O Sporting fez um jogo do caralho e não há outra forma de resumir uma partida que deixou uma nação leonina de sorriso na cara e os Leões a dependerem apenas de si mesmos para serem uma das 16 últimas a lutar pela Champions

 

O adeus à equipa, no passado sábado, após vitória sobre o Guimarães, tinha dado o mote para algo especial. Claro que nesta coisa de ser do Sporting o especial é, tantas e tantas vezes, um Gençlerbirligi ao virar da esquina, mas a forma como os 11 Leões entraram na partida frente ao Besiktas, num Alvalade com mais de 40 mil pessoas, deixava pouca margem para dúvidas: estavam reunidos os ingredientes para uma noite de Champions como a nação Sportinguista merece.

Entra por baixo da pele
Acende a luz no meu peito
Embala-me o coração
Encontra-me a pulsação

Virando do avesso o que havia acontecido em Istambul, os Leões atiraram-se ao adversário com fome de rei da selva. Intensidade, pressão alta, rapidez e inteligência de processos muito por culpa do regresso da inspiração ao corpo de Peter Potter, que aos oito minutos recebia uma bola de Adan e a colocava em Pablo Sarabia, uma espécie de pasteleiro espanhol que a cada novo jogo transforma o esférico numa  Yema de Ávila, prontinha a degustar por quem aparece para finalizar. Paulinho, rapaz que parece ter dificuldade em aceitar doces que se derretem na boca, emendou com estrondo contra o poste e deixou os adeptos novamente incrédulos. Dois minutos volvidos, os mesmos protagonistas, o mesmo desfecho, com a diferença de terem sido as pernas do redes a safarem sobre a linha o golo cantado.

Como não há duas sem três, Porro ressentia-se de excesso de jogos e deixava o relvado para a entrada de Esgaio, numa troca que fez desacelerar a equipa durante cerca de dez minutos e permitiu ao Besiktas respirar e chegar-se à frente. Larin ameaçou a baliza do imperturbável Adan por duas vezes e claramente pela cabeça de muito boa gente passava, com naturalidade, o sentimento de que se uma das oportunidades iniciais tivessem entrado e já o jogo estaria despachado. Dos pensamentos profundos para o relvado, com Pedro Gonçalves a ser empurrado de forma tão desavergonhada que nem o árbitro gazprom foi capaz de ignorar o penalty. O próprio camisola 28 se encarregou de fazer o 1-0 com classe, mas não tanta como a que se veria a seguir: em mais uma explosão de Mateus Nunes, que cresce de partida para partida, a bola chega a Peter Potter que, quase sem sair do lugar, puxa da canhota para a direita e mete em arco junto ao posto. Go-la-ço!

Diz-me coisas bunitas
Diz-me coisas bunitas
Sussurradas ao ouvido com sabor
Chego mais perto, dá me amor
É o caminho mais certo

A equipa estava embalada, as bancadas num frenesim e isso era tudo o que Paulinho queria para vir de fora para dentro, enquadrar-se e rematar de fora da área para o 3-0, celebrado de forma efusiva por tudo e todos, num daqueles momentos que podem ser definidos como “amor” e que tem muito mérito de Amorim na forma como, através do que diz, une os adeptos aos jogadores.

A vantagem ao intervalo sugeria a possibilidade de gerir o resultado e o esforço de alguns jogadores, mas o Leão regressou sem mexidas no onze e à procura de mais golos. A forma como a equipa reagia à perda de bola e a velocidade com que procurava colocá-la na frente, onde o tridente Potter, Sarabia e Paulinho se entende  cada vez melhor, deixava claro que havia ordens para procurar o quatro golo, algo que acabaria por acontecer a cerca de meia hora do final: Matheus Nunes, outra vez, agora abrindo em Matheus Reis, com o lateral a cruzar para a área e Sarabia a não perdoar um corte que ficou curto.

Aí, sim, o Sporting abrandou e o técnico geriu, havendo ainda tempo para Daniel Bragança falhar escandalosamente a manita, para Coates fazer um corte de carrinho mesmo à boss e para os adeptos celebrarem de forma bem audível os golos do Ajax em casa do Dortmund. Com esse resultado, o Sporting fica a depender apenas de si próprio para atingir os oitavos de final da Champions, numa decisão agendada para 24 de Novembro, na recepção aos alemães. E se corre bem?