Há umas semanas atrás presenciámos um episódio que já ninguém esperava ver. Um dos melhores jogadores do mundo, que fez toda a vida futebolística num clube, e sempre tinha passado a ideia de que nunca iria defender outro emblema, não conseguiu fintar o poder do dinheiro no futebol.

Este desporto é cada vez mais um negócio, e como qualquer negócio, para sobreviver, precisa movimentar dinheiro, capital. Isso deve-se essencialmente ao facto de o futebol mexer com emoções que levam a deslocação de massas sem uma forma racional, provocando consumismo exacerbado. Portanto um negócio precisa de procura e isso está garantido na paixão pela redondinha.

Ora, os agentes económicos e financeiros sabem disso, e quem realmente tem dinheiro para gastar vê no futebol o meio ideal para movimentar capital. E ainda que não se crie valor, desenvolvem-se outras situações, muitas vezes menos claras que ainda assim pouco importam desde que os clubes em questão ganhem títulos, vendam camisolas, movimente dinheiro necessário ao crescimento das economias onde os clubes que detêm essas fortunas se situam. Isso desvirtua os campeonatos, e muitos clubes de menor dimensão em Portugal já vivem essas realidades, podendo mesmo começar a acontecer em clubes de maior dimensão a perceber pelo interesse insistente de investidores americanos.

Com esta realidade, o Sporting tem que decidir se quer ganhar ou competir. Porque, assim que os grandes clubes vejam ser-lhes injetado dinheiros de origem externa, terão maiores capacidades de competir, comprar, segurar pérolas. Quando assim for, o clube de alvalade terá de aceitar ser gerido por fundos e investidores para ganhar ou pelo menos ser competitivo, ou manter a obrigatoriedade de vender os seus melhores jogadores para sobreviver, ficando assim mais longe de ganhar. Isso é facilmente percetível já hoje, uma vez que os Sportinguistas, quando desconfiam sequer que um dos nossos melhores jogadores está na iminência de sair, ficam desesperados. Podem dizer que não há insubstituíveis, como vimos com as saídas do Bruno Fernandes ou João Mário, mas a verdade é que há uns que fazem mais falta que outros.

Neste cenário cada vez mais real, os adeptos e sócios do Sporting têm de escolher se querem manter o clube deles, perdendo constantemente os seus melhores jogadores, muitas vezes por valores menores do que os merecidos (ainda que isso seja dito pelo mercado e poder negocial dos agentes), para que se possam pagar as contas, e ganhemos um ou outro títulos esporadicamente, ou um clube com poder financeiro para lutar contra multinacionais com fonte (mais ou menos) infinita de capital.

Para o mercado interno, e enquanto não entra dinheiro de fundos e investidores no capital dos mais diretos rivais, o actual modelo do Sporting vai chegando, desde que haja a competência técnica que existe hoje em dia no clube. Mas quando acontecer esse desvirtuamento competitivo, o clube leonino terá que seguir o mesmo caminho dos outros, ou encontrar uma fonte de receitas bem maior do que tentar ir todos os anos à Liga dos Campeões.

O negócio futebol continua a mudar, e era capaz de apostar que vão começar a surgir novas competições criadas por clubes que são já tão grandes ou maiores que as organizações de que são membros. Assim, o Sporting terá que estar atento para apanhar o comboio certo se quer sobreviver e continuar forte.

Eu preferia que o Sporting continuasse como está, mas não tenho a certeza que seja possível sobreviver neste modelo do futebol cada vez mais virado para o negócio e menos para o entretenimento de massas. Até porque, para as massas, o futebol já é mais uma doença e um vício do que entretenimento. E o negócio serve-se disso.

Texto escrito por Nuno Almeida no site Bolanarede.pt
*“outros rugidos” é a forma da Tasca destacar o que de bom ou de polémico se vai escrevendo na internet verde e branca