Numa equipa carregada de canhotos, foi pelo pé esquerdo de Sarabia que o Leão deu a volta à pantera, numa partida que fica marcada pela estreia a titular do jovem Nazinho e na qual o resultado até peca por escasso

 

Já lá vão três meses de três em três a somar. É verdade que o cântico que nos disse que onde ia um iam todos pertence à época passada e deu lugar ao cantado em loop “dia de jogo”, mas não é menos verdade que este Leão não só soube manter os bons hábitos do passado, como está mais refinado. A realidade que esta equipa conduzida por Amorim oferece aos Sportinguistas e ao futebol português, diz-nos que o campeão nacionais só tem uma derrota nos últimos 48 encontros da I Liga e, para já, leva nove vitórias seguidas no campeonato 21/22.

Nesta realidade (que vai sendo traída por outra transversal à sociedade, um sacana de um vírus que obriga a testes e mais testes e que, ontem, fez com que as bancadas de Alvalade não chegassem a ter 19 mil pessoas a pintá-las), o Sporting é, também, uma equipa capaz de se adaptar às mais diversas realidades. Ontem, sem o castigado e encovidado Paulinho, a estratégia teve que mudar. Sem o jogo de apoios do camisola 21, havia um trio de ataque móvel, composto por Peter Potter, Sarabia e Nuno Santos, cabendo ao espanhol aparecer mais vezes no meio. E demorou algum tempo até que o carrossel começasse a funcionar.

Assim, enquanto o técnico Ruben ia corrigindo as peças para optimizar mais uma voltinha, mais uma viagem, o Boavista de Petit fez aquilo que as equipas de Petit costumam fazer em Alvalade: disputas de bola como se tivessem botas de biqueira de aço e dois gajos capazes de fazer transições directas, neste caso um Sauer tecnicamente evoluído como interior e um Konji pronto a correr como se o fim do mundo o perseguisse. E foi assim que, depois do regressado Coates ter ameaçado de cabeça, o menino Nazinho, em estreia absoluta do lado esquerdo da nossa defesa, viu Adán a dar mais uma lição do que deve ser um redes de equipa grande: no cara a cara com Konji, a mancha perfeita para evitar que os axadrezados se adiantassem no marcador, naquela que seria a primeira e única defesa do redes leonino.

Digamos que essa realidade, a de ter Adán a emendar quando Sebastian deixa algo por limpar, também já é algo a que nos habituámos, mas neste grupo de homens das mais variadas idades há outro extra a que, num passado muito próximo, não nos era familiar: o sentimento de conforto quando as partidas parecem estar emperradas. O redes iraniano do Boavista parecia possuído, quando não era ele era a bola que batia nas pernas de alguém e até houve tempo para Porro, depois de um primeiro ameaço a rasar o poste, mandar uma segunda bomba que meteu a bola lá dentro, festa anulada pelo VAR ao descortinar um fora de jogo no início da jogada. Ah, por falar em VAR, escapou-lhe um penalti descarado sobre Matheus Reis, esse patinho feio que brilha cada vez mais.

Mesmo face a tudo isto, havia tranquilidade em Alvalade, sentimento que se percebeu o porquê de existir assim que começou a segunda parte. Amorim disse a Potter para ser ele a ir ao meio e a baixar, Sarabia e Nuno Santos surgiram preparados para aproveitar as bolas tocadas pela varinha mágica do 28. A estratégia resultou em pleno, primeiro com Nuno Santos a assistir um golaço de classe de Sarabia, depois com o camisola 17 a retribuir a gentileza e a oferecer o golo ao camisola 11.

Em 15 minutos o Sporting decidia a partida e dava tempo para Daniel Bragança entrar e espalhar perfume, para o pequeno grande Nazinho dar o estouro depois de perceber que o ritmo dos crescidos é mais puxado e para Potter ficar de boca aberta depois de mandar para fora o golo que Sarabia lhe ofereceu. Quanto ao espanhol, figura da partida, disse a quem quis ouvir que tenta evoluir diariamente, dar o máximo em cada treino e em cada jogo. “Tenho muitas coisas a aprender, a melhorar. Gosto de viver o presente. Hoje estou aqui, a desfrutar do futebol, de jogar, de estarmos em todas as competições. Essa é “mi realidad” e é nisso que me foco, não no próximo ano”.

Venha o Penalfiel!

 

Yo no necesito hablar
Para expresar una emoción
Me basta solo con mirar
Pero sí necesito amar
Que es mi única ambición
Y es lo que necesito
¿Qué puedo hacer por mejorar mi mundo que es mi realidad?