Caros leitores da Tasca, a minha intenção não é fazer uma pergunta retórica ou abrir um debate filosófico sobre o #ADN da formação. Este artigo serve para indicar a minha opinião do que se pode esperar e exigir aos nossos jovens das camadas de formação. Em específico da seguinte geração 2000 – 2004 que tanto andei a propalar. Que armas temos para atacar as diferentes competições?

Começo naturalmente pela equipa de sub-23. Após um ano bastante atribulado com muitas indefinições ao nível do planeamento da temporada, onde se chegou a estrear 43 jogadores numa só época, ao nível da pré-temporada de 2020/2021 e mesmo na estrutura técnica, existe uma notória evolução em relação à época transata. O torneio da AFL de sub-21 e o torneio nacional de sub-19 deu para unir a equipa em torno das ideias do treinador. Estes dois torneios, com diferentes níveis de dificuldade, ajudaram também a determinar um onze base e perceber quem ainda não tem o ritmo ou a qualidade para jogar na equipa.

O último jogo do torneio, derrota por 2-0 contra o F.C Porto (que tinha no seu 11 Gonçalo Esteves), serviu para definir uma espinha dorsal da equipa. A inclusão de João Daniel Santos,
juntamente com Gonçalo Batalha, Renato Veiga e Miguel Menino, tem o intuito de continuar o trabalho feito a partir da segunda fase do campeonato sub-23 de 2020/2021. E é no meio-campo que reside a maior força dos nossos leõezinhos, a capacidade de pressão alta de Renato Veiga, a capacidade de quebrar linhas e do dinamismo de Gonçalo Batalha e Miguel Menino, a técnica acima da média de
Mateus Fernandes e a capacidade da “pendularização” do jogo por parte de João Daniel Santos são mais valias para uma equipa que necessitava de estabilidade e de uma definição do grupo.

Estes elementos no meio-campo dão aos extremos e avançados uma maior segurança para trocar as bolas entre linhas e jogar mais no risco, dado que existe logo uma pressão alta para recuperar uma segunda e uma terceira bola. Por outro lado, há um lado a rever nesta estratégia: o ano passado existia numerosas situações onde a equipa se descompensava toda porque não havia uma sensação de pressão coletiva, acabando os jogadores ficarem muito mal posicionados no campo, levando a contra-ataques de finalização fácil das equipas adversárias. Embora isso aconteça bastante menos, dado que a pressão é mais eficaz (a colocação de João Daniel Santos e Gonçalo Batalha a 6 ajuda a equilibrar a equipa), ainda há situações onde a equipa se desorganiza: Um dos exemplos mais evidentes é a subida de Martim Marques. Embora o lateral seja uma locomotiva e tem uma panóplia de soluções ofensiva, é certo que ainda faz o corredor sem critério, sobe em demasia e se o extremo (normalmente Mateus Fernandes ou Isnaba Mané) não consegue pressionar rapidamente o portador da bola ou acompanhar a movimentação do atacante, haverá a necessidade de Renato Veiga ir à compensação, criando um buraco demasiado grande no centro do terreno. Estas falhas de posicionamento só irão ser retificadas com mais minutos em campo.

Apesar destes momentos, é percetível que a equipa está mais consolidada defensivamente e que por arrasto, a equipa joga bastante melhor. Na minha opinião, as bases estão lançadas para lançarmos a
nossa candidatura ao título da liga revelação, embora não seja esse o principal o objetivo desta equipa. Ao incutir a estes jovens a cultura de vitória e de poderem em qualquer campo discutir os 3 pontos, lançam-se as bases para os jovens desenvolverem-se mais rapidamente, para num futuro não tão distante poderem ser utilizados na equipa principal.

O caso da equipa B já é diferente. Felipe Celikkaya pegou, em 20/21, numa equipa que jogava junta há muito tempo e que jogava bem. Nessa equipa jogavam Bruno Paz, Rodrigo Fernandes, Nuno Moreira,
Elvés Baldé e em certos momentos Luiz Phellyppe, Plata e Eduardo Quaresma. Embora o treinador tenha colocado o seu cunho nesta formação, como a solidez defensiva e os processos de transição
ataque-defesa, era notório que a equipa já estava formada e era competitiva. Não digo, no entanto, que foi um falhanço rotundo a não qualificação para a fase de apuramento de campeão do campeonato de Portugal 2020/2021, mas sinto que o treinador foi muito conservador nas últimas jornadas e que não “quis” lutar para se apurar. O jogo contra o C.F. Estrela foi a cereja no topo do bolo, com duas equipas demasiado medrosas para lutarem pela vitória, acabando por aparecer num penalti estúpido cometido por João Ricciuli. Nessas jornadas finais, já com a inclusão dos “reforços” da equipa A, conseguimos 2 empates e uma derrota que foram demasiado penalizadores, para a época positiva que se estava a fazer.

O cenário para 2021/2022 é diferente. Uma equipa com muito potencial, mas ainda na forja e isso é evidente até no seu onze base. Com as saídas de Rodrigo Fernandes e Joelson Fernandes e a promoção de André Paulo para a equipa principal, resta do onze titular mais utilizado da última época Edu Pinheiro e Chico Lamba, que pegou de estaca na segunda metade da época. Um onze com Callai, Esteves/Hevertton, Lamba, Marsá, Costa/Nazinho, Edu Pinheiro/Essugo, Duarte Carvalho, Lucas Dias, Geny Catamo, Tiago Ferreira, Paulo Agostinho no papel tem um potencial mais elevado comparado com o 11 da época passada. Contudo, passar da escrita para a prática é um desafio algumas vezes demasiado grande para alguns jogadores. A partir deste ponto é preciso discernir algumas primeiras etapas.

Como nos tem habituado, Felipe Celikkaya opta por encontrar formas de criar solidez defensiva, procurando jogadores que no meio-campo consigam ter um grande raio de pressão, que consigam estar sempre bem colocado para equilibrar a equipa. Procura extremos que tenham habilidade dupla de ajudar a fechar a zona central do campo, e de procurar verticalizar rapidamente o jogo quando recuperam a bola, procurando a profundidade do avançado (papel que era incumbido a Pedro Marques e que vai ser dividido entre Skoglund e Paulo Agostinho).

No fundo, ainda é muito cedo para dizer. Acho que podemos esperar muita evolução e algumas surpresas destas duas equipas, e podemos começar a procurar isso na próxima sexta-feira, diante do
Farense Sub-23, por volta das 23h. Contudo, acho que não é possível ainda apontar a uma subida para a segunda liga e é necessário que haja a paciência para preparar o ataque ao campeonato já na próxima época. E, quem sabe, preparar algum jogador para uma subida à equipa principal.

*quando o deixam entrar na Academia, o JFCC coloca na ementa um prato com dedicatória para os #FormaçãoLover