Liderados pelo Capitão Sebastião, os Leões foram à Turquia aplicar uma inesperada goleada. Souberam sofrer, souberam crescer e souberam vencer um belíssimo jogo de futebol que os recoloca na luta pelos oitavos da Champions

Tirando aqueles anos em que a tenra idade me fazia desejar ser picado por uma aranha ou transformar-me num gigante verde quando alguém me irritasse, sempre fui gajo para gostar de super heróis “mais normais”. Batman, Demolidor, Punho de Ferro, Pantera Negra encaixam numa lista onde as honrosas excepções vão para um Surfista Prateado, para um Motoqueiro Fantasma ou para um Wolverine. E lembrei-me de tudo isto ontem, ao ver mais um jogo para guardar do Capitão Sebastião, sempre bem acompanhado por um Palhinha que parece o Colossus e um Adán que parece a mistura do Nick Fury com o Punisher originais.

There goes my hero
He’s ordinary

Os primeiros quinze minutos foram aqueles quinze minutos que todos esperamos quando se joga na Turquia. Alta pressão do Besiktas, mesmo perante aquele primeiro momento em que Paulinho se isolou e deu início a um jogo dentro do jogo. Pjanic, Alex Teixeira e Rachid Ghezzal mostravam saber o que fazer à bola, Batshuayi mostrava-se pronto a pôr à prova a capacidade da linha defensiva leonina, jogando no limite do fora de jogo. O Sporting, entre a vontade de ganhar e o medo de voltar a perder, lá se aguentou (Adan fez a primeira grande defesa aos 13) e empurrou o adversário para trás através de Porro, outro tipo normal capaz de fazer coisas extraordinárias. Viu o conterrâneo Sarabia, meteu-lhe a bola, e o espanhol obrigou o redes adversário a grande defesa. A bola foi para canto e do canto foi para a cabeça de Inácio, trabalhada para deixá-la à mercê da cabeça de Coates, que voou para ela sem receio de empurrá-la para dentro da baliza.

There goes my hero
Watch him as he goes

O Sporting passava para a frente do marcador e, seguindo o exemplo do Capitão Sebastião, até Matheus Reis ia lá à frente tentar a sua sorte, com o remate a sair por cima. Depois era Peter Potter a ameaçar, ele que anda à procura da forma e dos golos depois de tão longa paragem. Na resposta, também de canto, o Besiktas empatou, num golo claramente com falta de Larim sobre Matheus Reis, que nem teve tempo para reclamar: bola ao meio, canto, tabelinha aérea de Paulinho e Coates a voltar a aparecer para metê-la toda lá dentro.

There goes my hero
Watch him as he goes

Até ao final da primeira parte, um turbilhão de emoções. Porro ameaçou, Batshuay mandou ao poste, Coates voltou a ir lá à frente e o central Vida diminuiu as chances da cabeçada dar em golo ao cortar com a mão. Penálti e golo de Sarabia, antes de Alex Teixeira marcar um golaço bem anulado pelo VAR por fora de jogo. Chega-te ou queres mais antes de irmos para intervalo?

There goes my hero
He’s ordinary

No recomeço, o Sporting veio preparado para nova avalanche. Coates e Palhinha eram monstros pelo ar e pelo chão, não admirando por isso que fosse necessário esperar até para lá dos 60 minutos para a bola chegar a Adán, que teve que fazer mais uma enorme defesa para manter o 1-3. Do outro lado, Porro voltava a mostrar o que é possível fazer quando se nasce com quatro pulmões e centrava para o segundo poste. Paulinho, num fantástico movimento técnico capaz de fazer parte de um manual de kung fu shaolin (saudades da Vera Roquete), atirou-se num carrinho delizante e viu a bola embater no ferro. Cinco minutos depois, em fúria, o camisola 21 tira um defesa da frente e dispara com toda a força, mas a bola bate na barra e, na recarga, Porro atira para defesa do redes! A linguagem corporal de Paulinho dizia tudo sobre o desespero que ia naquela cabeça, mas Amorim foi mais teimoso do que qualquer um de nós e deixou-o em campo quando, acho eu, o jogo pedia Tiago Tomás e Nuno Santos para o lugar de Paulinho e Pote.

É que por esta altura, a 20 do final, o Sporting tinha via aberta para o contra golpe e de cada vez que descia ficava perto de marcar, mesmo que do outro lado o raio do Batshuay continuasse a obrigar Adán a fazer defesa e manchas em modo Champions. Tiago Tomás acabaria por entrar para o lugar de Sarabia, mesmo a tempo de insistir pelo meio e iniciar a jogada do quarto golo. E que golo, minhas amigas e meus amigos! João Paulo, lixado com a vida, não foi de modas: sacou um remate em arco de fora da área como se estivesse a fazer apostas nos treinos e a bola anichou-se na rede sorrindo para o mundo que verá um dos golos da jornada, confirmando uma vitória que recoloca o Sporting na luta por um dos lugares que dá acesso aos oitavos da Champions.