP, ADFs, SEJD, IPDJ, ME) na sua comparticipação para a execução desse conjunto de propostas para o desenvolvimento, sustentabilidade e regulação do FF profissional em Portugal.

É isto que gostaria que acontecesse no próximo mês do FF da Sporting CP SAD

* dos Açores com amor, o Álvaro Antunes prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino. Às terças!