“A democracia dá àqueles cidadãos o direito ao protesto, por mais delirantes que sejam os seus argumentos. Não lhes dá o direito de invadirem o espaço privado dos que têm o voto popular para os amedrontar. Porque é a todos nós que tentam impor a sua vontade através da ameaça.”

O texto completo, no qual me revejo, por muito que não goste de Ferro Rodrigues:

“Daniel Oliveira
12 h ·
Estamos à espera que um chalupa nos tire o sorriso trocista?
Algumas pessoas podem estar tão transtornadas que é possível que achem que pegar num megafone para ameaçar e insultar alguém que está dentro de um restaurante, num momento privado e com a sua família, é um exercício de liberdade de expressão. É crime. Não sou jurista, por isso não sei se se trata de um crime público, por ser contra um titular de um órgão de soberania, ou se é apenas semi-público. Sei que o MP já abriu um inquérito. Em Portugal, os negacionistas são tão militantemente desinformados como em todo o lado, mas felizmente desligados do esforço nacional que fez do país um exemplo na vacinação. Só que, não encontrando qualquer resistência das autoridades perante os seus atos de intimidação, estão a tornar-se cada vez mais agressivos. Não estamos a falar de pessoas que, neste ou naquele momento, contestam esta ou aquela opção do Estado. Basta ir aos arquivos das minhas crónicas para perceber que me incluo nesse grupo, até no que toca à prioridade dada à vacinação de menores. Mas estas pessoas aparentam ser, em muitos casos, desequilibradas. Noutras ocasiões, importunavam familiares, amigos e vizinhos. Mas as redes sociais permitem que se juntem e tornam-se num perigo para outros. Assistimos a isso perante o coordenador da task-force, a quem tentaram barrar a passagem à entrada de um centro de vacinação, com insultos. Voltámos a ver isso com um juiz que usou do seu estatuto para um abuso de poder sobre a PSP, incentivando outros a seguir-lhe o exemplo. E voltam à carga contra o presidente da A.R.. A lei não se suspende porque, coitados, são chalupas. Podemos ir sorrindo, mas um dia aparece um chalupa mais chalupa que nos tira o sorriso trocista da cara. E outros, bem menos chalupas, não hesitarão em aproveitar a corda que se vai esticando para a rebentar. Sinto-me civicamente insultado ao ver grupo de gente ensandecida a insultar a segunda figura do Estado, num momento privado e familiar. De tanto não serem levados a sério, a agressividade de uns poucos lunáticos pode vir a ser um problema sério. Li, nas redes sociais, muitas pessoas condenarem este ato, começando por um temeroso “apesar de não gostar de Ferro Rodrigues”. Isso nem deve entrar na equação. Não foi apenas Ferro Rodrigues que foi assediado, insultado, perseguido e ameaçado. Foi o presidente da Assembleia da República. A democracia dá àqueles cidadãos o direito ao protesto, por mais delirantes que sejam os seus argumentos. Não lhes dá o direito de invadirem o espaço privado dos que têm o voto popular para os amedrontar. Porque é a todos nós que tentam impor a sua vontade através da ameaça.”