No último post desta rubrica procurei (dando continuidade aos anteriores) justificar porque entendia que «… é AGORA ou NUNCA que temos de investir com muita assertividade em todas as componentes que podem catapultar um projecto competitivo consistentemente ganhador e economicamente sustentável.» E tentei identificar «… várias áreas em que, na minha opinião, devemos ter ideias claras e acção pronta (pronta, quer dizer AGORA e, no nosso caso, já levamos atraso).» Finalizei esse post com o desejo de que muito do que aí elenquei como acções urgentes a tomar pelo FF do SCP «… acontecesse no próximo mês do Futebol Feminino da Sporting CP SAD.» Infelizmente, a primeira semana desse “próximo mês” apenas trouxe indicadores de sentido contrário ao das medidas que preconizava.

Desde logo a notícia da contratação para técnica principal da Mariana Cabral. Não me interpretem mal. Não coloco minimamente em causa a competência da Mariana Cabral. Fez um trabalho de excelência na Formação do Clube, criando equipas que treinam e competem num grau de exigência um ou dois patamares acima do que seria normal nas respetivas faixas etárias (maioria das sub 19 entre 15 e 17 anos; maioria das sub 17 entre os 14 e os 16 anos) ou mesmo “criando” cenários de competição para elevar o grau de exigência a extremos que a competição do escalão não permite (sub 19 a municiarem 4/5 da equipa B, jogando, assim Futebol de 11 na 2ª Divisão Nacional Sénior; equipa de sub 15 com a maioria das jogadoras entre os 10 e os 13 anos, a competir na Distrital Masculina de Sub 14 Futebol de 7, por isso, apenas jogando contra rapazes, a maioria mais velhos que elas – porque na AF Lisboa não existe competição feminina abaixo das sub 17 !? ). E a Mariana Cabral foi durante estes 5 anos, a coordenadora técnica da Formação do Futebol Feminino do SCP, acumulando esse cargo com o de treinadora principal das Juniores e da equipa B. E com resultados quer formativos quer competitivos de excelência.

O que considero negativo na “promoção” da Mariana Cabral a técnica principal é aquilo que acho que ela significa em termos de um ainda maior retrocesso na trajectória do nosso Futebol Feminino profissional. Porque essa “promoção” pareceu dar logo o sinal de que as soluções iriam ser procuradas com “o que temos em casa”. E, se o que tínhamos em casa no FF profissional já era manifestamente pouco, aquilo com que ficámos após a debandada de 9 jogadoras (7 das quais internacionais A) é ainda assustadoramente menos.

E os restantes sinais dados durante esta semana apenas confirmam essa aparência inicial: 13 dias depois do Comunicado do SCP que CONFIRMA a saída de 9 jogadoras do plantel principal e 22 dias depois do anuncio da única contratação externa (Diana Silva) começámos a receber os anúncios de “reforços” do plantel profissional que mais não eram do que assinaturas de contratos profissionais com jogadoras nossas que, até aqui ainda eram amadoras (a guarda redes Carolina Jóia, 19 anos, 1.61m de altura, treinando no plantel A, mas com zero minutos na equipa “A” e com 4 de 10 jogos/360 minutos na equipa “B”, tendo sofrido 4 golos dos 7 até agora sofridos pela equipa; a defesa Francisca Silva, 19 anos, com zero minutos na equipa “A” e com 9 Jogos e 722 minutos e 6 golos marcados na equipa B; a média Margarida Sousa, 24 anos, a jogadora mais velha da equipa B, que não integrava os treinos da equipa A – foi contratada para a equipa B?). Para um plantel que era curto para fazer uma rotação aceitável, do qual saem 9 jogadoras, 6 das quais das mais titulares, reduzir as “contratações” a assinaturas de contratos profissionais não é aceitável. Um Clube nessas condições TEM DE MEXER-SE NO MERCADO.

O Benfica limitou-se a renovar contratos e a rescindir com “gorduras excessivas”; PODE DAR-SE A ESSE LUXO pois foi campeão com 5 pontos de avanço sobre um Clube que se desfalca e não reforça.
O Braga, mexeu-se: foi buscar o treinador João Marques ao Famalicão; contratou Patrícia Morais e Carolina Mendes; andou atrás de Vitória Almeida, de Telma Encarnação e de Karina Socarrás; e, estou disso convicto, ainda fará mais 2 ou 3 contratações assertivas; anunciaram como saídas, Ágata Silva, Ana Teles, Beatriz Barbosa, Daniuska Rodriguez, Hanna Keane, Marie Hourihan e Rayane Machado.
O Famalicão realizou 50.000€ com a venda da Mylena Freitas e foi ao Brasil contratar Jorge Barcellos ex treinador do Vasco da Gama feminino, do Avaí Kinderman (equipa feminina de Caçador, Estado de Santa Catarina, que competia na 1ª Divisão Nacional) e da seleção brasileira que foi vice-campeão olímpica; não há ainda muitas notícias sobre saídas e entradas.

Fiquemos a aguardar as próximas 2 semanas para saber se se vai confirmar mais este retrocesso ou se vamos ter algumas novidades agradáveis. Muito sinceramente, confesso que espero muito pouco de positivo, uma vez que parece que o Sporting continua sem definir quem é o/a novo/a responsável pelo futebol feminino. Assim, com responsável técnica mas sem responsável de departamento, parece que continuamos a querer navegar à vista, mas envoltos em nevoeiro cerrado.

Para que não restem dúvidas sobre o meu apreço acerca do trabalho da Mariana Cabral aí vão os números da Formação, mesmo neste atípico ano de pandemia.

SCP “B” – Da Formação apenas tinha sido “chamada a jogo” a Equipa B, que, por isso, integrou várias jogadoras dos planteis sub 17 e sub 19. Mas mesmo essa competição (Campeonato nacional da 2ª Divisão Senior) foi interrompida a 1 jornada do fim da 1ª Volta da 1ª Fase. Com a retoma competitiva, completou-se a 1ª Fase com a jornada que faltava e passou-se logo para a 2ª Fase (no caso do SCP “B”, a fase de apuramento de campeão zona sul, a 2 eliminatórias de 2 mãos para encontrar o finalista com o da zona norte).
Os números são avassaladores: 1ª Fase em 1º lugar com 6 jogos e 6 vitórias e um score de 63 golos marcados e 4 sofridos; quartos de final FC Alverca 1 – SCP “B” 7 e SCP “B” 9 – FC Alverca 0; meia-final – Atlético CP 1- SCP “B” 10 e SCP “B” 5 – Atlético CP 1. Até à final, que se disputará contra o Lank Vilaverdense no próximo domingo, pelas 18 horas de Portugal Continental e Madeira (17h dos Açores), com transmissão no Canal “11”-FPF, o SCP “B” tem os números de 10 jogos, 10 vitórias, 94 golos marcados e 7 sofridos. O plantel é composto por 36 jogadoras que, NESTE MOMENTO (não quando iniciaram a prova) se repartem pelas seguintes idades: 4 jogadoras de 15 anos; 8 de 16 anos; 7 de 17 anos; 7 de 18 anos; 5 de 19 anos; 3 de 20 anos; 1 de 24 anos.

SCP sub15 – esta equipa é, na minha opinião, o misto da Formação leonina. Porque na Distrital de Lisboa não existe competição feminina em escalões abaixo das sub 17, as meninas que a nossa captação e o nosso scouting vai captando com 10 anos ou mais e menos de 15, treinam no Polo do Estádio Universitário de Lisboa e competem nas competições MASCULINAS da AFL (em 2018/2019 e parte de 2019/20 no escalão sub-14 de Futebol de 7 e, na presente época, na retoma competitiva de sub-15) e com resultados sempre encorajadores (terminaram a primeira época em 6º lugar entre 10 equipas, não existindo 1 outra menina na competição; recordo que a equipa do Sporting inscreve-se porque estes escalões admitem equipas “mistas”; quando a 2ª época foi interrompida estavam em 4º lugar num grupo de 10). Nesta época a retoma iniciou-se a 26 de Maio e a equipa feminina sub 15 do SCP faz o seu primeiro jogo contra a equipa masculina sub 15 do Colégio São João de Brito e vence por 1-0 com golo da defesa Daria Kaminska (uma jogadora para reter no Clube: 14 anos, 1.77m! de altura e 64kgs de peso); ao 2º jogo fez-se a 23 de maio e fomos ao campo do Oriental bater os seus rapazes por 2-0 (golos de Bianca Oliveira, média de 14 anos e de Matilde Vaz, média de 14 anos); na 3ª jornada, a 30 de Maio, batemos os rapazes do Bobadelense por 9-0 (com Mafalda Garcia, Bianca Oliveira, Inês Fonseca e Lara António a marcarem 2 golos cada e Matilde Nave a facturar um golo; todas as jogadoras com 14 anos); na 4ª jornada, a 3 de Junho, deslocámo-nos a casa do Caneças e vencemos por 0-1 com golo de Rita Almeida (14 anos); na 5ª jornada, jogada a 13 de Junho, recebemos e batemos os rapazes do CF Unidos por 3-1 (golos de Rita Almeida, Carolina Pimenta – a única com 15 anos – e Matilde Vaz).

Estes dados e os números dos 2 primeiros anos que contámos por vitórias todos os jogos e por conquistas todas as competições em sub 17 e sub 19 são bem reveladores do bom trabalho que tem sido feito na nossa Formação. E, logo, constituem um bom atestado de competência de Mariana Cabral. Não é isso que coloco em causa, mas tão somente a aparente ausência de rumo na equipa profissional. E o que isso comporta neste momento que é importantíssimo para vir a definir águas no Futebol Feminino luso.

* dos Açores com amor, o Álvaro Antunes prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino. Às terças!