Com os oitavos garantidos, o Sporting foi a Amsterdão com os olhos no futuro. Da gestão do plantel ao lançamento de jovens, incluindo o juvenil Essugo, Amorim deu continuidade à política de aposta na formação e de dar oportunidades a quem luta por elas. A derrota, essa, acabou por ser natural, frente a um Ajax que apenas fez descansar Tadic

 

João Virgínia, Gonçalo Esteves, Gonçalo Inácio, Ugarte, Daniel Bragança, Tiago Tomás jogaram de início. Depois, entraram Nazinho e Essugo, que passou a ser o mais jovem jogador português a estrear-se nas competições europeias, e, de repente, estamos a falar de oito jogadores com idades entre os 16 e os 22 anos que, ontem, pela primeira vez, entre estreias totais ou primeira titularidade, estiveram debaixo dos holofotes da Champions. Para tentar equilibrar a juventude, havia Neto, Esgaio, Matheus Reis e Nuno Santos, num onze completamente inédito e com habituais titulares, como Adán, Sarabia, Pote, Matheus Nunes ou Paulinho a assistirem à partida no banco.

Temos um projeto a longo prazo e aproveitamos cada minuto para ter esse crescimento“. Amorim havia sido claro na conferência de imprensa de antevisão e passou das palavras aos actos. Perdeu por 4-2, é verdade, e até podia ter sido por um resultado mais desnivelado, ou não, tendo em conta que os três primeiros golos dos holandeses foram verdadeiras prendas de Natal antecipadas, mas, no final, a pergunta que se coloca é se a derrota e o dinheiro imediato que outro resultado traria valem mais do que aquilo que o Sporting pode ter conquistado ontem?

A verdade é que, lá para Fevereiro, voltaremos a jogar na Champions e, quando faltam apurar três cabeças de série, sabemos que Manchester City, Liverpool, Real Madrid e Bayern de Munique são nomes que podem cair-nos na rifa. Por essa altura, o choque emocional que muitos dos miúdos tiveram ontem, estará diluído. Também contaremos com Matheus, que estava em risco de ver amarelo e ficar de fora. E, até lá, sabemos que há segundas linhas com as quais podemos definitivamente contar, seja para a Taça de Portugal, seja para a Taça da Liga, seja para ausências daqueles que queremos que joguem sempre.

Ontem, numa Arena vazia por motivos sanitários, Gonçalo Esteves mostrou ter estaleca para vir a fazer real concorrência a Porro na luta pela lateral direita. Ugarte, um puto com a mania de jogar com as meias quase tão em baixo como o incrível Douglas, é definitivamente opção às ausências de Palhinha. Tabata foi uma boa surpresa no papel de falso 9, tendo como momento alto a assistência para a emenda acrobática de Nuno Santos, no primeiro golo, e a bomba, de primeira, que fez o segundo golo do Sporting, atenuando a diferença no marcador. E, já que falamos na posição 9, parece claro que Amorim não vê em Tiago Tomás um jogador para ocupar essa posição no actual modelo de jogo. Na época passada, quando o menino era a nossa única opção, o Sporting usava e abusava do ataque à profundidade. Actualmente, o técnico prefere um ponta de lança que seja forte nos apoios à transição, o que faz com que mais depressa vejamos Pote, Sarabia ou Tabata a fazer de Paulinho, relegando Tiago Tomás para uma espécie de crise de identidade a pedir trabalho específico.

Depois vieram Nazinho e Essugo. Sem vergonha, sem receio, querendo ter bola e fazer parte de algo a médio/longo prazo e dando seguimento às palavras do treinador quando, há uns oito meses, lançou Essugo na equipa principal: “É uma mensagem para os jovens. Todos vão ter uma oportunidade. O futuro do Sporting passa por aqui“.

As palavras batem certo na passagem aos actos e, também por isso, Amorim tem o grupo consigo, do mais novo ao mais velho. Ontem, essa mistura inédita, não conseguiu impedir um Ajax sem poupanças de fazer quatro golos, mas foi a tempo de, por exemplo, fazer dois golos aos holandeses, coisa rara esta época e que permitiu a esta equipa passar a ser aquela que mais golos marcou com a camisola do Sporting, numa fase de grupos da Champions.

Diz que o futuro se constrói assim, aceitando que é preciso errar para continuar a crescer. E no futuro, muitos dos que ontem estiveram em campo irão contar a filhos e netos, sobre aquela vez quando eram novos e fizeram parte de uma equipa do Sporting que parece apostada em continuar a pintar-nos bonitas páginas na memória.

Can we climb this mountain?
I don’t know
Higher now than ever before
I know we can make it if we take it slow
Let’s take it easy
Easy now, watch it go