Entrando a todo o gás na primeira e na segunda parte, o Sporting construiu uma vitória sem mácula sobre um Tondela que nunca deixou de tentar jogar. Entre o brilho da Europa e o sempre ansiado dérbi, o Sporting deu mais uma prova de equipa adulta e só as lágrimas de Palhinha ensombraram um final de tarde repleto de famílias em Alvalade

 

A grande vitória sobre o Dortmund, a meio da semana, obviamente ajudou, mas é querer não ver o óbvio se se tentar dissociar o facto do Sporting-Tondela se iniciar às 18h e a quantidade de crianças e família que se viram, ontem, em Alvalade. Uns pela primeira vez, outros numa fase mais avançada desta aprendizagem verde e branca, todos eles sorridentes e curiosos em relação a tudo o que compõe este quase universo paralelo. E só não terão sido mais porque, vá lá saber-se o motivo, entre gameboxes e convites resultantes da jornada europeia, cerca de 10 mil lugares ficaram vazios, como que recordando o quão importante é uma plataforma onde, por exemplo, os sócios possam colocar à venda o seu lugar anual para determinado jogo.

A propósito de jogo, o Sporting aproveitou o apito inicial para se atirar à bruta ao seu adversário, que apesar de meia dúzia de baixas por Covid e por lesões, lá teve direito a começar a partida com 11 em campo e mais sete suplentes. Um luxo, tendo em conta o que nos foi mostrado de véspera, no Jamor. Matheus Nunes fez inclinar o jogo duas vezes para a esquerda, com aquelas arrancadas tão próprias, mas seria pela direita que o primeiro golo começaria: cruzamento de Esgaio, remate de Paulinho contra um defesa e a bola a sair dos pés de um outro beirão para o acerto de Sarabia.

Estavam decorridos dez minutos e foi como se, com o golo, o Sporting desligasse a ficha. Pouca pressão, pouca profundidade nas laterais, vários erros na decisão e margem para o Tondela começar a espreguiçar-se e a acreditar que podia beliscar o campeão.

Com dois rapazes que sabem bem o que fazer à bola – o “nosso” Rafael Barbosa e Tiago Dantas – e com um Modibo Sagnan a segurar a defesa, o Tondela encontrou tempo e espaço para dois momentos que acordaram de susto as adormecidas bancadas de Alvalade. Acontece que Murillo e Dadashov encontraram pela frente dois intratáveis, Neto e Coates, que com enormes cortes lhes tiraram a ideia de se isolarem e rematarem. Na segunda parte, no lance de maior perigo do Tondela, seria Adán a sacar uma defesa cara a cara, mas se pensam que foram os “cotas” a mandar naquilo tudo, desenganem-se: grande jogo de Gonçalo Inácio (mais um), ontem à esquerda do tridente de centrais.

Claro que,  no balneário, Amorim deve ter tocado todos os despertadores e mais alguns aos ouvidos dos jogadores, que regressaram novamente prontos a encostar o adversário às cordas. A equipa voltou a ter aquela intensidade na reacção à recuperação de bola e passou a procurar a baliza tondelense da forma acertada. E bastaram cinco minutos para chegar o segundo golo: bomba de Sarabia, defesa do redes e Peter Potter a girar a varinha para colocar um adversário no chão e oferecer o golo a Paulinho. Um momento de altruísmo que diz muito sobre o espírito desta equipa e vai ao encontro das palavras de Coates, na antevisão, dizendo que Paulinho podia não marcar, mas trabalhava muito para que a equipa o conseguisse. Pormenores.

Depois, Sarabia, Potter e Nuno Santos tiveram mais golos nos pés, Daniel Bragança deu descanso a Matheus Nunes e tomou conta da batuta com classe, Tiago Tomás percebeu que o avançado do Sporting não tem direito a disputar bolas de carrinho sem ver amarelos ridículos, Nazinho voltou a ser lançado e toda esta dança da felicidade que parece virar normalidade no reino deste Leão conduzido por Amorim, acabou traída pelas lágrimas de Palhinha, face a um problema muscular que o deixa em dúvida para o dérbi que já se antecipou em muitos dos cânticos entoados na bancada.