Não será exagerado afirmar que a maior parte das críticas ao plantel de futebol profissional do Sporting na última época tiveram como alvo o avançado Paulinho. Seja pelo seu preço, pela sua produção, pelo impacto que teve sobre a utilização e perspectivas futuras do jovem Tiago Tomás ou pela sua relação com o treinador, o facto é que as críticas têm sido generalizadas e a sua defesa se tem resumido aos elogios do referido treinador. Importa, portanto, olhar para a questão de uma forma analítica e sustentada.

Desde logo se deve compreender que a questão do custo pode ser falaciosa. Jogadores de futebol custam dinheiro. Dinheiro esse que alimenta um ecossistema, por via das comissões, que urge manter e fomentar. É certo que Paulinho custou bom dinheiro. 16 milhões de euros por 70% do passe, para ser exacto. Uma primeira crítica tem sido feita à percentagem do passe adquirida. No entanto, os seus detractores falham ao não entender que, com a idade de Paulinho, 28 anos, e atendida à sua performance, este dificilmente será vendido, pelo que a percentagem do passe é irrelevante.

Por outro lado, a questão não é ter comprado Paulinho, até porque as alternativas também têm custo. Não fora esta compra, quem jogaria? Sporar custou 6 milhões, Pedro Mendes custou 0.3 milhões e Tiago Tomás e Pedro Marques, se tivessem sido comprados, também teriam custado dinheiro.

Numa perspectiva estritamente analítica, observamos que, com a camisola mais bela do mundo e em jogos da liga, Paulinho jogou 1072 minutos em 14 jogos, onde marcou 3 golos e fez duas assistências. Não converteu ou falhou qualquer grande penalidade. Foi portanto responsável por 13% dos golos da sua equipa enquanto esteve em campo, o que ascende a 16% se excluídos os golos de penalty que nunca poderia converter por não ter sido chamado a marcar. Nada mau, para quem obrou numa equipa com fragilidades no momento ofensivo do jogo.

A comparação com as alternativas não é fácil, por estes terem jogado em contextos menos competitivos. Pedro Marques, por exemplo, jogou pelo Sporting B no campeonato nacional de seniores, onde marcou 9 golos (incluindo as 3 grandes penalidades a que foi chamado à conversão) em 985 minutos em 11 jogos. Trata-se de uma média de 0.82 golos por 90 minutos (0.55 excluídos os penalties) e perfazendo 60% dos golos da sua equipa enquanto esteve em campo, bem como 50% dos golos não apontados da marca de grande penalidade. Já na taça de Portugal, competição menor em que o campeão nacional veio embora mais cedo por não lhe reconhecer grande interesse, Marques só jogou um jogo, onde alcançou a nada impressionante marca de 10.00 golos por 90 minutos, com 67% dos golos da sua equipa enquanto esteve em campo. Mais facilmente comparável será o desempenho de Marques no Gil Vicente na primeira liga, ainda que Pedro tenha beneficiado de um contexto altamente favorável comparado com o de Paulo. Afinal, à chegada de Marques, o portento ofensivo gilista ocupava o último lugar do campeonato e exibia uma frente de ataque semeava o terror pelos campos de jogo desta terra.

Seria ainda injusto não mencionar que, quando vestiram as respectivas camisolas pela primeira vez, há escassos meses, Paulinho apenas tinha cinco épocas cumpridas na primeira liga, enquanto Marques já tinha estado sentado no banco do Sporting variadíssimas vezes. Tal facto seguramente promoveu uma adaptação mais célere do segundo ao futebol de maior exigência e ajuda a contextualizar os números, tantas vezes frios e cegos.

É portanto neste contexto que os 5 golos de Marques em 926 minutos de 15 jogos resultam em 0.49 golos por 90 minutos (contra os impressionantes 0.25 de Paulinho). Também no impacto sobre os golos da sua equipa Marques perde para Paulinho. Observa-se que Marques apenas marcou 36% dos golos da sua equipa enquanto esteve em campo, o que ascende a 50% se ignorarmos os penalties, o que não sendo despiciendo, fica mal na fotografia comparado com os impressionantes 13% e 16% do goleador, ou tabelador, se preferirem. Não foi dada a oportunidade a Pedro de tentar converter grandes penalidades.

Contudo, a qualidade do avançado não se mede nos golos. O avançado marca golos pela mera circunstância de bater grandes penalidades e por jogar lá na frente. É disso exemplo, como todos bem sabemos, a improbabilidade em ser-se o melhor marcador da liga sem muitos golos de penalty e a total impossibilidade em o ser se se jogar como médio.

De facto, na sapiente reflexão do filósofo contemporâneo Marques Postiga, ao ponta-de-lança não compete o golo pois é sua empresa a tabelinha e a assistência. Sob este prisma resulta a constatação de que Marques jamais conseguiria empreender uma tabelinha (evite clicar-se aqui: https://www.youtube.com/watch?v=9Bco67GLP7A). Acresce que, em jogos da liga, Marques se ficou por 0.19 assistências por 90 minutos de jogo, bem aquém das estonteantes 0.17 assistências por 90 minutos do sensacional Paulinho.

Há quem vá ainda mais longe, como o filósofo florentino Nuno Ribeiro, e acrescente que o verdadeiro ethos do avançado é o “fare niente”. Aqui Paulinho é demolidor perante a iniqua concorrência.

Os dados objectivos supra consubstanciam a superior performance de Paulinho. Assim o é porque assim o é. Os escassos indicadores em que assim não o é não podem deixar de ser adequadamente interpretados como excepções. Sabe-se hoje, por ensinamentos da física quântica que é a excepção que confirma a regra, tanto que eminentes cientistas quando pretendem validar uma teoria não procuram profusas evidências nesse sentido, mas antes o seu contrário. Observada a excepção, validada a regra sua contrária. Com tantas excepções, a regra de que Paulinho é superior a Marques está solidamente confirmada.

Mencionei outras alternativas a Paulinho. Todas elas piores, como se verá.

Pedro Mendes, na metade da época emprestado ao Nacional (e que grande alegria me deu esse simpático clube este ano) marcou 2 golos em 622 minutos, ao longo de 11 jogos. Refeito do choque ao me aperceber que o Nacional nessa metade de época marcou, pelo menos, esses 2 golos, observo que tal se traduz em 0.29 golos por cada 90 minutos (muito abaixo dos 0.25 de Paulinho).

Já o veterano Tiago Tomás cumpriu, na primeira liga, 29 jogos. Ao longo desses 1498 minutos marcou 3 golos e fez duas assistências. Conta, portanto, 0.18 golos e 0.12 assistências por 90 minutos. Curto, para um jogador com a sua experiência.

Sporar, por seu turno, entre o campeão e a equipa que tem aquele “je ne sais quoi” que faz qualquer presidente de bem da nossa colectividade perder a cabeça, a carteira e a noção do ridículo, como um qualquer Pinto de Sousa numa loja de trapinhos de luxo, também fez uns golitos, pese embora a falta de etiqueta nas redes sociais. Foram 6 em 27 jogos, onde cumpriu apenas 1109 minutos, aos quais se soma uma assistência. Contas feitas, são 0.24 golos por cada 90 minutos, deixando patente a mestria do investimento associado à troca de Sporar por Paulinho que permitiu passar dos números do esloveno para 0.25 do amigo do lisboeta.

Há, ainda outro factor a ter em conta. Trata-se da perspectiva futura e de evolução. Segundo Benjamin Button, as épocas ao mais alto nível e o espaço-tempo de evolução de um atleta como Paulinho, de 28 anos, são incomparavelmente superiores aos de Marques (23 anos), Mendes (21 anos) e especialmente Tomás (19 anos).

Não obstante estas análises, vale e pena recordar um eminente antigo sócio leonino, Luís Vieira, que afirma com propriedade que “se a gente é campiões, atão tudo tá certe”.

Uma última palavra para a Joelson, Nazinho, Rodrigo Fernandes, Bruno Paz e Pedro Marques. Trata-se de rapaziada que se sentou no banco nos jogos a doer desta caminhada vitoriosa (o último dos quais quatro vezes, duas terminadas com perda de pontos e em todas elas com substituições por fazer) e que, na altura da celebração, teve a oportunidade de assistir à coroação de Tomás Silva e do jovem André Seixo Paulo, com extenso percurso na nossa formação, no conforto dos seus sofás.

Boa tarde e, nunca se esqueçam: Jamais deixem que os factos influenciem as opiniões que os notáveis têm a amabilidade de vos incutir.

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Hans Ranz
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