Este fim de semana de voleibol teve dois jogos bastante comentados pelas redes. Tanto a equipa masculina como feminina tiveram os holofotes dos sportinguistas virados para si. Esta semana vou tentar passar uma leitura a ambos jogos.

Vs Associação Académica de Espinho
O regresso de Miguel Maia, João Simões, Rojas e Miguel Sá, em especial os primeiros dois campeões, torna sempre emotivo um jogo destes. Continuo a lembrar-me bem das lágrimas do João Simões na final quando foi substituído por lesão. Começo pela conclusão dizendo que qualquer jogo que o Sporting CP não vença por 3-0 ou 3-1 é um jogo, potencialmente, frustrante. A fasquia está aqui e nunca será inferior. Se eu anunciasse um jogo contra o Tonno Callipo Calabria Vibo Valentia de Itália, quase todos os adeptos diriam: Quem? F***-se, é sempre para ganhar! Eu “só” acabei de me referir a uma das melhores equipas do mundo. A nível futebolístico seria equivalente a um jogo entre o Gil Vicente e o Manchester City. Claro que no nosso campeonato as disparidades não estão neste patamar, mas a expetativa é esta. GANHAR SEMPRE!

Isto leva-me a comentar aquilo que mais parece pesar sobre a nossa equipa masculina. A fortaleza ganhadora ou a força mental não está neste registo, a meu ver. Contra a AAE, entramos com uma força impressionante, fazendo entender um jogo fácil e tranquilo.

Passamos de permitir uma % de ataque da AAE, no 1º set, de 31% para 60% no 2º set. Animicamente isto foi um rudo golpe porque não os conseguíamos parar. Do nosso lado fomos mantendo uma estável (mas que precisa de melhorar muito) % a rondar os 50%. Os números não dizem tudo, no entanto isto foi significando que estávamos a dar confiança ao adversário. Depois quando nos queríamos impor, já era uma tarefa complicada. Por muito que custe aceitar, a qualidade dos jogadores existe. Não sou eu que digo, é o seu currículo.

Então é só uma questão de mentalidade?

Para esta resposta eu gostava de destacar um jogador – Tiago Pereira. Ele chegou ao seu/nosso clube sem estatuto de estrela e que, possivelmente, teria pouca utilização. A realidade está a mostrar-nos que é o jogador em melhor forma. Não é, potencialmente, o melhor jogador, mas tem a mentalidade. Já viram a forma como está em campo? Não estou a falar em gritos, nem em festejos, estou a falar em postura. Ele sabe onde está! Ele sabe como tem de estar e o que se espera daquela equipa. Ele também já cedeu mentalmente, na minha opinião, e até digo um exemplo de quando isso aconteceu. Quando, na Supertaça, o SL Benfica estava por cima e se percebeu que já não dava. Ele tentava e as coisas não saiam. Então, imagino eu, começou a pesar a fórmula que junta expectativa, realidade, frustração, vontade, rivalidade e entendimento do que é o Sporting CP. O Tiago é uma aula comportamental de sportinguismo.

Não vou fugir do tema que interessa aos tasqueiros. E o treinador Gersinho? A questão do treinador é sempre um tema em todos os desportos quando os resultados não aparecem. A minha opinião é que continua a ser a pessoa certa para o Sporting CP. Entende muito de voleibol, é um estudioso do jogo. Taticamente domina o processo, montando planos de jogo bastante assertivos que estão sempre relacionados com aquilo que o jogador dá em campo. A performance de cada jogador não é algo aleatório, mas é por vezes imprevisível. A meu ver o seu grande trabalho é psicológico junto da equipa. Transformar uma equipa com performances medianas, numa equipa a expandir todo o seu potencial. Apesar de eu achar que tem espaço para continuar, estará sempre sujeito aos resultados. Como eu já referi, os resultados são vitórias por 3-0 e 3-1. Se fizer crescer a equipa neste registo, ganhará os adeptos. Se a equipa evoluir com derrotas e vitórias a 3-2 andaremos sempre com um fantasma sobre esta equipa.

Em resumo, precisamos de duas vitórias nos próximos jogos (Leixões SC e SL Benfica) que mudarão muito a mentalidade. Deixo-vos um vídeo que representa isso mesmo.

 

 

Vs AJM/FC Porto

Parece haver uma aura de ceticismo em volta da competitividade que o campeonato pode trazer. A AJM/FC Porto teve uma jornada dupla com dois candidatos ao título vencendo justamente por 3-0.

A verdade é que eu disse, na semana passada, que ainda não estamos num estado de maturação para vencer uma equipa como a AJM/FC Porto. As soluções de ataque do adversário são muitas, por isso seria necessário um Sporting CP na máxima força para as vencer. Vou apontar alguns pontos sobre o jogo:

– Recepção de qualidade: Toda a gente tem jogos maus e a Bochka teve um jogo mau. Contra o Porto Volei, na semana anterior, faz 37 receções com 70% de eficácia. Naturalmente que será necessário um trio de recepção em grande para conseguir contrariar os serviços da AJM/FC Porto. Destacou-se a Thaís Bruzza que esteve muito bem e a Dani foi tentando fazer o seu trabalho e ajudando a colega em mais esforço.

– Centrais: Pareceu-me que, por plano de jogo, fomos sempre tentando esconder as centrais. A verdade é que é nesta fase que se testam soluções. O adversário tem muito poder com a Fé Isis que nos foi sempre superando com maior ou menor dificuldade. Apesar da recepção condicionar o passe da Ju Carrijo, houve momentos que era possível um jogo pelo centro da rede, mas a opção não era por aí.

– Ataque: Este será um dos pontos que precisamos de ser mais consistentes. Com o pouco jogo pelas centrais e não tendo a explosão de ataque na zona 4, ficamos condicionados na eficácia na pontuação. A Regalado ainda não está em forma, como é normal. Relembro que esta jogadora ainda há umas semanas estava a representar a sua seleção. Ainda não parou de jogar, ainda não teve férias. A meu ver, o trabalho agora passará sempre por lhe dar espaço para que esteja em forma em Janeiro. Forçar a condição física da nossa jogadora, seria condicionar o final de época porque rebentaria. A gestão física é um assunto muito importante e nunca descartável. Apesar do que disse, fica claro que precisamos de uma zona 4.

Resta-nos continuar a trabalhar e seguir a evoluir em cima de vitórias. A verdade é que esta frase serve para ambas as equipas. Deixo um alerta, a responsabilização pela evolução das equipas não são apenas responsabilidade dos jogadores e dos treinadores. O diretor geral, o diretor de seção, os roupeiros e os adeptos terão sempre uma influência neste processo.

*às terças, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.